Oração pelo enfermo

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A cura completa vai além da dimensão física

Frank M. Hasel

Foto: Adobe Stock

Esta história aconteceu logo que mudei de distrito. Um membro da nova igreja solicitou a unção. Klaus (nome fictício) era um senhor ativo na congregação, pai de duas adolescentes, e estava muito doente. O câncer havia alcançado diferentes partes do corpo, e seus ossos estavam todos porosos, como era possível ver nos exames de radiografia e tomografia.

Os médicos do hospital universitário tinham agendado mais uma importante bateria de exames para constatar o progresso da doença. Assim, poderiam planejar os próximos procedimentos a serem realizados no irmão Klaus.

A situação era extremamente séria, pois não existia esperança médica de que ele vivesse por muito tempo. Klaus sabia da urgência de sua condição e pediu uma oração especial, como a descrita em Tiago 5:13 a 16.

LIÇÃO DE HUMILDADE

Convidei o ancião, o líder dos diáconos e alguns membros fervorosos da igreja para visitar a casa do irmão Klaus e realizar a cerimônia da unção. O encontro foi uma aula sobre humildade. Com muita fé, entregamos a vida dele novamente nas mãos de Deus, confiantes de que Ele poderia ­curá-lo. Agimos na certeza de que Klaus estaria seguro com o Senhor, não importando os resultados clínicos.

Alguns dias se passaram e, durante os exames no hospital universitário para conferir o avanço da doença, foi constatado que o câncer havia desaparecido. A porosidade de seus ossos havia sumido. Ele estava curado!

Os médicos, que não eram cristãos, não acreditavam no que estavam vendo. Segundo eles, aquilo só poderia ser um milagre.

Essa experiência me ensinou que Deus ainda cuida de nós e que milagres acontecem em nossos dias. E mais: algumas vezes, basta um ato humilde de fé da nossa parte para que Deus faça coisas extraordinárias.

DOIS ANOS DEPOIS

Ao avançarmos rapidamente no tempo, temos o testemunho de uma senhora muito comprometida com a igreja. Na faixa dos quarenta anos de idade, mãe de três adolescentes, ela também foi diagnosticada com câncer. Assim como Klaus, ela era um exemplo de fé.

A mulher que lutava contra essa doença agressiva, que ­ameaçava sua vida, era minha esposa. No início das complicações, ela pediu para ser ungida. Conversei com o pastor da igreja e, então, nos reunimos em nossa sala para orar e realizar a unção. Lembro-me de que clamamos com fé sincera e profunda.

Fazemos bem em não impor ao Senhor a realização dos feitos conforme nossa visão restrita

No fim de sua luta, quando humanamente as coisas não pareciam promissoras, minha esposa pediu uma segunda unção. Voltamos a nos reunir em um momento comovente, no qual entregamos mais uma vez a vida dela a Deus. Oramos fervorosamente, confiantes de que Ele poderia curá-la. Ela depositou a vida nas mãos divinas e tínhamos certeza de que o Senhor tinha ouvido as orações. Porém, algumas semanas depois, minha esposa faleceu.

UNÇÃO E TRADIÇÃO

Acompanhei pessoas milagrosamente curadas após serem ungidas, e vi outras, que tinham grande fé, morrerem. A unção obviamente não é uma ação automática que resulta em cura física. Infelizmente, parece que olhamos para essa cerimônia pelo viés da tradição católica.

A unção dos enfermos é um dos sete sacramentos da Igreja Católica Apostólica Romana. Eles são vistos como canais místicos da graça divina e, costumeiramente, a unção é conduzida como o último rito, quando a morte é iminente. Por isso, na tradição católica, ela é chamada de extrema-unção. No entanto, o relato bíblico em Tiago 5:13 a 16 apresenta um quadro diferente.

EXEMPLO NA BÍBLIA

De acordo com a descrição em Tiago, a unção não é exclusiva para casos de doenças terminais. A palavra grega usada em Tiago 5:13, traduzida para o português como sofrendo, é ­kakopathei. Sua descrição não é restrita a complicações físicas, mas inclui a sensação de dano ou dor emocional. É usada para descrever o sofrimento, o infortúnio e as dificuldades suportadas pacientemente. Em outras passagens do Novo Testamento, a mesma palavra ou palavras relacionadas descrevem sofrimento mental e psicológico (2Tm 1:8; 2:3, 9; 4:5).

Essa ideia é apoiada em Tiago 5:14, onde a palavra grega para doente é asthenei. Trata-se de um termo amplo que designa doença, mas também o fato de estar fraco ou necessitado. No contexto da passagem, Tiago menciona Jó (Tg 5:11) e Elias (Tg 5:17). Jó estava doente fisicamente, e Elias caiu em depressão profunda depois dos atos poderosos de Deus no monte Carmelo. Dessa maneira, ­percebe-se que a oração pelos doentes abrange aqueles que sofrem com doenças físicas e psicológicas, os que estão fracos e os necessitados.

A Bíblia nos diz que a oração feita com fé (Tg 5:15) salvará o enfermo. A palavra grega para salvar não é usada apenas para a cura física, mas também para expressar a salvação em Cristo. Ou seja, ao lermos que o Senhor levantará a pessoa, isso não significa uma promessa de deixar alguém em posição ereta. Ainda que possa incluir cura física, essa oração é uma referência ao perdão dos pecados.

ENTENDIMENTO E APLICAÇÃO

Quando buscamos a cura divina, devemos aprender que, embora Ele deseje sinceramente curar a todos nós, é preciso manter a responsabilidade de viver em harmonia com os princípios das Escrituras. Para o Senhor, no conflito cósmico entre o bem e o mal, há elementos mais importantes do que nossa saúde física e a cura: a fidelidade a Ele e a saúde espiritual.

Não sabemos se as bênçãos que desejamos serão o melhor para nós. Por sua vez, Deus sabe de tudo. Conhece até mesmo as coisas que nós, seres humanos com perspectiva limitada, não conhecemos. Por isso, fazemos bem em não impor ao Senhor a realização dos feitos conforme nossa visão restrita. Devemos confiar Nele e em Sua liderança.

O Eterno sabe o que é melhor para cada um de Seus filhos, seja a cura física ou a restauração espiritual com o perdão dos pecados, para que tenhamos paz com Ele.

FRANK M. HASEL é diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica, na sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia

(Artigo publicado originalmente na Revista Adventista de junho/2023)

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Última atualização em 19 de setembro de 2023 por Márcio Tonetti.