Carne e sangue

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Como a pregação do evangelho alcançou uma tribo canibal

Glauber S. Araújo

Quão difícil é para você sair de sua casa e falar de Jesus para um desconhecido? Ou talvez entregar um livro missionário na casa de alguém que mora no seu bairro? A não ser por questão de timidez, a maioria de nós participa sem dificuldades das atividades missionárias promovidas pela igreja. É fato que vivemos no Brasil uma época de conforto e tranquilidade quando se trata de compartilhar nossa fé. Os empecilhos que aparecem são, em muitos casos, de natureza pessoal.

Essa realidade, no entanto, acaba alimentando em nós um esquecimento dos tempos em que falar da volta de Jesus para alguém requeria deixar a comunidade, família e amigos, viajar até um lugar distante, viver naquela geografia por alguns anos, aprender a língua e os costumes locais, criar novas amizades, contar histórias da Bíblia para pessoas que nunca souberam que existe algo chamado Bíblia, para então lhes apresentar as boas-novas da salvação e oferecer o convite de seguir a Jesus Cristo. Tudo isso exigia do missionário tempo, desprendimento e dedicação absoluta.

Evangelizar não era um evento marcado ou algo que se fazia no horário comercial. O testemunho se dava de forma integral e constante. Não eram apenas tempo e dinheiro que esses agentes de salvação doavam. Em alguns casos, a semente do evangelho brotou somente após o sangue dos missionários ter sido derramado em terras pagãs.

Os Canibais de Malekula (CPB, 2022, 148 p.) é um livro que ­resgata o espírito desses tempos, instigando no leitor o desejo de manifestar novamente o desprendimento e o fervor missionários nos dias atuais. A obra conta a história real de cristãos que aceitaram o perigoso desafio de viajar até as ilhas de Vanuatu, no Oceano Pacífico, para viver entre povos iletrados, rústicos e canibais.

A maioria dos nomes mencionados no livro nunca conseguiu voltar para sua terra natal. Grande parte morreu de alguma doença tropical ou, pior, alguns foram comidos pela população local. Essa última possibilidade era um risco constante para aqueles que se aventuravam a pregar aos nativos da tribo nambu. Temidos até por outros indígenas da ilha, os nambus eram notórios por sua brutalidade e desumanidade. No entanto, atendendo à ordem divina de pregar a cada “nação, tribo, língua e povo” (Ap 14:6), família após família de missionários se aventurou nas densas florestas da ilha para alcançar aqueles nativos.

As histórias do estabelecimento da Igreja Adventista no arquipélago de Vanuatu e das dificuldades de se instalar na ilha de Malekula são conhecidas ao redor do mundo. Transformaram-se em inspiração para muitas famílias missionárias que, hoje, estão correndo risco de perder sua liberdade e vida por pregarem o evangelho em territórios hostis ao cristianismo.

Com a leitura, sem dúvida, o seu desprendimento em participar da proclamação da breve volta de Jesus será fortalecido por meio do trabalho que esses pioneiros realizaram.

Alguns dos relatos contidos nesta obra poderão chocar o leitor com a dura realidade do trabalho missionário. Lendo alguns trechos, o sofrimento e a tristeza saltam das páginas e invadem nosso coração. Porém, a esperança e a alegria retomam seu lugar ao constatarmos o quanto Deus conseguiu transformar os nativos daquelas ilhas graças à disposição de moços e moças que buscavam glorificar a Deus.

GLAUBER S. ARAÚJO, pastor e mestre em Ciências da Religião, é editor na CPB

(Resenha publicada na seção Estante da Revista Adventista de novembro/2022)

Última atualização em 21 de novembro de 2022 por Márcio Tonetti.