Pequenos obesos

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Prevenir o sobrepeso infantil é desafio redobrado em contexto de quarentena e de excesso de exposição às telas

Talita Castelão
Foto: Adobe Stock

Em tempos de pandemia, parece que não tem jeito: as crianças passam mais tempo no sofá vendo TV, jogando videogame, acessando as mídias sociais ou fazendo qualquer outra coisa com seus tablets e celulares. Isso não é nada animador quando pensamos em termos de saúde mental, mas também pode trazer grandes danos à saúde física deles, pois quando se tem hábitos sedentários há diminuição no gasto calórico diário e o resultado pode ser preocupante.

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Segundo o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde, uma em cada três crianças brasileiras está acima do peso. Sabemos que os hábitos alimentares e a diminuição da atividade física são os fatores que mais influenciam esses dados. Essa tendência faz com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) acredite que, nos próximos cinco anos, o número de crianças obesas ao redor do mundo chegará a 75 milhões. Resultado: essas crianças poderão desenvolver problemas de saúde como colesterol alto, diabetes, doenças cardiovasculares e problemas nos ossos.

A associação entre o tempo gasto assistindo TV e a prevalência da obesidade infantil já foi comprovada em diversos estudos científicos. Mas um estudo publicado na revista norte-americana de epidemiologia, em fevereiro de 2019, relacionou o consumo de TV à falta de atividade física e o sobrepeso na infância com a obesidade no curso da vida. Em outras palavras, as horas vagas que a criança passa em frente às telas podem significar uma vida inteira de luta contra a balança. De fato, a pesquisa demonstrou que assistir quatro horas diárias de TV quando se tem entre 3 e 5 anos de idade aumenta em 25% a chance de ter sobrepeso na fase adulta. Esse índice sobe para 61% se esse mesmo mau hábito for cultivado entre os 5 e 10 anos de idade. Agora, quando se acrescenta a esse quadro a variável de baixo nível de atividade física, esses valores sobem para 82% e 441%, respectivamente.

Outro problema é comer em frente à TV. Quando a criança divide o momento da alimentação com outra atividade, ela não percebe quanto está comendo, não mastiga o suficiente e tem sua percepção de saciedade comprometida. Além disso, as propagandas para o público infantojuvenil são recheadas de lanches e guloseimas nada nutritivos e muito calóricos. E são esses itens que os pequenos querem provar no momento de ócio.

O ideal é que a atividade física seja introduzida para a criança de forma lúdica e prazerosa, com duração diária de pelo menos uma hora

De modo geral, crianças com sobrepeso são menos hábeis nos esportes e se cansam com facilidade. Isso pode gerar estigmatização, sensação de fracasso, prejuízo na autoestima e crença na sua inferioridade, especialmente se chegarem a vivenciar o bullying. É por isso que o movimento precisa ser incentivado. Brincadeiras de esconde-esconde, vivo-morto, amarelinha, pular corda ou mesmo ajudar nas tarefas domésticas são atividades possíveis de ser feitas sem sair de casa.

O ideal é que a atividade física seja introduzida para a criança de forma lúdica e prazerosa, com duração diária de pelo menos uma hora. Obviamente, quanto mais tempo, melhor. Vale lembrar que a adesão dos filhos tende a aumentar quando os pais se envolvem nesses “momentos de ação”. Portanto, alternar atividades, ainda que por alguns minutos, já auxilia na mudança do comportamento tão comum de ficar inerte numa atividade única como se fosse um vício.

TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

(Artigo publicado na seção Em Família da edição de outubro da Revista Adventista)

Última atualização em 22 de outubro de 2020 por Márcio Tonetti.