A história da primeira sede administrativa adventista no Brasil
Ronaldo Vicente

No fim do século 19, um pequeno vilarejo chamado Campo dos Quevedos, situado em São Lourenço do Sul (RS), foi palco do nascimento de uma das primeiras igrejas adventistas do território gaúcho. Esse avanço só foi possível porque, anos antes, a pequena colônia alemã havia recebido colportores provenientes da Pomerânia.
Nascido nesse município, o pastor Alberto R. Timm, diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI), destaca que essa congregação teve papel fundamental na expansão da mensagem adventista no Rio Grande do Sul. “Dela surgiram ondas de adventismo que prosperam em vários lugares”, afirma.
No entanto, a chegada da mensagem adventista a essa região enfrentou desafios em seus primórdios. Muitos moradores, influenciados pelas tradições religiosas locais, mostraram resistência à nova fé. Apesar das dificuldades, os missionários adventistas perseveraram em sua missão. Durante o dia, vendiam literatura religiosa de porta em porta; à noite, reuniam-se para estudar a Bíblia com famílias interessadas. Em uma dessas reuniões, realizada na casa da família Fehlberg, três irmãos, acompanhados de um amigo, chegaram com a intenção de espancar e apedrejar os conferencistas.
Naquela noite, o estudo tinha por base o capítulo 2 do livro de Daniel. Conforme o tema era desenvolvido, Gustavo Timm, o mais velho do grupo, passou a prestar atenção. De tempos em tempos, seus companheiros o questionavam se não era aquele o momento de executar o plano contra os “hereges”, mas ele os convencia a esperar um pouco mais. A punição ficou para a reunião seguinte.
No entanto, os jovens continuaram a participar dos estudos e, com o tempo, aceitaram a fé adventista. Gustavo enfrentou resistência em casa por parte de sua esposa, irmã de Alberto Fehlberg. Porém, mais tarde, ela também decidiu se unir à nova crença, e toda a família passou a integrar a comunidade adventista.
Os novos convertidos da região uniram esforços para construir o primeiro templo adventista de alvenaria no Rio Grande do Sul. Enquanto isso, a cerca de 320 quilômetros dali, outra instituição estava surgindo. Na cidade de Taquari (RS), uma propriedade adquirida para a construção de um colégio missionário tornou-se a sede do primeiro escritório administrativo adventista no Brasil: a Associação Sul-Rio-Grandense (ASR).
Passados 120 anos, a comunidade adventista reuniu-se para louvar a Deus e celebrar o legado dos pioneiros. “Eventos como esse são fundamentais para a igreja, porque nos vinculam ao passado e mostram nossas raízes”, afirmou o pastor Elias Brasil, diretor do BRI, durante as comemorações. Devido às enchentes que atingiram o estado em 2024, a celebração precisou ser realizada no ano seguinte à data histórica.

“O impacto dos pioneiros na região sul teve reflexos significativos para o adventismo no Brasil. Até hoje, encontramos descendentes diretos desses pioneiros que mantêm viva a chama da fé e da missão. Esse legado também se perpetua nos novos convertidos, que, mesmo sem laços de sangue com os pioneiros, herdam esse espírito de engajamento e esperança no cumprimento das promessas bíblicas e na volta de Cristo”, destaca o pastor Tiago Fraga, presidente da ASR.
O secretário-executivo da Igreja Adventista em nível mundial, pastor Erton Köhler, que também esteve presente na celebração, ressaltou a relevância histórica da região. “Esta é uma terra de pioneiros que, com ousadia e desejo de alcançar novos territórios, ajudaram a levar o evangelho a todo o Brasil”, enfatiza.
RONALDO VICENTE é assessor de comunicação da Associação Sul-Rio-Grandense
Última atualização em 25 de março de 2025 por Márcio Tonetti.