Estrutura funcional

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Cinco dicas para desenvolver uma cultura organizacional inovadora

Lowell C. Cooper
Foto: Adobe Stock

O Caminho do Bezerro”, poema satírico do norte-americano Sam Walter Foss, conta como uma trilha tortuosa deixada por um bezerro errante e sem rumo tornou-se uma passagem, uma viela, uma rua e, finalmente, uma avenida. As organizações podem seguir esse mesmo caminho quando a prática de certos procedimentos, outrora projetos para fins específicos, influenciam tanto a cultura institucional que acabam sendo protegidos por ela.

Por essa razão, uma das tarefas mais importantes da liderança de toda organização é abraçar a inovação, ou seja, a aplicação de soluções melhores em um ambiente modificado. Preservar o sistema e a estrutura como uma forma de proteger a missão institucional é uma tentação sutil para os líderes. Porém, onde isso é praticado, há ineficiência e ineficácia. Os sistemas são necessários, mas devem ser flexíveis o bastante para responder às mudanças internas e externas.

Como os grupos de liderança podem abraçar a inovação e, ao mesmo tempo, permanecer concentrados na missão? A história da Igreja Adventista do Sétimo Dia oferece algumas ideias. A reorganização da estrutura iniciada em 1901 trouxe mudanças radicais nos sistemas que haviam se tornado incômodos e descoordenados. Não é de admirar que alguns perguntem se, 120 anos depois desse processo de reorganização, nossa igreja não precisaria avaliar a eficácia de seus procedimentos e estrutura.

O objetivo deste artigo não é sugerir respostas para essa pergunta. Ao contrário, ele visa chamar a atenção para a forma pela qual os líderes podem criar uma cultura organizacional que incentive a inovação. A seguir estão cinco sugestões.

1. Pense em termos de oportunidades. Uma crise interna certamente pode ameaçar uma organização e levar a liderança da instituição, num primeiro momento, a reagir defensivamente. Entretanto, a ruptura também pode levar a mudanças positivas e duradouras. Mas isso exige uma mentalidade favorável a considerar novas maneiras de fazer as coisas. A pandemia atual tem representado um desafio inegável para aqueles que insistem em fazer as coisas como elas sempre foram feitas. Nessa crise global, organizações e indivíduos têm sido forçados a adotar formas alternativas de lidar com os problemas do dia a dia. Por exemplo, foi necessário reavaliar o modo de se conduzir as reuniões, a necessidade de viagens extensas e até mesmo a delegação de autoridade, tendo em vista que muitos problemas exigiram resoluções locais e imediatas.

2. Faça da inovação o negócio de todos. Em outras palavras, incentivar todos os funcionários ou membros de uma organização a pensar em novas soluções para os desafios atuais. Isso implica também abrir caminho para que as ideias sejam compartilhadas e criticadas e dar algum espaço para experimentações. Afinal, a centralização sufoca a inovação.

3. Ouça os novatos. Frequentemente os funcionários e membros novos serão os que vão questionar o que os veteranos aceitaram como normal e necessário. Os olhos deles podem ver mais claramente quais hábitos arraigados são nocivos. E suas perguntas e observações desafiam suposições infundadas, além de lançar um convite para se considerar formas alternativas de alcançar os resultados desejados.

4. Mantenha-se informado sobre as tendências tecnológicas. Segundo um relatório publicado pelo Instituto Global McKinsey em janeiro de 2017, cerca de metade de toda a força de trabalho global já poderia ter sido automatizada com a tecnologia disponível naquela época. Por isso, pergunto: Quando foi a última vez que você usou uma borracha para apagar algo? Um telefone público? Um mapa rodoviário de papel? Os tempos mudaram e continuam mudando. Logo, os administradores e líderes da igreja de hoje precisam se manter informados sobre as tendências que impactam diretamente a vida e a missão da organização. Não é necessário estar na vanguarda das mudanças tecnológicas, mas vivemos no século 21 e não podemos ignorar todas essas transformações.

5. Ouça o que o “Espírito diz às igrejas” (Ap 3:22). Seria loucura supor que não haja nada de novo para aprender em relação às coisas espirituais ou como a igreja deve se envolver na missão de Deus. Jesus prometeu que, quando o Espírito Santo Se manifestasse, Ele guiaria a igreja (Jo 16:13). E é exatamente isso que vemos no livro de Atos.

Os primeiros capítulos de Atos oferecem uma verdadeira escada de ascensão para novas percepções do que significa ser um seguidor de Cristo. Observe os exemplos a seguir: (1) Atos 2:1-12: o poder do Espírito Santo foi democratizado e todos ficaram maravilhados com isso; (2) Atos 8:1 e 4: a perseguição em Jerusalém dispersou os crentes, fazendo com que a missão avançasse para novos territórios; (3) Atos 9: a conversão de Saulo, seguida por seu chamado para o ministério, é como se um terrorista fosse transformado num evangelista; (4) Atos 10: o encontro de Pedro com Cornélio confronta o etnocentrismo e o preconceito dos judeus da época; (5) Atos 11:19-23: a igreja de Antioquia é estabelecida como resultado da iniciativa dos leigos, sem supervisão dos apóstolos; (6) Atos 15:1-29: o concílio de Jerusalém chega a uma nova compreensão sobre a teologia.

Em resumo, podemos perceber que o Espírito Santo manteve atualizado o mapa da missão para a igreja primitiva. Ele conduziu os crentes por meio de experiências que mudaram fundamentalmente a percepção e a expectativa deles. Com a orientação do Espírito, a igreja chegou, a partir do texto sagrado, a uma compreensão nova, ampla e mais profunda de Deus e dos Seus propósitos no mundo. O Espírito conduziu e convenceu a igreja de tal maneira que a mente dos primeiros cristãos foi alinhada com a de Deus. E esse é o movimento que gera o tipo de inovação mais essencial para nós.

LOWELL COOPER foi vice-presidente da sede mundial adventista. Ele e a esposa, Era, vivem em Kennewick (EUA)

(Artigo publicado na edição de setembro de 2020 da Revista Adventista / Adventist World)

Última atualização em 1 de outubro de 2020 por Márcio Tonetti.