Arqueologia e fake news

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Especialista fala sobre a importância dos achados arqueológicos para a compreensão da Bíblia e acerca do problema das fraudes nessa área

Michelson Borges
Foto: arquivo pessoal

Carina Pereira de Oliveira Prestes é graduada em Arquitetura pela UFPR (2004) e atuou como arquiteta por alguns anos. Ela e o esposo, Flávio Prestes Neto, decidiram ir para a Universidade Andrews, nos Estados Unidos, e se preparar para servir a Deus em tempo integral como professores. Ela começou os estudos em Arqueologia Bíblica em 2010. Desde então, completou o mestrado em Arqueologia do Antigo Testamento, participou de escavações na Jordânia, em Israel e na Itália, e proferiu palestras em diversos países. Também escreveu artigos e apresentou vídeos de arqueologia publicados nos Estados Unidos. Atualmente, Carina está escrevendo sua tese doutoral com foco na arqueologia do Novo Testamento e do cristianismo primitivo.

Qual é a importância da arqueologia para o estudo da Bíblia?

Frequentemente, os materiais resgatados pelos arqueólogos são contemporâneos aos relatos bíblicos. Dessa forma, eles nos dão um vislumbre do mundo antigo, ajudando-nos a entender melhor as Escrituras. É como se fosse uma pintura: o texto bíblico é a figura em primeiro plano e a arqueologia apresenta os elementos de fundo (segundo plano) de forma a completar o quadro.

Infelizmente, existem também fraudes no mundo da arqueologia, como mostrou a recente descoberta de fragmentos forjados de manuscritos do Mar Morto. Quais são as implicações desse tipo de coisa para a pesquisa nessa área?

Com o aumento da procura e comercialização de artefatos no mercado de antiguidades, muitos sítios arqueológicos estão sendo depredados em busca de artefatos para comercialização e aquisição de matéria-prima (pedaços de cerâmica, couro, papiro, etc.) para elaboração de fraudes. Essas depredações destroem a estratigrafia dos sítios arqueológicos, impedindo a correta interpretação do passado. Quando se tira o artefato de seu contexto, isso dificulta a correta interpretação e datação dos achados. Outro problema é que, quando a mentira se torna comum e vem com uma parcela de verdade, as pessoas tendem a rejeitar a verdade juntamente com a mentira. Além disso, essas falsificações frequentemente contradizem as evidências conhecidas da antiguidade. Elas criam um empecilho para as pessoas que estão tentando aprender mais sobre o mundo da Bíblia. Algumas fraudes podem até mesmo ser feitas com materiais legitimamente antigos, o que dificulta o reconhecimento de falsificações. Em alguns casos, somente pessoas superespecializadas são capazes de discernir artefatos legítimos de fraudes.

De vez em quando, circulam também pelas redes sociais falsas notícias de achados arqueológicos. Que dicas você pode dar ao leitor a fim de que evite ser enganado e compartilhar fake news?

Primeiramente, conheça bem a Bíblia. Esses achados concordam com o relato bíblico? A segunda dica é: tenha cuidado com superlativos e linguagem hiperbólica. O uso de palavras como “o único”, “o maior” e “o primeiro” raramente condiz com a realidade histórica. Esses termos são frequentemente utilizados para atrair a atenção do público e para mascarar a falta de embasamento. Mais importante do que adjetivos é o conteúdo do relato. Valorize e procure substância e fatos, não o discurso sensacionalista. A terceira pergunta relevante para essa discussão é: qual é a fonte da informação? Prefira fontes que relatem os fatos de maneira imparcial e que disponibilizem suporte documental para o relato. Ou seja, qual é o embasamento da notícia? A matéria conecta o achado com alguma escavação arqueológica? Caso o artefato seja recentemente descoberto, deve ser reportado para as autoridades de antiguidade locais. Esses achados são parte do patrimônio cultural daquele país. Os novos achados devem ser divulgados juntamente com as autoridades governamentais locais.

(Entrevista publicada na edição de janeiro de 2021 da Revista Adventista)

Última atualização em 25 de março de 2021 por Márcio Tonetti.