A mulher que plantou 400 igrejas na China

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Conheça a história da missionária chinesa de 75 anos que tem dedicado a vida para evangelizar o país asiático
Andrew McChesney, editor da Adventist Mission
Crédito da imagem: AdobeStock

Huan considera que é fácil plantar uma igreja. Ela está segura do que diz, pois estabeleceu centenas de congregações na China! “É preciso apenas uma pessoa fiel, entregue a Jesus e que está disposta a consagrar sua casa e seu tempo. A pessoa não precisa de treinamento teológico formal. Somente precisa conhecer a história de Jesus”, afirma a missionária de 75 anos.

Ela plantou a primeira igreja em 1988, depois de compartilhar um material sobre o sábado com pastores de outra denominação. A congregação de mil membros se tornou adventista. Ela também relembra o caso de outra igreja que plantou em 1995 com apenas três pessoas que haviam frequentado a educação formal somente até o nono ano. “Discipulei essas pessoas, ensinei nossas crenças fundamentais e dei a elas livros de Ellen G. White. No primeiro ano, elas batizaram 14 pessoas. A igreja começou a crescer e agora tem 400 membros”, comemora.

Huan, nome fictício para preservar sua identidade, perdeu a conta de quantas congregações estabeleceu nos últimos 30 anos. Mas seu filho, que é pastor, estima que foram pelo menos 400. Nesta pequena entrevista, adaptada do site da Adventist Mission, a missionária fala de sua experiência com Deus e de como procura testemunhar de sua fé na China, país que receberá parte das ofertas mundiais arrecadadas no último sábado (29 de setembro) para o plantio de uma igreja de período integral .

Você teve experiências marcantes com Deus. Como você se relaciona com Ele?

Sempre que acontece alguma coisa, meu instinto é orar. Ao acordar, também agradeço a Deus pela vida e por Sua graça que se renova a cada manhã. Sou muito grata por ter vivido mais de 70 anos. Já vivi mais que meus pais juntos. Também peço a Deus que me dê o Espírito Santo, e oro para que eu me renda à Sua influência. Eu oro para que Deus me ajude a viver para Ele. Minha oração matinal é de apenas cinco minutos. Eu não oro por horas. Costumo interceder por pedidos de oração, mas faço isso ao longo de todo o dia. Sempre que me lembro de alguém, oro em favor dessa pessoa. Uma prece que faço ao longo do dia é: “Senhor, tem misericórdia de mim!”. Sempre que oro, sinto Sua misericórdia. Uma vez plantamos uma nova igreja, mas não tínhamos dinheiro suficiente para pagar a eletricidade e a água. Precisávamos de 8.000 yuans (cerca de 1.150 dólares) por mês, e as ofertas só totalizavam 5.000 yuans. Minha primeira reação foi usar minha própria renda para cobrir a diferença de 3.000 yuans. Mas, se eu fizesse isso, não teria dinheiro para comer. Então, orei: “O Senhor nos trouxe para esta nova igreja. Então, nos ajude com as despesas”. Dois dias depois, uma mulher de outra cidade enviou 5.000 yuans, valor suficiente para pagar todas as despesas da manutenção do templo. Desde então, sempre conseguimos cobrir as despesas dessa congregação adventista.

Como você lê a Bíblia?

Eu gosto de conectar textos bíblicos e ler o conceito como um todo. Por exemplo, Jesus disse aos seus discípulos em Mateus 16:24: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (NVI). Muitos cristãos pensam que tomar a cruz se refere à penitência. Mas Gálatas 2:20 diz: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. Por que nós carregamos a cruz? Esse versículo explica o significado. Paulo quer dizer que precisamos ser crucificados com Cristo e permitir que Ele viva em nós. Esse texto se conecta com Romanos 6:6, que diz: “[…] nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado”. Ou seja, temos que pregar nossos pecados à Cruz. Para viver em Cristo, precisamos viver uma nova vida em Cristo. A história de Nicodemos relatada no capítulo 3 de João ilustra a experiência do novo nascimento e, por sua vez, o apóstolo Paulo afirma que, para termos vida nova, precisamos ser crucificados com Cristo. É isso que significa nascer de novo. Em João 3:30, lemos a seguinte afirmação de João Batista: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”. Precisamos permitir que Jesus cresça e que nossas paixões e desejos diminuam. Isso é carregar a cruz e ter vida nova em Cristo. Então, ao estudar a Bíblia, procuro relacionar textos e conceitos para ter uma ideia mais ampla do que a Palavra de Deus quer dizer. Também uso os escritos de Ellen G. White como ferramentas auxiliares. Descobri, por exemplo, que o melhor comentário sobre o livro de João é o livro O Desejado de Todas as Nações. Temos um recurso rico nos escritos de Ellen G. White. Nós só precisamos lê-los.

Como você testemunha de sua fé?

