Saiu nas páginas da revista Nature

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Conceituado periódico científico divulga dados de pesquisa feita com membros da igreja na Universidade de São Paulo
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Dados do Estudo Advento, realizado pela USP, foram analisados na pesquisa que explorou a relação entre a bactéria Akkermansia muciniphila, presente na flora intestinal, e o diabetes

O Estudo Advento, pesquisa inédita da USP que avalia o estilo de vida de 1,4 mil adventistas do Estado de São Paulo, tem servido de base para outras importantes investigações acadêmicas. Recentemente, uma delas ganhou espaço na revista Nature Communications, conceituado periódico científico. Publicado no mês de novembro, o artigo no qual os adventistas são mencionados aborda a relação entre a bactéria Akkermansia muciniphila, presente na flora intestinal, e o diabetes.

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De acordo com a nutricionista Ana Carolina Franco de Moraes, coautora da publicação, ao analisar a ligação entre o sistema imunológico, as bactérias do intestino e o metabolismo da glicose, foi constatado que há diferença na abundância dessa bactéria em pessoas diabéticas, pré-diabéticas e nas que não possuem qualquer anormalidade no metabolismo da glicose (tecnicamente chamadas de normotolerantes).

“A Akkermansia muciniphila se mostrou menos presente nas pessoas diabéticas e mais abundante nas consideradas normotolerantes. Isso indica que a interação pode influenciar o desenvolvimento do diabetes tipo 2”, a pesquisadora explica.

No entanto, conforme lembra Ana Carolina, embora estudos tenham sugerido que o consumo de alimentos ricos em fibras possa aumentar a quantidade da bactéria no organismo, ainda não foi possível identificar a relação entre o tipo de regime dietético dos adventistas e a abundância de Akkermansia muciniphila. “Estabelecer tais relações será o próximo passo da pesquisa. E isso será possível assim que os resultados referentes à dieta dos adventistas forem disponibilizados pelo Estudo Advento”, a doutora em Nutrição e Saúde Pública informa.

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Trecho do artigo da revista Nature em que o Estudo Advento é mencionado.

A nutricionista acredita que o estudo que envolveu vários pesquisadores brasileiros, em parceria com cientistas da Oregon State University, poderá contribuir para o avanço das pesquisas na área. “Ao descobrir que a microbiota intestinal tem esse papel importante no metabolismo da glicose, podemos buscar por alterações na composição desse ecossistema a fim de reduzir o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis, como o diabetes e a hipertensão arterial. No entanto, não devemos esquecer que essa interação mediada por bactérias é somente uma parte do complexo sistema humano. Assim, questões como a dieta apropriada, exercício e controle de peso continuam sendo fundamentais para uma vida saudável”, observa.

Objeto de estudo há vários anos, a Akkermansia muciniphila também vem sendo analisada nos laboratórios da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica. No fim de novembro, a revista Nature divulgou artigo mostrando que pesquisadores da instituição descobriram que uma proteína encontrada na membrana externa da bactéria é capaz de prevenir o desenvolvimento da obesidade e do diabetes tipo 2. A expectativa dos cientistas é que o estudo abra caminho para o desenvolvimento de um medicamento contra as duas doenças que afetam, respectivamente, 600 milhões e 400 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo noticiou a BBC.

Microbiota intestinal dos adventistas

O interesse da doutora Ana Carolina no público adventista foi despertado pelo Estudo Advento. A partir de dados da pesquisa, ela desenvolveu sua tese de doutorado, defendida em março deste ano na Faculdade de Saúde Pública da USP. O trabalho analisou a composição da microbiota intestinal de 295 membros da denominação com diferentes hábitos alimentares.

Segundo a pesquisadora, foi possível perceber que vegetarianos apresentam uma colonização de bactérias mais favorável, o que influencia o perfil de risco cardiometabólico. “Parece que, a medida em que inserimos alimentos de origem animal, piora a condição cardiometabólica [associada à doenças como obesidade, diabetes e hipertensão arterial],” concluiu a pesquisadora.

O estudo também confirmou o que a literatura científica já indicava: não vegetarianos tendem a ter um perfil inflamatório maior. [Márcio Tonetti, equipe RA]

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.