Doença emocional é falta de fé?

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Palestras de especialistas renomados ajudam a compreender a relação entre espiritualidade e saúde emocional
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David Williams, da Universidade Harvard, apresentou trabalhos científicos que mostram a relação entre corpo e mente. Créditos da imagem: Michelson Borges

 

Muitas vezes, o tabu e os preconceitos são piores que as doenças. Essa conclusão foi unânime entre os palestrantes que falaram no segundo e no terceiro dias do Health Summit, que reuniu nos dias 13 a 17 de janeiro, em Orlando, Flórida (EUA), mais de 200 líderes de saúde da igreja adventista para discutir sobre saúde emocional. “Infelizmente, as pessoas gostam de rotular que problemas com a saúde emocional são decorrentes da falta de experiência e amadurecimento espiritual, o que é um grande erro. Problemas de saúde emocional decorrem de vários fatores (bioquímicos, genéticos, sociais, familiares, etc.), e muitas pessoas não tiveram uma formação familiar ou social de modo a desenvolver habilidades de lidar com suas emoções. Rotular é a maneira mais fácil de esconder nossos próprios problemas e também de nos eximir da responsabilidade de cuidar dos outros”, diz o Dr. Marcello Niek Leal, diretor do Departamento de Saúde da Divisão Sul-Americana (DSA) e um dos organizadores do evento.

Segundo Niek, quando se fala em saúde emocional, é preciso lembrar que os problemas se concentram em três grandes áreas: (1) equilíbrio emocional (como as pessoas reagem nas situações de trabalho, na família, na igreja, com os amigos e nos relacionamentos), (2) hábitos e vícios (de que maneira o condicionamento emocional nos constrói ou destrói, e como as pessoas desenvolvem ou perdem a habilidade de gerenciar suas emoções), e (3) trauma e resiliência (como as pessoas reagem diante de situações adversas de alto impacto, como catástrofes, abusos, violência individual e coletiva).

Na perspectiva cristã, o enfrentamento desses problemas só é possível com a restauração da condição integral de saúde no ser humano. “Mente, corpo e espírito precisam estar em harmonia e equilíbrio para que haja a verdadeira saúde”, explica Niek. “Contudo, é importante destacar que esse equilíbrio não vem simplesmente de meditações ou do controle pessoal, mas, sim, da verdadeira experiência pessoal com Jesus Cristo.”

Na quinta-feira, 14, especialistas altamente qualificados discorreram sobre a saúde emocional sob diferentes perspectivas, porém, todas com sólida sustentação científica. Foi uma oportunidade para que os participantes pudessem se atualizar nos conceitos mais modernos da ciência, sempre vinculados à visão espiritual.

O Dr. David Williams, professor na Universidade Harvard, apresentou palestra sobre as sete grandes lições que os adventistas podem aprender dos estudos científicos, e elucidou várias questões técnicas sobre saúde emocional. Foram apresentados também muitos trabalhos científicos que mostram a relação entre corpo e mente, com destaque para a visão integral de saúde. Williams assegura que o envolvimento religioso pode ter efeito positivo ou negativo na vida do indivíduo, e que “isso dependerá da forma como ele desenvolve a experiência religiosa”. Outro ponto destacado pelo pesquisador foi a intolerância e, consequentemente, o preconceito e discriminação que dela emergem e que afetam de forma importante a saúde física e mental.

Dr. Harold Koenig fala ao participantes por videoconferência. Créditos da imagem: Michelson Borges
Dr. Harold Koenig fala aos participantes por videoconferência. Créditos da imagem: Michelson Borges

Um ponto alto do dia foi a palestra do Dr. Harold Koenig, renomado estudioso da relação entre espiritualidade e saúde. Koenig trabalha na Universidade Duke e apresentou várias evidências científicas atuais dos efeitos positivos de uma vida espiritual relevante sobre a saúde, e destacou os últimos avanços dos estudos neurofuncionais nessa área. A coletânea de estudos apresentados cobriu múltiplos aspectos desse tema, com especial ênfase nos estudos em neuroanatomia funcional, que trazem evidências iniciais, objetivas e mensuráveis a respeito dessa associação.

Ficou claro que doença emocional não significa necessariamente falta de fé ou de comunhão com Deus, mas que a espiritualidade/religiosidade sadia pode ser grande aliada na manutenção da saúde emocional.

MICHELSON BORGES, enviado especial, é editor da revista Vida e Saúde

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.