Folhas ao vento

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Com preço acessível e distribuição massiva, livro missionário leva esperança e qualidade de vida a milhões de pessoas
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Os adventistas sul-americanos criaram, há alguns anos, um incentivo forte a ações de evangelismo mais ostensivo. Desses que motivam as pessoas a sair da comodidade para entrar em contato com amigos, vizinhos e parentes e levar uma mensagem genuína de esperança baseada na Bíblia.

A distribuição em massa do chamado “livro missionário” não foi criada para modificar os baixos índices de leitura de países como o Brasil (onde cada pessoa lê em média menos de dois livros por ano). Nem para se ganhar dinheiro, pois os exemplares são comprados a preço de custo pelos membros e doados para a comunidade. A principal razão para esse movimento é a transformação de quem participa da distribuição e de quem é presenteado. O duplo efeito da missão.

Desde 2008, sistematicamente, o projeto Impacto Esperança incentiva a entrega de livros com pouco mais de cem páginas e escritos em linguagem acessível. É importante notar, no entanto, que em 2006 e 2007 já existia o livro missionário, mas não a ação de distribuição massiva coordenada (Clique, abaixo, e veja ampliado o quadro “O livro missionário ano a ano”).

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Um exemplo da força da integração é o livro A Grande Esperança, que foi ­distribuído mundialmente há três anos. Em 2012 e 2013, os adventistas deixaram em oito países ­sul-americanos mais de 50 milhões de exemplares da obra adaptada do clássico de Ellen White, O Grande Conflito.

Empenho infantil

A campanha tem engajado membros de várias idades. É o caso de um menino de dez anos que mora em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Ezequiel Antonio Sabala teve contato com o projeto de distribuição em uma escola adventista de sua cidade. Foi além do que se poderia esperar de um pré-adolescente. Resolveu trabalhar para comprar livros e evangelizar sua vizinhança.

Ezequiel limpou banheiros, vendeu gelatina e economizou dinheiro por seis meses, o suficiente para adquirir 400 exemplares do livro a um custo de 1.400 bolivianos (cerca de 200 dólares). “A professora disse que quem leva pessoas a Cristo ganha estrelas na coroa”, lembrou. A distribuição, ocorrida em 2013, contou com a participação do pai e alguns resultados inusitados. Um deles é que uma senhora recebeu o livro das mãos deles no bairro San Juán. Curiosa, foi até a igreja adventista, começou a estudar a Bíblia e depois de quatro meses foi batizada.

Centro de distribuição

O pastor Erton Köhler, presidente da Igreja Adventista para a América do Sul, explica que a entrega do livro é diferente de muitos tipos de folhetos, jornais ou até revistas, que se tornaram populares no meio religioso e que muitas pessoas rejeitam ou jogam fora tão logo recebem. “Um livro tem um apelo cultural, é algo de valor e também demonstra valorização da pessoa que o recebe”, pondera. “Isso tem motivado a igreja a distribuí-lo.”

Um exemplo vem de São Paulo, maior cidade sul-americana. Lá, o microempresário adventista Valdir Dias, conhecido como Cascavel, morador da Zona Sul da cidade, criou sem perceber um verdadeiro centro de distribuição do livro A Única Esperança – que foi entregue em 2014 e cuja tiragem passa de 20 milhões de exemplares.

Na sua história, estabeleceu-se uma interessante rede de contatos. Ele ­deixou vários livros na loja de utilidades domésticas de uma prima que não é adventista. Dias chegou a comprar até 400 livros e “estocar” no comércio da prima. Nesse estabelecimento, um dos clientes, um motorista de ônibus fretado, foi presentado com um exemplar. Ele leu, gostou e resolveu pedir mais. Fez uma “encomenda” maior e, com vários livros em mãos, deixou um exemplar em cada poltrona dos passageiros.

Mas a história não acaba aí. Um dos passageiros, uma professora universitária, encontrou um exemplar de A Única Esperança e foi atrás do motorista para conseguir mais livros. Com os exemplares, distribuiu para colegas de universidades, e uma das colegas quis mais para entregar à sua rede de amigos. Não se sabe se algum deles frequenta uma congregação adventista, mas é certo que todas essas pessoas estão lendo e divulgando a publicação e sendo, de alguma maneira, impactadas com o conteúdo.

Tudo fez sentido

Por sua vez, a professora Rosalba Tavares, que mora em Canoas, RS, não somente leu o livro A Única Esperança, como foi beneficiada espiritualmente a ponto de ser batizada na Igreja Adventista.

