Engajamento na Escola Sabatina

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As constatações de um estudo realizado com 4 mil adventistas da região Norte do Brasil

Daniel Carvalho

Foto: William de Moraes

Em uma pesquisa global realizada em 2021 com empresas de 160 países, o Instituto Gallup constatou que somente 21% dos funcionários estavam engajados no trabalho. Ou seja, apenas um em cada cinco mostrava-se satisfeito e comprometido.

Dados como esses são preocupantes e chamam atenção para o fenômeno mundial da falta de engajamento nas empresas. Como diversos estudos já demonstraram, o problema é multifatorial. Por isso, é crucial identificar as possíveis causas a fim de encontrar meios de promover a satisfação no ambiente laboral.

Assim como nas empresas, em um círculo religioso esse fator também é essencial para o maior engajamento dos fiéis nas atividades eclesiástica, haja vista que, de forma geral, gostamos de nos envolver em projetos que trazem satisfação. Foi com o intuito de compreender melhor quais elementos podem favorecer o engajamento dos membros na Escola Sabatina que realizamos um estudo no território da União Norte-Brasileira (UNB), que compreende os estados do Pará, Amapá e Maranhão.

Como você verá a seguir, os resultados reforçam a importância desse departamento, mas também nos desafiam a buscar meios de tornar o “coração da igreja” mais saudável. Desde seu surgimento, a Escola Sabatina teve um importante papel na formação cristã e missionária. No entanto, segundo dados oficiais do primeiro trimestre do ano passado, dos 2.568.552 membros batizados, apenas 1.062.105 estavam matriculados e participavam das classes.

Diante desse cenário desafiador, precisamos fazer algumas reflexões. Será que nossos pastores, anciãos e líderes em geral estão motivando os novos membros a se matricular e participar de uma classe da Escola Sabatina? Essa simples atitude poderá fazê-los se sentir acolhidos. É importante refletir também sobre o que motiva o membro a frequentar e se envolver nas atividades da Escola Sabatina. Seria o conteúdo estudado ou o relacionamento com o professor? Seria a participação na discussão dos temas ou talvez a maneira como o professor conduz a discussão? O fato de a pessoa possuir a Lição da Escola Sabatina faz diferença? E quanto ao horário em que ocorrem os encontros semanais?

Quando comparamos os dados atuais com os índices de participação na Escola Sabatina nos primórdios do adventismo, percebemos que o índice de participação e o número de alunos eram muito maiores do que o número de membros batizados, conforme ilustra a imagem a seguir:

Fonte: Sabbath School Worker, abril de 1922, p. 106

Resumo da pesquisa

O estudo realizado com os adventistas da região Norte do Brasil fez parte de um projeto de pesquisa doutoral que teve a participação de mais de 4 mil membros. Em síntese, o estudo buscava compreender qual era o grau de satisfação deles em relação ao programa da Escola Sabatina e se isso influenciava em aspectos como frequência, nível de religiosidade e apostasia.

Com isso em mente, procuramos perceber o nível de satisfação dos participantes (“totalmente insatisfeito”, “insatisfeito”, “nem insatisfeito nem satisfeito”, “satisfeito” e “totalmente satisfeito”), utilizando como instrumento a chamada Escala Likert, que combina estatística e psicologia.

Percebeu-se que a maioria dos participantes da pesquisa disse estar “satisfeito” ou “totalmente satisfeito” com a Escola Sabatina (conforme o gráfico de indicadores do nível de satisfação). O estudo também concluiu que houve uma satisfação maior entre os entrevistados que haviam recebido a visita do professor da unidade. Além disso, foi constatado que, dentre os alunos visitados, houve maior satisfação com a forma de ensinar. Esses indicadores parecem reforçar dois objetivos fundamentais da Escola Sabatina: a visitação (pastoreio) e o ensino.

Relação com a frequência

Mesmo algumas questões que pareciam ser mais óbvias foram melhor estudadas. Por exemplo, se a satisfação com a Escola Sabatina afetava diretamente a frequência à unidade de ação. Bem, a conclusão da pesquisa foi que, para 47,8% dos entrevistados, sim. Isso significa que quanto mais satisfeitos estiverem os membros com a Escola Sabatina mais assíduos eles serão. Então, como proporcionar isso?

Estudos como o que foi realizado por Laurentiu Serban em sua tese doutoral defendida na Universidade Andrews, em 2014, já analisaram essa correlação (link.cpb.com.br/75f404). Ao examinar os fatores responsáveis pelo declínio da frequência à Escola Sabatina nos Estados Unidos e no Canadá, o autor identificou quatro fatores que se relacionavam com essa questão: (1) a satisfação com os momentos preliminares (antes do estudo em classe); (2) a satisfação com os temas estudados; (3) a satisfação com os professores; e (4) a satisfação com o estilo de ensino.

Comparando esses diferentes cenários, nota-se que aspectos relacionados à satisfação com o professor são verdadeiros tanto para a Escola Sabatina do Norte do Brasil quanto para a Escola Sabatina na América do Norte, guardadas as devidas exceções.

