Quando o inesperado testa nossa fé
Pablo Canalis

Valentina conversava com a mãe quando sentiu uma dor muito forte no lado inferior direito do abdômen. A sensação era tão intensa que veio acompanhada de náusea. Desesperada, a garota buscou alguma posição que aliviasse o desconforto, mas nada parecia resolver. Assustada, a mãe tentou apalpar o abdômen da filha para verificar se havia algo estranho, mas, ao encostar na barriga de Valentina, ela gritou de dor. Desesperada, a mãe chamou o esposo para levá-las ao hospital.
Cada ondulação na estrada era uma tortura para a jovem, pois a dor aumentava consideravelmente. Chegando ao hospital, a gravidade da situação foi rapidamente constatada pela enfermeira, que classificou Valentina como paciente prioritária. Providencialmente havia um cirurgião de plantão, que logo identificou a doença da garota: apendicite aguda. Administraram soro, solicitaram exames e prepararam com urgência uma sala no centro cirúrgico.
O médico saiu para conversar com a mãe, que aguardava na recepção, e explicou o procedimento necessário. Aflita, ela sentiu a pressão baixar e precisou se sentar rapidamente. Com voz trêmula, disse ao médico: “Faça o que for preciso, mas salve minha filha, doutor!” O pai, que havia acompanhado a conversa, voltou a entrar no quarto para ver a jovem. Segurando a mão dela, disse-lhe que teria que passar por uma cirurgia. Tomada pela dor intensa, Valentina estava disposta a aceitar qualquer coisa para que fosse curada. Com um leve aceno de cabeça, sinalizou ao pai que concordava com o procedimento.
Deus nos oferece a oportunidade de conhecê-Lo antes que imprevistos e provações aconteçam, fortalecendo nossa fé
Enquanto Valentina era levada ao centro cirúrgico, um pensamento insistente tomou conta de sua mente: “E se eu não voltar dessa cirurgia?” O medo tentou dominá-la, mas ela se lembrou da história dos três amigos de Daniel e de como eles enfrentaram um rei furioso (Dn 3). A confiança daqueles homens era tão extraordinária que nem a possibilidade da morte os abalava. Como resultado, puderam vivenciar dois milagres: andar no meio do fogo e ver o Filho de Deus.
Inspirada por essa história, Valentina decidiu confiar. A cirurgia transcorreu bem e, pouco tempo depois, ela acordou na sala de recuperação. Ao abrir os olhos, viu a mãe sorrindo com lágrimas nos olhos; um olhar que refletia a superação do medo e a imensa alegria de saber que estava tudo bem.
Lidar com o inesperado é desafiador. Há surpresas que trazem alegria, mas também há aquelas que nos deixam completamente desorientados, sem tempo para pensar, avaliar possibilidades ou tomar decisões com calma. Valentina e seus pais se viram obrigados a confiar em alguém que não conheciam, mas que demonstrava segurança e competência. Encontrar aquele homem em qualquer outro contexto poderia suscitar dúvidas sobre confiar ou não nele. No entanto, no hospital, uniformizado, utilizando terminologia médica e sendo chamado de doutor pelas pessoas, ele transmitia a credibilidade necessária para que a família confiasse e se entregasse àquele cuidado.
Com Deus, precisamos colocar em prática a nossa fé. Ele nos dá provas suficientes para compreender Sua divindade. As pessoas falam sobre Ele, mas, o mais extraordinário é que Ele nos oferece a oportunidade de conhecê-Lo antes que imprevistos e provações aconteçam, fortalecendo nossa fé. Ele é o Senhor e sabe o que é melhor para cada um de nós. Confie!
PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção “Em Família” da Revista Adventista de março/2025)
Última atualização em 20 de março de 2025 por Márcio Tonetti.