Jogada de líder

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As lições que um técnico de basquete ensinou ao mundo sobre ter equilíbrio entre vida pessoal e profissional
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No dia 12 de junho, a NBA, liga de basquete norte-americana, conheceu seu mais novo campeão. Jogando em Oakland, Califórnia, o Golden State Warriors conquistou seu quinto título nacional, vencendo o Cleveland Cavaliers. Os cinco jogos das finais foram emocionantes e colocaram em lados opostos jogadores de grande talento como Kevin Durant e LeBron James, e Stephen Curry e Kyrie Irving.

Embora esse grande feito certamente tenha lições interessantíssimas sobre liderança, para mim, a atitude recente de um ex-jogador do Golden State Warriors se destacou mais do que o próprio título da franquia californiana.

Você já ouviu falar de Sarunas Jasikevicius? Esse lituano de 41 anos jogou em 2007 pelo Warriors e tem seu currículo repleto de títulos, tanto como jogador quanto como técnico. Atualmente, ele está à frente do Zalgiris Kaunas, time de basquete da primeira divisão da Lituânia. Considerado um dos grandes nomes do esporte em seu país, recentemente Sarunas teve uma de suas entrevistas viralizadas por conta de um posicionamento surpreendente nas semifinais do campeonato nacional.

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A decisão de Sarunas em relação ao pivô brasileiro Augusto Lima em um momento importante, tanto para o time quanto para o jogador, demonstrou sensibilidade e despertou uma reflexão indispensável no que diz respeito à dinâmica da vida pessoal e profissional. Apesar dos discursos politicamente corretos de que a família é mais importante do que o trabalho, a mentalidade subjacente de boa parte do mundo ocidental é a de que “não é bem assim”. Uma das evidências disso é a argumentação infeliz do jornalista que entrevistava o técnico.

Para ampliar ainda mais a discussão, um estudo dirigido por Betânia Tanure, Antonio Carvalho Neto e Juliana Oliveira Braga demonstrou que 84% dos executivos brasileiros são infelizes no trabalho; 58% acham que os cônjuges estão descontentes com o ritmo excessivo de trabalho deles; e 54% estão insatisfeitos com o tempo dedicado à vida pessoal (para saber mais sobre a pesquisa, clique aqui). Ou seja, estar no topo de uma organização não é sinônimo de satisfação, muito menos de uma vida familiar feliz, que usufrui dos recursos obtidos pelo sucesso.

Desse modo, é oportuno meditar a respeito de como devemos tratar a relação entre a vida familiar e a vida profissional. Nesse ponto, a Bíblia também tem algo importante a dizer. Quando as primeiras comunidades cristãs começaram a ser organizadas, o apóstolo Paulo instruiu dois de seus associados, Timóteo e Tito, a estabelecer igrejas em diversos locais. Entre suas recomendações estava o perfil de líder que as congregações deveriam ter (1Tm 3:1-7; Tt 1:6). Chama atenção a importância que ele dá à família do dirigente da igreja. Em suas duas cartas, Paulo salientou os mesmos pontos: o líder deveria ser fiel à sua esposa (e, consequentemente, à família) e educar seus filhos de modo adequado, de acordo com as instruções bíblicas.

Embora o contexto primário dessas passagens esteja relacionado com a liderança eclesiástica, engana-se quem não enxerga nas orientações apostólicas princípios que transcendem os limites espirituais e alcançam nossa vivência moderna. Afinal, é impossível compartimentalizar a vida e achar que as ocorrências do lar não refletem no trabalho. Além disso, é no ambiente doméstico que retiramos as máscaras e demonstramos quem, de fato, somos. Portanto, a orientação bíblica mexe com alguns temas de grande interesse para a ciência da liderança contemporânea.

Em primeiro lugar, fala de integridade moral. Se alguém não pode ser fiel ao seu cônjuge, como esperar que seja leal à sua organização? Em seguida, fala de coerência, pois que pai ou mãe consegue educar seus filhos com êxito sem contar com esse ingrediente poderoso? Ademais, que líder pode ser eficiente sem ser coerente? Por último, mas agregando os elementos anteriores, as recomendações de Paulo falam de confiança, característica fundamental no perfil dos grandes líderes. No fim das contas, se o líder não inspirar confiança junto a sua família, dificilmente o fará à frente de sua organização.

Assim, o líder que busca equilíbrio e êxito primeiramente na família terá melhores condições de agir de modo equilibrado e bem-sucedido no trabalho. Aliás, a filha de Augusto Lima, Alba, nasceu com saúde, ele foi um dos destaques das finais do campeonato lituano e seu time, comandado por Sarunas Jasikevicius, ganhou mais um título para a coleção.

WELLINGTON BARBOSA, graduado em Teologia e Administração, é editor na Casa Publicadora Brasileira e cursa o doutorado em Ministério na Universidade Andrews (EUA)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.