Mistério revelado

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Livro comenta o Apocalipse a partir da perspectiva hebraica

André Vasconcelos e Eduardo Rueda


Frequentemente associado a tragédias e ao fim do mundo, o Apocalipse é um dos livros mais enigmáticos da Bíblia. Animais ferozes, seres angelicais, cavaleiros prontos para a batalha e trombetas anunciando juízo estão nas páginas desse livro aparentemente hermético, mas que, ao mesmo tempo, se intitula “revelação de Jesus Cristo”.

Como entender o significado de cada uma dessas imagens e seu respectivo valor teológico? Elas se referem a acontecimentos anteriores, contemporâneos ou futuros, desde a perspectiva de seu autor, que viveu no primeiro século da era comum?

Nesse sentido, Segredos do Apocalipse (CPB, 2023, 200 p.) oferece um ponto de vista essencial. Mergulhando nas Escrituras Hebraicas para trazer à tona ligações vitais com a revelação dada a João e relacionando esses vínculos a importantes fontes judaicas, a obra ajuda o leitor a decifrar os símbolos mais complexos do Apocalipse.

Além disso, esse comentário explora as relações com o santuário israelita, que articulam as transições e a evolução das cenas registradas no último livro da Bíblia, as quais encontram seu clímax no apogeu da história: a vinda gloriosa do Messias, o grande Dia do Senhor anunciado pelos profetas de Israel.

O livro está dividido em três seções e 12 capítulos, considerando prefácio, introdução e conclusão, que também comentam o texto bíblico. Na primeira seção, são discutidos os três ciclos de sete que cobrem os acontecimentos desde a época de Jesus até o juízo celestial. Ou seja, as cartas enviadas às setes igrejas, os selos e as trombetas. A segunda seção trata dos capítulos centrais do Apocalipse (12–14), que focalizam o tempo do fim. A terceira e última seção, por sua vez, revela o que acontecerá com os ímpios e os justos; do juízo à Nova Jerusalém.

Sendo um profundo conhecedor da cultura em que a Palavra de Deus foi originalmente escrita, o autor desta obra, ­Jacques ­Doukhan, empreendeu uma tarefa desafiadora. Ele propõe uma leitura do Apocalipse a partir de uma ótica principalmente hebraica, trazendo um novo olhar sobre o texto e permitindo ao leitor explorar a riqueza de suas conexões culturais, históricas e linguísticas.

Doukhan é um eminente teólogo adventista. Nascido na Argélia e de origem judaica, ele é pesquisador e professor emérito de Hebraico e Exegese do Antigo Testamento no Seminário Teológico da Universidade Andrews, nos ­Estados Unidos. É também o ­editor-geral do Comentário Bíblico Internacional Adventista do Sétimo Dia (Seventh-day Adventist International Bible Commentary) e autor do livro Segredos de Daniel, que antecede a presente obra.

Sem dúvida, o background cultural e religioso do autor ajuda o leitor a se aproximar do Apocalipse com os pressupostos corretos, isto é, de que o Apocalipse foi escrito por um judeu que creu em Jesus como Messias e aguardava ansiosamente o cumprimento das palavras de seu Mestre.

TRECHO


“Desde seu início, o livro está enraizado nos ‘segredos de Daniel’. A primeira palavra, ‘revelação’, indica que um segredo está para ser revelado. O termo ‘revelação’, ou ‘apocalipse’, vem do grego apokalypto e significa ‘revelar um segredo’. O verbo ‘revelar’ também é uma das palavras-chave do livro de Daniel (galah), no qual ocorre sete vezes. Como a primeira palavra do Apocalipse, ela também introduz visões proféticas e está associada com o termo ‘segredo’ (razah).

Esse eco do livro de Daniel na primeira palavra do Apocalipse sugere uma conexão especial entre as duas obras proféticas. As ‘revelações de João’ nos encaminham de volta aos ‘segredos de Daniel’” (p. 7).

ANDRÉ VASCONCELOS e EDUARDO RUEDA são editores na CPB

Última atualização em 2 de agosto de 2023 por Márcio Tonetti.