Pesquisa inédita revela detalhes da relação da escritora e de seus familiares com o Brasil

No Brasil, existem 118 títulos de sua autoria, sendo o português a segunda língua em que seus escritos foram mais traduzidos (atrás apenas do espanhol). Aliás, seu livro mais conhecido e traduzido no mundo, Steps to Christ (1892), foi o primeiro livro de Ellen White traduzido para a nossa língua[1]. Apenas três anos depois do lançamento dessa obra nos Estados Unidos, o material foi traduzido pelo imigrante recém-converso ao adventismo, Guilherme Stein Jr[2].

Tendo isso em vista, pode parecer surpreendente o fato de que ninguém menos que José Bates se converteu no Brasil em 1824, quando ainda era marinheiro, por ocasião de suas viagens comerciais a bordo do Empress. Assim ele escreveu em The Autobiography of Elder Joseph Bates (Steam Press, 1868, p.193): “Em meu contato entre essas pessoas, que eram todas católicas, não achei ninguém para conversar sobre religião. […] Sentia um forte desejo de encontrar algum lugar para meditação e retiro para libertar minha alma e dar vazão para meus sentimentos interiores e tinha a impressão de que, se pudesse penetrar na densa floresta, poderia em certa medida encontrar alívio. Uma oportunidade se abriu para mim. Com a companhia de minha Bíblia, saí da cidade e segui a praia até encontrar uma mata virgem onde pudesse entrar. Ali desfrutei de liberdade em oração além de qualquer coisa que já havia experimentado antes. Foi de fato um lugar celestial com Jesus Cristo. Quando meus negócios permitiam, costumava gastar a tarde em retiro em algum lugar nessas matas; e as vezes por temer répteis geralmente subia em uma grande árvore, acomodando-me em segurança num dos seus galhos, desfrutando da mais preciosa ocasião em ler as Escrituras, cantando, orando e louvando ao Senhor.”
A família White deve ter lido sobre os brasileiros e seus hábitos através do diário de Bates. Afinal, desde aproximadamente 1844, eles eram companheiros. No diário é descrito o costume popular de “malhação do Judas”, a fabricação de farinha de mandioca e os malefícios do hábito do consumo da pinga. Em 1846, já aposentado da marinha, Bates aceitou o dom profético de Ellen, sendo companheiro do casal White nos primeiros tempos do adventismo.
Ellen White não concluiu seus estudos formais e não compreendia outras línguas além do inglês. No entanto, isso não diminuiu seu interesse e preocupação com o ministério além-mar, onde a mensagem do advento era desconhecida, chegando oficialmente na Europa na década de 1870 através de John Nevins Andrews. Na Alemanha, em outubro de 1887, teve contato pessoal com duas famílias, Lindermann e Doerner[3], que migraram posteriormente para o Brasil, já adventistas, onde se estabeleceram no Sul do país.

Ele foi importante figura da igreja no Brasil, trabalhando inclusive como gerente da Casa Publicadora Brasileira. Frederick W. Spies está sepultado no cemitério de Vila Assunção em Santo André, São Paulo. Um detalhe interessante é que Spies, John Lipke, Augusto Pages e Guilherme Stein Jr. trocaram mais de 50 cartas com W. C. White, filho da pioneira, entre 1901 e 1929 em Santa Helena, Califórnia.
James Edson White, o outro filho do casal, apoiou o trabalho de evangelização dos negros no sul dos Estados Unidos com a impressão da Cartilha Evangélica, traduzida para o português em 1898. Esse livro, uma das primeiras cartilhas protestantes de alfabetização no Brasil, foi impresso nos Estados Unidos e vendido pelos colportores nacionais antes do estabelecimento da Casa Publicadora Brasileira.
O neto de Ellen, Arthur L. White (1907-1991), foi secretário do White Estate durante 41 anos e esteve no Brasil duas vezes (1952 e 1962), promovendo o legado da avó.

Elder Hosokawa, mestre pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, é coordenador do curso de História do Unasp, campus Engenheiro Coelho. Fabio Augusto Darius é doutor pela Escola Superior de Teologia (EST) e atua como professor do curso de História no Unasp, campus Engenheiro Coelho
[1] Traduzido para 150 línguas, Steps to Christ é considerado o décimo quarto livro com maior tiragem no mundo, acumulando 60 milhões de exemplares. [2] STEIN Jr., Guilherme. A voice from Brazil. The Home Missionary. Julho, 1895, p. 135. [3] DELAFIELD, D. A. Ellen G. White in Europe. Washington, D. C.: Review and Herald Publishing Association, 1975, p. 282. Lindermann e Doerner são as famílias pioneiras da IASD na Alemanha (1870) e no interior do Rio Grande do Sul (1896), ainda no final do século 19. GRAF, Huldreich H. Travels in Rio Grande do Sul. The Missionary Magazine. Junho, 1896, p. 239 e 240. [4] AAMODT, T. D. (Ed.) Ellen G. White: American Prophet. New York: Oxford University Press, 2014, p. 149. [5] WHITE, W.C. At the Iowa and Kansas Camp-Meetings. Advent Review and Sabbath Herald. 6 de janeiro 6, 1910, p. 9. [6] Uma das primeiras iniciativas do poder público em homenagem à pioneira adventista ocorreu em 1999, na capital paranaense. No bairro do Ahú, um jardinete recebeu o nome dela. Em 8 de abril de 2013, em Franca (SP) um logradouro também foi inaugurado em homenagem a Ellen White. Outro fato recente foi o decreto municipal nº 10.734, assinado em 9 de junho de 2014, na capital mineira, que atribuiu o nome da escritora a uma praça no bairro Solar do Barreiro. Vale lembrar ainda que Ellen figura na galeria de retratos da Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura da Paz (Umapaz), no Ibirapuera, na capital paulista. No dia 20 de dezembro de 2013, a escritora foi reconhecida como vanguardista no discurso sobre saúde e sustentabilidade.VEJA A GALERIA COM OUTRAS IMAGENS HISTÓRICAS
Para saber +
Entre os dias 24 e 27 de agosto, a 4ª Semana de História do Unasp, campus Engenheiro Coelho, vai tratar sobre o contexto histórico-teológico de Ellen White, apresentando pesquisas inéditas sobre a relação da pioneira com o Brasil.
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.