Perseguição religiosa na Nigéria já deixou pelo menos seis adventistas mortos

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Ataques de extremistas islâmicos também obrigaram o abandono de 16 templos adventistas. Líderes da igreja na região pedem donativos para ajudar vítimas da perseguição religiosa

Seis adventistas foram mortos em ataques de extremistas em Maiduguri, capital do estado de Borno. As mortes foram confirmadas por um pastor que escapou da área de conflito. Imagem: Amber Sarno / Reprodução ANN
Seis adventistas foram mortos em ataques de extremistas em Maiduguri, capital do estado de Borno. As mortes foram confirmadas por um pastor que escapou da área de conflito. Imagem: Amber Sarno / Reprodução ANN
Os ataques de extremistas islâmicos que vêm sendo registrados na Nigéria já deixaram pelo menos seis adventistas mortos. Por causa da perseguição religiosa, 16 templos da Igreja Adventista também tiveram que ser abandonados e estão fechados para cultos. A informação foi divulgada na última sexta-feira, 6 de fevereiro, pela Adventist Review.

Segundo a reportagem, as mortes foram confirmadas por um pastor que escapou dos ataques. Segundo o informante, que teve a identidade preservada pelo periódico, algumas das vítimas foram sequestradas e posteriormente assassinadas. Outras teriam sido mortas a tiros durante os ataques do Boko Haram nos subúrbios da cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno.

Futuro em jogo

A situação vivida pelos cristãos na Nigéria – que colocou o país entre os 10 mais hostis ao cristianismo em 2014, segundo relatório divulgado recentemente pela organização Portas Abertas –  tem se agravado no contexto que antecede a eleição presidencial. A nação é palco de uma disputa acirrada entre um cristão e um muçulmano. Porém, tanto o atual presidente, Goodluck Jonathan, quanto o candidato da oposição, Muhammadu Buhari, prometem neutralizar as milícias do Boko Haram nos próximos anos. Em resposta, o grupo terrorista intensificou os atentados e o clima de tensão aumentou. Há seis anos, a região nordeste da Nigéria é controlada pelos insurgentes, que pretendem implantar o Estado Islâmico. As ações dos extremistas já deixaram milhares de mortos.

Diante da escalada de violência das últimas semanas, a comissão eleitoral adiou as eleições presidenciais, que estavam programadas para o dia 14 de fevereiro. Por questão de segurança, o pleito deve ser realizado no dia 28 de março. As eleições para os 36 governos estaduais também foram remarcadas para 11 de abril.

Ambos os pleitos acontecem sábado. Por essa razão, segundo noticiou a Adventist Review, os adventistas não irão votar. Desde o ano passado, líderes da Igreja Adventista reivindicam a mudança de data. O presidente mundial dos adventistas, pastor Ted Wilson, chegou a pedir pessoalmente ao presidente Jonathan que o governo evite realizar eleições, bem como exames escolares às sextas-feiras, sábados e domingos, permitindo que cristãos, muçulmanos e simpatizantes de outras religiões não sejam prejudicados. Mas nada foi feito até agora.

Adventistas na Nigéria

Cerca de 220.000 adventistas vivem no país mais populoso da África, cujo número de habitantes chega a 177 milhões. Nos últimos dias, milhares de fieis que moram em cidades e aldeias da região mais afetada pelos conflitos precisaram fugir. Alguns deles foram atacados enquanto tentavam escapar para outras cidades e estados, bem como para países vizinhos, a exemplo de Camarões.

Membros da igreja que não puderam deixar a região, como foi o caso de muitos idosos, foram forçados a adotar o Islã, segundou informou Uzoma Nwosi, diretor de comunicação da sede administrativa adventista para esta parte do continente. Ainda não há confirmação se alguns adventistas também teriam sido obrigados a engrossar as fileiras do Boko Haram, mas “relatórios da região indicam que os homens jovens capturados pelo grupo foram forçados a se tornar membros”, conforme publicou a revista.

Apenas um pastor permanece nessa região, prestando atendimento nos estados de Adamawa, Bauchi, Borno, Gombe e Taraba. “A vida tem sido difícil para ele, mas Deus o tem ajudado “, contou Nwosi.

Solidariedade

Membros que moram em regiões do país menos afetadas pela intolerância religiosa abriram as portas de suas casas, acolhendo os fieis perseguidos. “Essas famílias receberam adventistas, não-adventistas e até mesmo muçulmanos, e têm fornecido alimentos, roupas, alojamento e companheirismo”, explicou Nwosi.

O edifício do escritório administrativo adventista em Buruku também hospeda muitos desses fugitivos. Eles vêm sendo assistidos com roupas e comida, além de ter acesso a atendimento médico gratuito prestado por voluntários. Ainda assim, uma das necessidades imediatas é conseguir mais doações de itens como colchões, roupas de cama, artigos de higiene e limpeza, bem como de utensílios de cozinha, a exemplo de fogões.

A situação de muitos adventistas que fugiram para Camarões ou que estão vivendo em montanhas e cavernas é mais preocupante, pois eles estão sofrendo com a falta de alimento, de cuidados com a saúde e com a insegurança.

Ajuda internacional

Os esforços da igreja, de organizações não-governamentais e de voluntários em abrigar as vítimas da perseguição religiosa na Nigéria consistem numa solução temporária. Por isso, a liderança local vem considerando o que fazer a seguir, pois muitas das pessoas deslocadas não poderão voltar para suas casas, ainda que o governo recupere o controle dessas comunidades, já que muitas residências foram incendiadas e destruídas completamente. Entre esses grupos, existem crianças. Um dos desafios será matricular esses órfãos em escolas e encontrar famílias que possam adotá-las.

Uzoma Nwosi salientou que quaisquer doações em dinheiro ou suprimentos são bem-vindos. Ele apela para que indivíduos e organizações de cunho filantrópico contribuam. “Qualquer ajuda será importante para essas pessoas indefesas”, enfatizou.

Além das doações em dinheiro, que podem ser feitas por meio da sede mundial adventista, a Igreja na região também faz um apelo para que fieis em todo o mundo orem pelo futuro da Nigéria, especialmente nesse contexto de eleições nacionais e estaduais, quando serão decididos os rumos da nação para os próximos anos.

“Pedimos a todos para se unir em oração para que Deus intervenha, pois é quando temos paz e segurança que podemos pregar livremente o evangelho”, conclamou Nwosi. [Márcio Tonetti, equipe RA / Com informações da Adventist Review, G1 e O Globo]

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.