Verdade que consola

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As implicações práticas da crença na imortalidade condicional

Wellington Barbosa

Imagem: Adobe Stock

Um dos ensinamentos que mais me impressionou durante o período em que recebi estudos bíblicos foi a respeito da imortalidade condicional. A apresentação do tema para mim era muito lógica. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento apontam para a seguinte compreensão: (1) Deus criou o ser humano do pó da terra, soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente (Gn 2:7); (2) o pecado, a rebelião contra o Senhor e Sua vontade, ocasiona a morte (Rm 5:12); (3) podemos explicar didaticamente a morte por meio de uma equação: pó da terra [–] fôlego de vida = cadáver (Ec 12:7); (4) por se degenerarem completamente, os mortos deixam de existir; assim, não podem interagir de nenhuma maneira com os vivos (Ec 9:5, 6); (5) a esperança de viver novamente está centralizada no segundo advento de Jesus (Jo 5:28, 29); e (6) a eternidade será desfrutada apenas por aqueles que entregaram a vida a Cristo (1Ts 4:13-17).

Devo confessar que, por muito tempo, enxerguei essa crença de maneira bastante racional, com pouca reflexão a respeito de suas implicações emocionais, até que uma experiência mudou meu ponto de vista.

Certa ocasião, estava conduzindo uma série de conferências evangelísticas sobre o Apocalipse em uma das congregações do distrito que pastoreava. Após terminar o estudo a respeito da morte, enquanto me despedia das pessoas à porta da igreja, fui abordado por uma convidada que aparentava estar bastante impactada com a mensagem. Com a feição marcada pelo sofrimento, ela começou a me contar sua história.

A verdade bíblica sobre a morte vai além da explicação teológica sobre a natureza e finitude humana

“Pastor, eu tive um único filho, que procurei educar nos caminhos de Deus. Infelizmente, na adolescência ele começou a andar com más companhias, usar drogas e cometer assaltos. As coisas foram piorando, até o dia em que ele foi morto numa troca de tiros com a polícia. No velório dele, além de sentir a dor da perda, tive que ouvir os cochichos daqueles que diziam: ‘É uma pena o que aconteceu com esse rapaz. Para ele não tem salvação: foi pro inferno!’”

Quando chegou nesse ponto do relato, aquela mulher respirou fundo e continuou: “Muito obrigada, pastor, por ter me ensinado a verdade. Desde o dia em que sepultei meu filho até hoje, eu sofria com a ideia de que ele realmente estivesse sendo atormentado pelo fogo. Agora, aprendi que descansa no pó da terra. Não sei se ele teve tempo de clamar por salvação antes de morrer, mas posso alimentar a esperança de reencontrá-lo quando Jesus voltar. Se isso não ocorrer, sei que Deus é justo e enxugará minhas lágrimas. Até lá, posso voltar a dormir em paz.”

A verdade bíblica sobre a morte vai além da explicação teológica sobre a natureza e finitude humana. Ela oferece uma perspectiva adequada em relação à maneira de viver; proporciona a serenidade necessária para lidar com o fim da existência; consola os enlutados, ao certificar que os entes falecidos não experimentam qualquer tipo de sofrimento; alimenta a esperança do reencontro na segunda vinda de Cristo; e motiva a preparação espiritual para aquele glorioso Dia. Dessa maneira, ressignificamos a vida, encaramos a morte e nos preparamos para a eternidade. 

WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista

(Editorial da edição de novembro/2024)

Última atualização em 1 de novembro de 2024 por Márcio Tonetti.