Ensino integrado

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O plano da igreja na América do Sul para alinhar o trabalho de seus centros universitários

Victor Bernardo

Foto: Adobe Stock

Assim como ocorreu com a educação básica há alguns anos, o ensino superior adventista na América do Sul tem caminhado na direção de uma integração maior entre as 12 instituições formadas por 16 campi e mais de 40 mil alunos.

Na América do Norte, que concentra a maior parte das instituições adventistas de ensino superior, esse processo já está em construção há mais de dez anos, promovendo ações compartilhadas e gerando ganhos em diversos aspectos. Agora, o objetivo é trazer essa integração para a América do Sul. Para isso, o primeiro passo foi dado há alguns meses, com a nomeação do pastor Douglas Menslin, que tem larga experiência em gestão educacional. Como diretor-assistente do departamento de Educação da sede sul-americana, ele estará à frente do projeto.

Segundo o doutor Menslin, o ­início dessa articulação será a integração de processos e sistemas acadêmicos e administrativos, buscando aprimorar ainda mais a qualidade do serviço oferecido aos alunos. “Trabalharemos no alinhamento do marketing institucional, oferecendo ao candidato e futuro aluno condições para conhecer todas as instituições adventistas no Brasil e os serviços que elas oferecem”, ele explica.

Para que isso ocorra, o doutor Menslin explica que foram definidos sete pontos principais a ser desenvolvidos. Isso inclui: (1) a filosofia adventista de educação; (2) centros de influência para jovens da igreja; (3) centros de evangelização; (4) centros de excelência acadêmica; (5) o papel do internato na formação de líderes para a igreja; (6) o crescimento e a sustentabilidade financeira; e (7) a influência internacional do ensino superior adventista.

A realização de eventos como o Enaic visa fomentar a pesquisa e integrar os acadêmicos de instituições adventistas

Cada uma dessas áreas terá mais sentido se for unificada entre as instituições adventistas envolvidas nesse processo. Ações visando à integração já estão sendo colocadas em prática. Em novembro, por exemplo, as cinco instituições adventistas de ensino superior do Brasil realizaram o 2º Encontro Nacional de Inovação e Ciência (Enaic).

O evento contou com a presença de alunos e professores dos três campi do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), da Faculdade Adventista do Paraná (FAP), da Faculdade Adventista da Bahia (Fadba), da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama) e da Faculdade Adventista de Minas Gerais (Fadminas).

O Enaic busca promover a interação entre estudantes, pesquisadores e professores das instituições adventistas, além de possibilitar a divulgação da pesquisa e da inovação realizadas nessas instituições, bem como a troca de conhecimento. O pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional do Unasp, doutor Allan Novaes, foi um dos palestrantes do congresso. Ele explica que o evento propôs um contato presencial e virtual para compartilhamento de informação. “É um evento que promove a iniciação científica e ações de inovação em atividades acadêmicas”, reforça.

O professor Thiago Sant’ana, que coordena as atividades de pesquisa e extensão na FAP, afirma que eventos como esse são importantes para que mais pessoas possam conhecer a produção acadêmica das nossas instituições. “Nós aproveitamos essa colaboração, transformando tudo aquilo que é produzido pela academia em publicações, que são um grande indicador de qualidade no ensino superior.”

PRODUÇÃO CIENTÍFICA

A busca pela excelência acadêmica fortalece a identidade das instituições de ensino superior. O doutor Menslin ressalta que “o conhecimento científico deve fluir naturalmente”. Por isso, a integração da rede adventista de educação também busca contribuir para um aumento da produção científica, permitindo aos pesquisadores, professores e alunos a troca de experiências com seus pares em diferentes instituições, como foi demonstrado no Enaic.

Além disso, ela vai viabilizar a mobilidade acadêmica de professores e alunos e a internacionalização da rede adventista por meio de parcerias com outras instituições ao redor do mundo. Isso também garante solidez financeira. “A integração gerará recursos para serem investidos na pesquisa e na produção de conhecimento, graças à otimização dos recursos financeiros que, de forma integrada, contribuirão para todas as instituições”, acredita o doutor Menslin.

PLATAFORMA SCHWANTES

A Plataforma Schwantes é um banco de teses e dissertações que apresentam o adventismo como objeto de pesquisa na academia brasileira

Desde a década de 1970, dissertações e teses sobre o adventismo têm sido defendidas em universidades brasileiras, explorando diversas áreas em que a igreja exerce forte influência. Pensando nisso, recentemente o Unasp lançou o site ­plataformaschwantes.org, que tem o objetivo de reunir esses trabalhos. Trata-se de algo inédito no mundo adventista.

A iniciativa funciona de maneira integrada, abrangendo as cinco instituições de ensino superior da rede adventista no Brasil. “A Plataforma Schwantes é uma base de indexação que propõe uma sistematização, organização e análise da produção de conhecimento relacionado à confissão adventista na academia brasileira”, explica o doutor Allan Novaes, coordenador geral do projeto.

A plataforma já oferece acesso a mais de 200 teses e dissertações relacionadas à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Utilizando um mecanismo de busca intuitivo, os visitantes podem facilmente pesquisar por temas como “educação”, “saúde” e “comunicação”. Uma busca avançada permite a aplicação de filtros mais específicos, relacionados, por exemplo, ao local de publicação, campo da pesquisa, tipo de trabalho e instituição.

É possível observar que, entre 1972 e 2020, houve um aumento significativo do número de publicações sobre os adventistas. Porém, isso se acentuou ainda mais a partir dos anos 2000. Com uma base de dados como essa, será mais fácil saber qual o “estado da arte” ao pesquisar sobre algum tema relacionado ao advetismo.

O nome da plataforma é uma homenagem a Siegfried Júlio Schwantes, primeiro doutor adventista brasileiro. Após anos de experiência na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, onde obteve o título de doutor em Línguas Bíblicas e Antigo Testamento, Schwantes dedicou-se à Educação Adventista por mais de cinco décadas. Seus estudos foram imprescindíveis para o fortalecimento da pesquisa em todas as instituições adventistas.

A expectativa dos organizadores da Plataforma Schwantes é promover o fortalecimento da comunidade de pesquisadores adventistas no Brasil. Por isso, o doutor Allan destaca: “Estamos certos de que iremos atrair aqueles que pesquisam o adventismo e também contribuir para a formação de novos pesquisadores”.

VICTOR BERNARDO é estudante de Jornalismo no Unasp, campus Engenheiro Coelho (com colaboração de Ana Clara Silveira)

(Reportagem publicada na Revista Adventista de janeiro/2023)

Última atualização em 23 de janeiro de 2023 por Márcio Tonetti.