Desde 2010, ela sentia a necessidade de se encontrar espiritualmente e empreendeu uma busca sincera por isso. Quando se mudou de casa, em 2012, passou a assistir à programação da TV Novo Tempo e a apreciou muito. “Considerei interessante a maneira como as dúvidas são tiradas a respeito da Bíblia”, afirma Rosalba.

Um dia, a professora da rede municipal de ensino se deparou, ao entrar no carro do filho, com um livro que praticamente brilhou diante de seus olhos. Era um exemplar de A Única Esperança. “Eu peguei o livro e perguntei ao meu filho: ‘Que livro é esse? Onde você o conseguiu?’” Com a leitura, ela chegou até a Igreja Adventista e, por providência, encontrou-se com um membro que mora próximo à sua casa.

Rosalba não tem dúvidas de que o livro foi importante para sua decisão pelo batismo, realizado em janeiro passado em Canoas. Ler sobre histórias de pessoas que tiveram uma mudança drástica no curso de sua vida foi um apoio importante para ela. Hoje, Rosalba frequenta a igreja e luta para crescer espiritualmente. Os desafios são grandes, mas ela sabe que vai poder contar com o apoio de Deus e se lembrar das histórias de transformação descritas no livro A Única Esperança.

Bom para todos

A cada ano, as ações de impacto relacionadas ao livro missionário envolvem atividades solidárias, culturais e espirituais que dão uma dimensão maior à distribuição da obra. E isso cria uma motivação cada vez maior. Os adventistas levam os livros dentro de seus carros e os distribuem por meio de iniciativas diversas, via motos, bicicletas, barcos; reúnem-se em estádios e praças; e vão a metrópoles e cidades com menos de mil habitantes.

Na avaliação do pastor Köhler, alguns segredos têm sido fundamentais para o êxito dessa campanha. “O projeto permanece forte porque se repete a cada ano”, avalia. “Não é fácil ajudar a igreja a formar um hábito. Muitas vezes criamos ideias ou projetos que mudam com frequência e não chegam a se estabelecer na vida da igreja. O projeto de distribuição dos livros tem se mantido forte nos últimos sete anos e isso o consolidou. Por outro lado, manter o projeto forte não é engessá-lo; por isso, procuramos modernizar e atualizar a abordagem e o conteúdo dele a cada ano.”

Para o líder da igreja, outro fator muito importante tem sido o valor do livro, mantido a 1 real desde o início da campanha, o que torna possível que os membros comprem grandes quantidades. E ele acrescenta que os benefícios da distribuição são percebidos na vida cotidiana dos membros. “Como resultado deste projeto, tenho visto um despertar missionário na igreja, mais gente testemunhando, a igreja perdendo o medo ou a vergonha de ir às ruas, e isso é muito positivo”, acrescenta. “Tenho visto membros aproveitando toda oportunidade para entregar livros e, com isso, assumir sua fé. Recebo sempre fotos de autoridades e personalidades com nosso material. Quando elas são encontradas por nossos membros, a primeira coisa que eles fazem é entregar o livro. Com esse envolvimento, vejo a igreja mais dinâmica, unida e integrada.”

Perspectivas

Para os próximos anos, enquanto Cristo não volta, o projeto do livro missionário deve continuar e a estratégia será a de manter importantes ações regionais, especialmente em cidades sem presença adventista, ou mesmo combinadas com outros tipos de ações de caráter mais social e comunitário.

Programa de lançamento do livro missionário no Unasp, organizado pela Casa Publicadora Brasileira,   trouxe encenações sobre a história da imprensa e o papel da literatura para a missão. Foto: William de Moraes
Programa de lançamento do livro missionário no Unasp, organizado pela Casa Publicadora Brasileira, trouxe encenações sobre a história da imprensa e o papel da literatura para a missão. Foto: William de Moraes

Em 2015, o livro missionário se chamará Viva com Esperança. Organizado pelo pastor Mark Finley e pelo médico cardiologista Peter Landless, ele tem forte ênfase na saúde preventiva sob a ótica da Bíblia. “Este não é apenas um livro sobre saúde, mas uma obra que trata, em cada capítulo, de um estilo de vida fundamentado nas Escrituras”, afirmou Finley durante o programa de lançamento do livro missionário no Unasp, campus São Paulo, no dia 9 de dezembro. Contando com a presença de vários líderes, o programa foi repleto de efeitos especiais e encenações que resgataram a história da imprensa e o papel dela para a propagação do cristianismo.