Quando uma prima confidenciou que queria se divorciar, eu disse: “Você precisa crer em Jesus”. Depois de algum tempo, ela desistiu de deixar o marido e se tornou cristã. Eu também compartilhei o evangelho com um tio, líder de governo. Ele disse: “Como alguém tão inteligente como você se tornou cristã? Deve haver algo de bom em se tornar um cristão”. Então, ele aceitou seguir a Cristo. Por vários anos, eu disse a outro parente sobre a bênção de ser cristã e hoje essa pessoa e seus familiares pertencem à nossa fé. Eu também compartilho Jesus com um grupo de amigos. Nos reunimos quase toda semana para conversar. Então, o que eu faço é simplesmente falar com as pessoas e compartilhar minha fé.

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DO ATEÍSMO AO CRISTIANISMO

A história de transformação da mulher que hoje tem levado a mensagem adventista a milhares de chineses  

Por ter sido educada no ateísmo, desde cedo abracei a ideologia ateísta de justiça. Cresci com uma má impressão da religião. Eu acreditava que os líderes religiosos usavam a ideologia religiosa para oprimir as pessoas e que os crentes eram simplórios e supersticiosos. Eu pensava: “Sou comunista e ateísta. Não há como eu aceitar a religião dessas pessoas tolas”. Eu estava vivendo em um mundo ideal e era feliz. Mas depois de me graduar, em 1965, testemunhei pessoas sendo perseguidas. Eu não conseguia entender como poderíamos tratar as pessoas daquela maneira. Me senti enganada pela minha educação e parei de acreditar na ideologia ateísta. Então busquei satisfação na carreira profissional. Em 1988, meu marido e eu abrimos duas empresas e nos tornamos milionários. Não nos faltou nada, mas um vazio permaneceu dentro de mim. Eu não conseguia entender o que acontece quando as pessoas morrem. Os cristãos creem na eternidade e os budistas acreditam em outra vida, mas os ateus não creem em nada que vá além desta existência. Essa questão me incomodou tanto que eu comecei a praticar corrida para desestressar um pouco. Naquela época, meu marido começou a me agredir fisicamente e depois desapareceu. Seis meses depois, descobri que ele estava morando com outra pessoa. Esse foi um ponto baixo na minha vida. Minha ideologia ateísta e dinheiro tinham falhado comigo. Um amigo notou minha tristeza e me apresentou a um pastor da igreja dominical. O líder religioso disse: “Por que você não tenta Jesus? Quando você acredita em Jesus, Ele lhe dá felicidade e paz”. O pastor me presentou com uma Bíblia e me disse para memorizar o Salmo 139:23 e 24, que diz: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno” (NVI). Comecei a frequentar regularmente a igreja desse pastor e debati a Bíblia com ele. Mas o pastor não pôde responder à pergunta: “O que Jesus tem a ver comigo?” Para mim, Jesus parecia distante.

Um dia, depois de um culto, senti que Jesus estava tão perto que sabia dos meus pensamentos mais íntimos e ainda queria me resgatar. Eu contei ao pastor sobre minha experiência e ele disse que eu deveria confessar meus pecados. Naquela noite, ajoelhei-me na varanda do meu apartamento para orar e imediatamente comecei a chorar. Em lágrimas, eu perguntei a Deus: “Por que você me encontrou apenas agora? Eu tive que passar por tantos problemas. Por que você não me encontrou mais cedo?” Confessei meus pecados. Algum tempo depois, conheci outro pastor, que me deu uma cópia do livro O Desejado de Todas as Nações, de Ellen G. White, cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O primeiro capítulo, que descreve o amor de Jesus, me impressionou imediatamente. Eu nunca havia experimentado amor assim. Chorei de alegria quando li o livro. A ideologia ateísta de veracidade, imparcialidade e justiça tinha falhado comigo, mas eu encontrei o cumprimento final da ideologia em O Desejado de Todas as Nações. Eu estava procurando amor e o encontrei nesse livro. Não muito depois disso, esse outro pastor me disse que o verdadeiro dia de adoração é o sétimo dia. Eu queria evidências. Então fui à enciclopédia e descobri que o sábado era o sétimo dia da semana. Acabei decidindo me tornar adventista. Comecei a adorar sozinha todos os sábados, tornando-me a primeira adventista na minha província chinesa. Mas eu não tive que adorar sozinha por muito tempo. Eu li um pequeno livreto chamado Defensor da Verdade, que fala sobre o sábado e havia sido feito pelos adventistas chineses para o povo chinês. Meticulosamente, fiz cinco cópias manuscritas do folheto e entreguei aos pastores da igreja que eu frequentava. Duas semanas depois, o pastor principal veio até mim e disse: “Irmã, acreditamos que o sábado é a verdade”. O resultado foi que toda a igreja, formada por mil membros, aceitou a verdade do sábado! Essa se tornou a primeira igreja que eu plantei na China. Vários meses depois, fui batizada na Igreja Adventista.

Última atualização em 17 de outubro de 2018 por Márcio Tonetti.