Convite à leitura

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Coordenador da editoria de livros denominacionais na CPB fala sobre tendências do mercado editorial e novidades da Casa Publicadora Brasileira para incentivar a leitura e edificar a igreja

O próprio Bill Gates certa vez admitiu: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros”. Apesar dos avanços tecnológicos e do hábito de consumir informações nas plataformas digitais, parece que a maioria das pessoas, mesmo as gerações mais “conectadas”, ainda prefere ter contato com os livros físicos do que com os e-books. O fato é que eles mantêm um espaço bem definido, contrariando as “profecias” que indicavam o fim do papel diante da popularidade dos meios digitais.

No Dia Mundial do Livro (23 de abril), a Revista Adventista conversou com o pastor Diogo Cavalcanti, coordenador da editoria de livros denominacionais na Casa Publicadora Brasileira. Nesta entrevista, ele fala sobre as tendências do mercado editorial e a importância da leitura, além de dar um panorama das novidades da CPB para incentivar novos leitores e edificar a igreja com literatura de qualidade.

Apesar da influência dos meios de comunicação digitais, que espaço os livros ocupam hoje?

Eles têm um espaço cativo. A grande vantagem dos livros em papel é a experiência, aquele contato sensorial insubstituível. Falo da textura do papel, da suavidade aos olhos, do próprio cheiro do livro. Há também a questão dos livros que ocupam uma estante, que frequentam um criado-mudo, que são marcados e rabiscados. O vidro e a mediação eletrônica parecem impor um “pedágio” a essa experiência. Creio que ambos têm seu lugar, mas não tenho dúvidas de que o livro impresso jamais perderá seu espaço.

Como você vê o livro do futuro, tendo em vista não apenas as mudanças tecnológicas, mas também o fato de que, cada vez mais, as pessoas estão consumindo informações rápidas?

Houve um momento em que os livros digitais cresceram rapidamente no Norte desenvolvido, e muitos diziam que aquilo seria a derrocada dos livros. Porém, hoje vemos que não é bem assim. Os livros digitais arrefeceram. No Brasil, representam uma parcela mínima das vendas e não têm demonstrado indícios de que algo vá mudar, pelo menos em um médio prazo. Os livros convencionais sofrerão adaptações em direção à integração com outras plataformas, como já ocorre, com o uso de QR Codes, realidade aumentada, integração com as redes sociais, etc. Com a recente descoberta de condutores de carbono, o chamado grafeno, é possível que um dia o digital e o físico se fundam em páginas com informações digitais. Porém, voltando ao mundo real e, principalmente, ao Brasil de hoje, esse não é o caso. Quanto ao consumo rápido de informações, os setores que têm sido mais impactados são o de jornais e revistas impressos, que têm sido dizimados e estão migrando para as plataformas on-line, que oferecem atualizações muito mais rápidas e dinâmicas. Quanto ao livro, é da natureza dele não cobrir uma atualização tão frenética. Ele reflete o que já está mais sedimentado e convida à reflexão.

Como nasce um leitor?

Da leitura. A partir do letramento, que não começa somente na sala de aula, mas também no lar, junto aos pais, com o carinho da mãe. Essa experiência de acompanhamento gera vínculos que produzem leitores. Para aqueles que não tiveram esse privilégio, o gosto nasce a partir das primeiras leituras que normalmente ocorrem por inciativa própria, no acompanhamento de temas interessantes à pessoa, seja pela via da religião, seja da ciência ou da cultura em geral.

A afirmação de que as novas gerações não leem parece ser, em parte, mito, pois é comum ver adolescentes e jovens “devorando” livros com milhares de páginas. O que tem despertado o interesse desse grupo e como podemos fazer com que nossa literatura seja atrativa para esse público?

Volumes da série Conflito

Sem dúvida, quanto ao caso citado, o interesse começou no cinema. Grandes séries feitas para crianças e adolescentes geraram interesse por mais detalhes ou pela continuação das histórias. Então, a garotada correu para os livros e foi fisgada por eles. Apesar disso, ainda considero esse um caso interessante. Mostrou-se que é possível crianças e adolescentes lerem livros grossos. Pessoalmente, presenciei uma cena assim em Santa Catarina, o que me chamou muito a atenção. Para muitos, o fantástico, o mágico e o espiritualismo têm sido ganchos importantes, mas o que mais “pega”, sem dúvida, é uma grande narrativa – uma história épica –, e isso nós temos! A Bíblia conta a história do grande conflito, que tem um começo e terá seu fim; uma narrativa com vários lances dramáticos e atraentes. A CPB acabou de completar a Série Conflito na Linguagem de Hoje, atingindo justamente esse objetivo.