Relação com a apostasia

A perda de membros é um problema que preocupa qualquer denominação. Para o adventismo, esse também é um grande desafio, pois nos últimos anos nossa taxa de apostasia tem chegado a 50%. De acordo com estatísticas da Associação Geral, a igreja teria hoje entre 28,5 e 30 milhões de membros se nenhum deles tivesse deixado a denominação ao longo dos últimos 50 anos. No entanto, atualmente ela possui cerca de 22 milhões de adeptos ao redor do mundo.

Ao relacionar a satisfação com a Escola Sabatina e a questão da saída da igreja, o estudo concluiu que quanto maior é a satisfação com a Escola Sabatina, menor é o índice de apostasia. Some-se a isso o fato de 1.035 respondentes que haviam deixado temporariamente a igreja em algum momento da vida afirmarem que continuaram frequentando a Escola Sabatina parcial ou regularmente nesse período. Provavelmente, isso foi um fator importante na decisão deles de retornar posteriormente ao convívio da fé, mas tal conclusão demandaria uma análise mais aprofundada.

Outra relação que buscamos compreender envolveu o estudo da Lição da Escola Sabatina e o tempo de batismo. A análise preliminar dos dados permitiu ver que participantes com até 10 anos de adventismo estudavam menos a lição do que aqueles que haviam sido batizados há mais tempo. Por outro lado, esse resultado revelou um problema de amadurecimento religioso ou espiritual tardio dos membros.

Relação com a religiosidade

Levando em conta a distinção feita pelos estudiosos entre espiritualidade (uma fé que não está necessariamente ligada a uma igreja) e religiosidade, a pesquisa procurou analisar a relação da Escola Sabatina com o nível de religiosidade. Foi possível perceber que quanto mais religiosa a pessoa se considerava, maior era a sua satisfação com a Escola Sabatina. Chamou atenção também o cruzamento dos dados da frequência ao templo e da satisfação com a Escola Sabatina. Nesse quesito, o estudo mostrou que a regularidade com que o respondente assistia aos cultos ou participava das classes não influenciava diretamente no seu grau de satisfação quanto à Escola Sabatina. Aliás, esse foi um resultado diferente daquele encontrado no estudo norte-americano, que concluiu que quanto mais a pessoa frequenta a Escola Sabatina, mais satisfeita com o programa ela se sente.

Para refletir

As constatações de ambas as análises expõem a necessidade de reflexão por parte da liderança da igreja no que diz respeito às razões de a frequência à Escola Sabatina favorecer a satisfação dos membros, mas a frequência à igreja não melhorar a satisfação dos fiéis em relação à Escola Sabatina.

Embora o estudo tenha apontado vários fatores que podem influenciar na percepção das pessoas acerca de Escola Sabatina, ficou claro que os professores são uma peça fundamental para o engajamento. Essa influência se mostrou muito importante em termos de maior frequência e índice de estudo diário. Não é por acaso que a essência de seu papel tenha sido enfatizada nos escritos inspirados: “É simples o trabalho do professor, mas, se for feito no Espírito de Jesus, a atuação do Espírito de Deus o tornará profundo e eficiente. […]

“Demonstrem aos seus alunos que vocês confiam neles. Visitemnos em seus lares, convidando-os para ir à casa de vocês. Que eles vejam que vocês os amam não só em palavra, mas em obra e verdade. […]

“Sua influência deve moldar os alunos segundo o divino Modelo e, se assim proceder, só a eternidade revelará o valor de seu trabalho” (Ellen G. White, Conselhos Sobre a Escola Sabatina [CPB, 2021], p. 61, 104).

PRINCIPAIS CONCLUSÕES

A satisfação em relação à Escola Sabatina é maior entre os membros batizados há mais de uma década. E quanto mais o aluno estuda a lição, mais satisfeito ele se sente em relação ao programa.

Pessoas visitadas pelo professor da unidade são mais satisfeitas com a Escola Sabatina. A forma como ele ensina também pode aumentar ou diminuir o engajamento.

Nem sempre frequentar os cultos é sinônimo de frequência à Escola Sabatina.

Pequenas igrejas tendem a ser mais satisfeitas com a Escola Sabatina. Além disso, professores de igrejas menores visitam mais seus alunos, o que ajuda a despertar neles o desejo de adquirir o guia de estudos.

Pessoas com mais de 35 anos estudam mais a Lição da Escola Sabatina.

Alunos visitados pelos professores são mais assíduos na frequência às reuniões.

Quanto mais satisfeito com a Escola Sabatina o membro estiver e quanto mais comprometido for com o estudo diário, menor a chance de ele deixar a igreja.

DANIEL CARVALHO é líder da Escola Sabatina na União Norte-Brasileira

(Artigo publicado na Revista Adventista de julho/2023)

Última atualização em 19 de julho de 2023 por Márcio Tonetti.