Achismo

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Toda novidade que é fruto apenas de opinião pessoal representa um dano irreparável

Discussões sobre temas polêmicos nas redes sociais são sempre intensas. Um desses debates me chamou a atenção, pois falava sobre frequência ao cinema, tema que provoca fortes reações. Entre as opiniões, um jovem adventista escreveu: “Se a igreja defender que não devo ir ao cinema, saio dela e vou seguir meu caminho.” Fiquei impactado, pois ele estava assumindo que, entre a orientação da igreja e suas próprias opiniões, ficaria com a segunda opção.

Esta é a essência do “achismo”: construir as próprias verdades, com base em sentimentos como “eu acho”, “eu gosto”, “me sinto bem assim”, “cada um tem sua verdade”. Indivíduos que agem desse modo muitas vezes têm conceitos bem elaborados, atraem pessoas inteligentes e polêmicas ao seu redor, mas se tornam cada vez mais difíceis de ser alcançados pela Palavra do Senhor.

Não podemos abrir as portas para uma religião superficial, que cada vez argumenta mais e conhece menos, que busca raciocínios mais interessantes ou convincentes, quando necessita de maior intensidade e profundidade no estudo da Palavra de Deus. Afinal, essa é a descrição da igreja de Laodiceia, que se diz rica e abastada, quando na verdade é infeliz, miserável, pobre, cega e nua (Ap 3:17).

Nestes dias pós-modernos, em que a tendência é questionar, duvidar e argumentar, precisamos de mais fidelidade. O chamado de Deus é claro: “Devemos escolher o direito, porque é direito, e com Deus deixar as consequências. A homens de princípios, fé e ousadia, o mundo deve as grandes reformas. Por tais homens tem que ser levada avante a obra de reforma para este tempo” (Ellen White, O Grande Conflito, p. 460).

Sem dúvida, nossa mensagem precisa ser bíblica, profunda e lógica. Ninguém crerá numa mensagem sem fundamento e relevância para nossos dias. Não podemos dar respostas do século 19 a perguntas do século 21. A questão tem que ver com o tipo de lógica que vamos adotar: pessoal ou bíblica? Vamos usar o “achismo” como base da verdade pessoal ou cavaremos mais fundo na Bíblia e nos escritos de Ellen White em busca da vontade de Deus?

Outro efeito colateral do achismo é a constante busca pelas novidades que possam suprir o vazio espiritual. Não há problema com o que é novo, pois novos tempos exigem novos métodos. A crise se revela quando as novidades buscam apenas a satisfação pessoal. Isso aparece em novas formas de culto, novo formato de igreja, aparência pessoal mais contemporânea, estilo de louvor mais forte, estilo de vida mais aberto, e a lista poderia continuar… Toda busca pelo novo com base na vontade de Deus e em um estudo profundo de sua Palavra é bem-vinda. Nossa oração precisa ser, como sugere C. S. Lewis, não para que Deus faça nossa vontade, mas para que nos ajustemos à vontade dele.

A mensagem bíblica nem sempre segue a lógica da argumentação humana. Se Abraão usasse o “achismo”, não teria colocado Isaque sobre o altar. Se Noé tivesse a mesma postura, nunca teria construído a arca. Se Jesus seguisse a nossa lógica, não teria vindo morrer por pecadores que o rejeitaram. O Senhor precisa de filhos fiéis, capazes de comprometer sua vida com a mensagem inspirada e não com uma verdade personalizada. “Duvide de suas dúvidas antes de duvidar de suas crenças” é o conselho do escritor cristão Max Lucado para quem precisa reajustar seu foco espiritual.

Estamos tremendamente expostos aos riscos do “achismo”. Muitas de nossas discussões sobre temas teológicos, eclesiológicos e de crescimento espiritual têm sido feitas sem a Bíblia e os escritos de Ellen White. Usamos grandes pensadores para defender uma opinião humana, mas não nos aprofundamos na revelação em busca da orientação divina. Nossa única segurança está na fidelidade à Palavra.

Pouco antes da volta de Jesus, as investidas de Satanás serão intensas e sutis (ver Ellen White, O Grande Conflito, p. 624). Como vamos reconhecer seus enganos se procurarmos enfrentar questões espirituais apenas com opiniões pessoais?

ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.