Porque Deus amou as cidades

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Os centros urbanos representam enormes desafios para a evangelização, mas não podem ser negligenciados

MARCOS DE BENEDICTO
Foto: Adobe Stock

Com seus prédios variados, corporações imponentes, luzes coloridas, milhares de sons e cheiros, ruas lotadas, gente apressada, ofertas de comida e de pecado, as cidades são lugares de agitação, intranquilidade, rebeldia, violência, vícios e montanhas de lixo. Mas, ao mesmo tempo, são locais de cooperação, inovação e progresso. Catálogos de arquitetura, jardins de ideias, centros de cultura, teias de relacionamentos, engenhos do desenvolvimento, máquinas de fazer dinheiro, cidades são fábricas de ilusões e desilusões. Caracterizadas por realidades negativas e sonhos positivos, com uma população densa e múltiplos grupos étnicos, elas são estruturas complexas que definem grande parte do estilo de vida contemporâneo.

Felizmente, as cidades estão entrando cada vez mais na agenda evangelística das igrejas, pelo menos na teoria. Nos últimos anos, o interesse pela missão urbana cresceu sensivelmente. Se quisermos colaborar com a missão de Deus no mundo, isso é inevitável, pois 55% da humanidade vivem em cidades, proporção que deverá chegar a 68% em 2050. Em alguns países, 100% dos habitantes moram em cidades. O Brasil tem 84% de população urbana. A previsão é que em 2030 o número ultrapasse 90%. E algumas regiões metropolitanas globais atraem populações gigantescas, como São Paulo (22 milhões), Xangai (26 milhões), Nova Délhi (29 milhões) e Tóquio (37 milhões).

Assim como Deus amou o mundo (Jo 3:16), ama também as cidades, porque hoje o mundo é mais urbano do que rural. Se Ele não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18:23, 32), muito menos na destruição de uma multidão de ímpios. Ainda que alguém possa argumentar que a primeira cidade surgiu com Caim, outro pode ponderar que a ideia de uma ­cidade-jardim como capital do planeta já estava incluída no plano original de Deus. Então, iria Ele abandonar as cidades à sua própria sorte? De modo algum! “O trabalho nas cidades é a obra essencial para este tempo”, diz Ellen G. White (Ministério Para as Cidades, p. 24).

O amor de Deus pelas cidades pode ser visto, por exemplo, no tratamento dado à violenta Nínive. Ele fez o máximo para ­poupá-la. A mensagem de Jonas não passava de sete palavras: “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída” (Jn 3:4b, NVI). Porém, a cidade se arrependeu, e o profeta, descontente, reclamou (4:2). O relato atinge seu clímax quando Deus, usando a lógica de Jonas, que estava com dó de uma planta, conclui que não poderia deixar de ter misericórdia dos 120 mil ninivitas (4:10-11). Demorava três dias para percorrer a cidade, mas Jonas fez o percurso num dia (3:3-4), o que revela sua pressa para vê-la destruída. Já Deus é sempre rápido para salvar, mas vagaroso para destruir. A mudança de comportamento da cidade mudou o coração de Deus e o amor no coração de Deus modificou a profecia.

No Novo Testamento, o interesse divino pelas cidades continua. Como alguém observou, em Atos 17, Paulo prega no maior centro intelectual da época (Atenas); em Atos 18, ele viaja para um grande centro comercial (Corinto); em Atos 19, o apóstolo vai para um influente centro espiritual (Éfeso); e, no fim do livro, ele chega ao centro do poder imperial (Roma). Sua estratégia era ir conscientemente de uma cidade a outra, a fim de alcançar toda a região sob a esfera de influência desses centros urbanos.

Aldeia, vila, cidade, metrópole, megalópole, ícones glamorosos como Londres, Paris e Nova York ou simples amontoados de casas… Onde há pessoas, ali Deus está para transformar e salvar. E de maneira personalizada. Para o Criador, a multidão urbana não é um mar de faces anônimas. O plano Dele é tirar os habitantes da velha Babilônia para colocá-los na Nova Jerusalém. Precisamos nos envolver no mesmo projeto.

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

(Editorial da edição de junho)

Última atualização em 1 de abril de 2020 por Márcio Tonetti.