Unindo conhecimentos científicos às prescrições bíblicas para uma vida saudável, a obra apresenta vários temas sobre saúde preventiva e enfermidades ameaçadoras mundialmente, além de questões atuais como obesidade, diabetes, vícios, resiliência, depressão, estresse e abuso de drogas. E relaciona a questão do cuidado da saúde com a espiritualidade e a necessidade de buscar a Deus. Aborda também, ainda que não sistematicamente, o conceito de oito remédios naturais importantes na prevenção de doenças.

Somente sua primeira encomenda na América do Sul foi de 21,7 milhões de exemplares. O livro, editorado pela Casa Publicadora Brasileira, também será usado em outras partes do mundo para campanhas evangelísticas.

Abrindo portas

Mesmo no Brasil, considerado um país religioso, existem muitos desafios para se atingir determinados grupos. Os últimos três censos do IBGE vêm mostrando, por exemplo, um gradativo aumento de pessoas que se declaram “sem religião”. Em 1991, o percentual era de 4,8%. Em 2000, esse índice subiu para 7,3%, chegando a 8% no censo de 2010. A estatística engloba um grupo de aproximadamente 15 milhões de brasileiros. A mensagem de saúde pode ser, nesse contexto, um meio de aproximação com esse público, segundo Mark Finley.

Para ampliar as possibilidades de influência sobre os leitores, outros serviços vão acompanhar a distribuição da literatura. Este é um dos diferenciais desta nova etapa da campanha. Conforme explica o pastor Almir Marroni, vice-presidente da Igreja Adventista na América do Sul, serão organizadas feiras de saúde e diversas ações voltadas para o incentivo à prática de exercícios físicos, como corridas, caminhadas e passeios ciclísticos. O projeto ­Mexa-se Pela Vida, criado com o objetivo de ajudar na prevenção de problemas como depressão, estresse, obesidade, diabetes e outras doenças ligadas à síndrome metabólica, será um dos meios usados para envolver a comunidade e formar relacionamentos com base no interesse comum pela saúde.

A campanha não pára por aí. “A igreja na América do Sul também está preparando materiais para que as comunidades adventistas locais realizem séries evangelísticas por meio da saúde, explorando cada um dos oito remédios da natureza”, informa ­Marroni. Iniciativa que sugere uma continuidade para o evangelismo iniciado a partir da entrega do livro.

Outros materiais que tratam sobre estilo de vida, como a coleção Gincana da Saúde, recém-lançada pela Casa Publicadora Brasileira, também poderão ser usados a fim de alcançar diferentes faixas etárias e variados lugares.

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O mundo virtual não vai ficar de fora. A ideia é que a campanha também “viralize” na internet, como aconteceu desde a distribuição do livro A Grande Esperança, quando os internautas passaram a ter acesso ao conteúdo em formato digital e a compartilhar com os amigos por meio das redes sociais. Em 2012 e 2013 foram estruturados bons sites com várias informações acerca dos livros. Antes disso, no entanto, já ocorriam iniciativas para distribuir de maneira digital o conteúdo. Na versão do site www.aunicaesperanca.com.br deste ano, foi incluída uma forma maior de interação. Além de ler e compartilhar o teor do livro, o internauta ainda pode contar um pouco da sua história pessoal e torná-la pública a todos, já que a obra de Alejandro Bullón é baseada na experiência de pessoas que tiveram um encontro espiritual com Deus em circunstâncias difíceis da vida e se sentiram alcançadas pelo amor divino. Ou seja, ele lê sobre como Deus agiu em favor de outras pessoas e tem a oportunidade de dizer como foi a sua vivência.

O alcance do livro missionário é, portanto, maior do que se pode imaginar. Vai além das fronteiras do tradicional formato impresso. Nos escritos de Ellen White, a distribuição de literatura denominacional é comparada a folhas de outono espalhadas por vários lugares. De 2015 em diante, essas folhas devem se espalhar com uma rapidez impressionante e dar nova vida e perspectivas a muita gente ainda. [Reportagem: Felipe Lemos/Com colaboração de Márcio Tonetti]

Felipe Lemos é jornalista e gerente da assessoria de comunicação da sede sul-americana da Igreja Adventista

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Taffarel Toso.