Arqueologia bíblica

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Cópia mais antiga dos evangelhos deve ser divulgada oficialmente em 2015

Achado arqueológico pode ser o primeiro manuscrito do Novo Testamento que data do 1º século
Fragmentos do evangelho de Marcos encontrados em máscara de múmia egípcia poderão ser mais uma prova contundente da historicidade dos evangelhos. Foto: Cortesia do prof. Craig Evans / Reprodução do site Live Science

Fragmentos do evangelho de Marcos, encontrados por pesquisadores há cerca de três anos em uma máscara de múmia egípcia, devem ser divulgados até o final de 2015. O achado arqueológico pode ser a cópia mais antiga dos evangelhos localizada até agora. Os pesquisadores que investigam o papiro evitam afirmações categóricas antes da publicação oficial. Mas, nesta semana, Craig Evans, professor de estudos do Novo Testamento no Acadia Divinity College, no Canadá, e um dos 30 cientistas que estudam os achados, disse por meio de sua página no Facebook que, se os estudiosos estiverem certos, realmente “este será o primeiro manuscrito do Novo Testamento que data do 1º século”. Evans também reiterou a possibilidade de a publicação acontecer ainda neste ano.

O assunto voltou à tona depois da repercussão internacional de uma entrevista concedida por ele para uma reportagem que foi publicada no último dia 18 de janeiro pelo site Live Science. Evans explicou que as informações obtidas até agora por meio de uma combinação de métodos (como datação por carbono-14, estudo da caligrafia do fragmento e análise dos demais documentos encontrados junto com o trecho do evangelho) levam os pesquisadores a crer que o fragmento foi escrito antes do ano 90 de nossa era. Até o momento, o fragmento mais antigo do Novo Testamento é um pequeno trecho do evangelho de João, datado de aproximadamente 125 d.C.. Nenhum manuscrito do 1º século ainda é oficialmente reconhecido.

Divulgação oficial 

A previsão inicial da equipe envolvida no estudo arqueológico era de que a publicação acontecesse em 2013, cerca de um ano depois da descoberta. Embora os pesquisadores não tenham revelado o motivo do atraso, asseguram que o livro deve trazer não só os textos bíblicos, mas também fragmentos de textos gregos clássicos, como cópias de histórias escritas pelo poeta Homero (autor de Ilíada e Odisseia). “O benefício do atraso é que, quando ele sair, haverá a possibilidade de ter informações adicionais sobre este e outros textos relacionados”, declarou Craig Evans ao site.

Apesar das especulações geradas por conta do adiamento da publicação, a credibilidade dos estudiosos envolvidos na pesquisa confere seriedade ao projeto. Conforme acredita Wilson Paroschi, pós-doutor em Teologia e autor do livro A Origem e a Transmissão do Texto do Novo Testamento, publicado pela Sociedade Bíblica Brasileira (SBB), “podemos estar diante de um fato novo e muitíssimo importante para a datação do estabelecimento do texto dos evangelhos”.

Acredita-se que Marcos tenha sido o primeiro evangelho a ser escrito. Alguns estudiosos, a exemplo do doutor Paroschi, chegam a datá-lo da metade do 1º século. “Se o fragmento for mesmo anterior ao ano 100, então a cópia foi feita ainda no período apostólico. Aqueles que negam a historicidade dos evangelhos, alegando que eles são apenas produto da piedade cristã e que foram tardiamente produzidos, devem estar bastante preocupados com a possível impacto do fragmento. Eles certamente terão que rever suas posições, ou então, como já o fizeram outras vezes, vão se esforçar ao máximo para desacreditar a descoberta”, analisa.

Entenda

O fragmento que traz cópia de trechos do evangelho de Marcos foi encontrado em um papiro reutilizado na fabricação da máscara de uma múmia egípcia. Embora esse artefato costumasse ser de ouro no caso dos faraós, para pessoas comuns as máscaras eram confeccionadas com papiro (ou linho), tinta e cola. Como, no entanto, o papiro também era um material caro na época, folhas que já tinham algo escrito costumavam ser reaproveitadas na mumificação. [Márcio Tonetti, equipe RA / Com informações do site Live Science]

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.