Quem não lê, não escreve. Como esse hábito molda um escritor?

Um bom mecânico pode conhecer muito de carro, mas isso não faz dele um piloto. Da mesma forma, não basta conhecer regras gramaticais para ser um bom escritor, um “piloto das letras”. É preciso talento, e esse talento só é identificado e desenvolvido por meio da leitura. Associada à experiência pessoal, a leitura proporciona um transbordamento que precisa ser expresso, gravado em algum lugar. Assim, o livro é o resultado do transbordamento de ideias que são exatamente uma combinação de tudo o que foi lido, vivido e refletido, oferecendo novas contribuições.

A cultura da escrita tem se fortalecido no meio adventista brasileiro?

Sem dúvida. Ano após ano, temos notado iniciativas de escrita por parte de adventistas brasileiros, e isso é fantástico! A criação de colunas, blogs, o lançamento de livros particulares ou por meio de editoras e associações. Vemos isso com bons olhos, e esperamos lançar cada vez mais autores nacionais.

No início da obra de publicações no Brasil, a maioria dos livros publicados pela igreja eram traduzidos. Quanto da nossa produção hoje é nacional?

Muito de nossa produção ainda é traduzida. Porém, o número de autores nacionais é crescente. No segmento de didáticos, por exemplo, praticamente todos os nossos autores são nacionais. Em geral, eles têm ganhado cada vez mais espaço. Isso é maravilhoso, pois os autores nacionais chegam com mais facilidade ao coração dos leitores.

Por outro lado, a editora tem se preocupado em continuar adaptando grandes obras para o português. Foi o caso da Série Logos e da Bíblia de Estudo Andrews. Além da Enciclopédia de Ellen G. White, prevista para ser lançada ainda neste ano, há outras obras importantes sendo adaptadas para nosso idioma?

Há dezenas de projetos em andamento. Alguns já têm títulos definidos em português, outros não. Destaco os seguintes: Revelação de Jesus Cristo: Comentário do Livro do Apocalipse, de Ranko Stefanovic; Amores Básicos, de Victor Armenteros; Against All Odds, de Kari Paulsen; No Princípio: A Ciência e a Bíblia Confirmam a Criação, organizado pelo australiano Bryan Ball; Perseguido na China: Lutas e Livramentos de um Jovem que não Negociou sua Fé, de Bradley Booth; Prazer em Conhecer Ellen White: Quem Foi, o Que Fez e a Diferença que Faz, de George Knight; Revolução na Saúde: Origem e Desenvolvimento da Obra Médico-missionária Adventista, de Dores E. Robinson; e Worship, Ministry and the Authority of the Church, de Ángel Manuel Rodríguez.

Todos os anos a editora recebe e avalia dezenas de propostas de livros. Quais são os critérios para publicar uma obra com o selo da CPB e como é feita a análise dos materiais submetidos pelos autores?

Temos duas Comissões Editoriais no ano: uma em maio/junho e outra por volta de novembro. Recebemos materiais de todo o mundo (dos Estados Unidos, da Argentina, Austrália, Alemanha, Rússia, Polônia, Ucrânia, entre outros países). Em primeiro lugar, avaliamos se o livro está em conformidade com os princípios e o estilo de vida adventistas do sétimo dia. A partir daí, analisamos, basicamente três aspectos: originalidade, contribuição e linguagem da obra. A análise é feita por avaliadores internos e externos à CPB, envolvendo convidados da sede sul-americana da igreja e de outros níveis administrativos da organização (União), do Unasp, de hospitais adventistas, do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (Salt) e da nossa editora irmã, a Aces (Asociación Casa Editora Sudamericana). O livro é discutido em algumas reuniões, e a decisão final é tomada na Comissão Editorial, que é composta pelos avaliadores. Tudo é feito com muito critério, a partir do preenchimento de fichas que especificam todos os critérios técnicos, como o alcance do público-alvo pretendido, o uso da língua e as fontes utilizadas. Cada avaliador deve dar sua posição pessoal, que é compartilhada na Comissão Editorial.

Última atualização em 24 de abril de 2018 por Márcio Tonetti.