Paz do Espírito

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Entenda por que, em diversas partes das Escrituras, o sentimento de paz é associado à presença do Espírito Santo na vida do cristão
Créditos da imagem: Fotolia
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Em seu livro O Grande Amigo de Deus, a escritora cristã Taylor Caldwell faz um comentário a respeito da cidade de Roma na época do apóstolo Paulo, que mais se parece com uma descrição da sociedade contemporânea. As razões para o declínio do império romano foram sintetizadas pela autora da seguinte forma:

“Permissividade social, imoralidade, o descaso com o bem-estar do povo, guerras infindáveis, elevada taxa de confisco, a destruição brutal da classe média; desprezo cínico pelas virtudes, princípios e ética humanas consagradas. Busca da riqueza materialista, abandono da religião, políticos venais que lisonjeiam as massas em troca de votos, inflação, deterioração do sistema monetário, suborno, criminalidade, distúrbio, atividades incendiárias, manifestações de rua; libertação de criminosos a fim de gerar caos e terror, conduzindo a uma ditadura ‘em nome da emergência’; perda da firmeza masculina e feminização do povo, escândalo nos cargos públicos, pilhagem do erário, endividamento, a atitude de ‘vale-tudo’, tolerância diante da injustiça e da exploração, burocracias e burocratas baixando ‘regulamentos’ perversos quase que semanalmente, centralização do governo, desprezo do público pelos homens bons e honrados e, acima de tudo, a filosofia de que ‘Deus está morto’ e o homem reina soberano.”

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Ela não poderia ter sido mais precisa. Ainda assim, é possível reduzir seu comentário a uma sentença mais curta. Se analisarmos com atenção o quadro de cada sociedade ao longo dos séculos, perceberemos que os problemas basicamente giram sempre em torno de duas questões: o sensualismo desenfreado e um apego exacerbado ao dinheiro e às coisas que ele traz. Quero me ater a esse último.

Fome, opressão e tirania são basicamente os ingredientes da maioria das notícias que acompanhamos diariamente nos telejornais ou internet. A raiz do problema não diz respeito à falta de inovação científica ou tecnológica, mas à intransigente cobiça humana e à “lei” segundo a qual os fins justificam os meios.

O que o mundo vivencia hoje é o caminho inverso daquilo que Jesus ensinou no evangelho de Mateus: “Mas ajuntai para vós outros tesouros no Céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mt 6:20). À semelhança do jovem rico (Mt 19:16-22; Mc 10:17-22; Lc 18:18-23), muitas pessoas se apegam às coisas na esperança de que elas satisfaçam o vazio do coração.

Em suas mensagens, Jesus chamou a atenção para um bem que, por ser infinitamente inestimável, está além do alcance dos homens mais ricos do planeta. Ele diz: “Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá” (Jo 14:27a, NVI). Jesus está tentando dizer que a posse que Ele tem para dar não pode ser encontrada nas coisas deste mundo. É preciso notar que o verso diz que Jesus nos “dá” paz. Não é possível comprá-la, negociá-la, emprestá-la: cada um precisa receber por si. Ela é concedida no nível pessoal, de graça!

O sentimento de paz está associado ao Espírito Santo em diversas partes da Bíblia (Rm 8:6; 14:7; 15:13; Ef 4:3). Porém, uma das declarações mais notáveis é encontrada em Gálatas 5:22, 23, onde a paz é apresentada como um dos resultados da ação do Espírito Santo no coração. Segundo o que podemos inferir dessa passagem, quando a paz do Céu entra na nossa vida, ela não vem sozinha; mas chega acompanhada de amor, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Por essa razão, Jesus insistiu que devemos orar para que Deus nos conceda o Espírito Santo (Lc 11:13). Em João 14:13, Ele diz: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei”. Numa análise rápida, o leitor pode olhar para esse verso e concluir que a oração funciona como a lâmpada do Aladim no livro de ficção árabe As Mil e Uma Noites. Porém, basta avançar três versos para encontrar a afirmação: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade” (Jo 14:16, 17). Em outras palavras, Jesus está dizendo que, se pedirmos o Espírito Santo, nós O receberemos. Conforme menciona o livro de Atos (1:4), mesmo na sua ascensão, Jesus continuou insistindo sobre a nossa necessidade de recebermos o Espírito Santo: “Não vos ausenteis de Jerusalém, mas esperai a promessa do Pai, a qual de mim ouvistes.” De fato, durante Seu ministério, diversas vezes Jesus fez referência à promessa da vinda do Espírito Santo (Lc 24:29; Jo 14:16, 17; 14:26; 15:26; 16:7-15).

Quando Deus quer realizar uma grande obra na vida de uma pessoa, primeiro Ele atrai essa pessoa para perto de Si, por meio de Seu Espírito. Ele tem um chamado especial para cada um de nós a fim de ministrarmos a outras pessoas. Porém, antes de realizar uma obra através de nós, primeiro Ele realiza uma obra em nós. Antes de conquistarmos o mundo exterior, primeiro é preciso conquistar o mundo interior. Paz, amor, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio são os elementos necessários para uma vida de utilidade, sem os quais nossa esfera de influência para o bem é radicalmente diminuída.

A Bíblia mostra que, se permanecemos em Cristo e no Espírito, podemos pedir qualquer coisa, que o Pai Celestial nos atenderá (Mt 7:7-11; 21:22; Lc 11:9-13; Jo 15:7; 16:23-24). Porém, como João nos adverte, precisamos nos certificar de que nossas petições estão de acordo com a vontade divina (1Jo 3:21, 22; 5:14, 15). Se temos o Espírito Santo, temos tudo: essa é a posse de todas as posses; o maior e melhor tesouro que podemos acumular na terra!

NILTON AGUIAR, mestre em Ciências da Religião, é professor de grego e Novo Testamento na Faculdade Adventista da Bahia e está cursando o doutorado em Novo Testamento na Universidade Andrews (EUA)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.