Interpretação correta

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Teólogo do Instituto de Pesquisa Bíblica aborda os fundamentos da hermenêutica adventista diante das releituras críticas das Escrituras

Márcio Tonetti

Crédito: arquivo pessoal

Em uma época em que a autoridade da Bíblia tem sido atacada por diferentes ideologias, torna-se fundamental reafirmar os princípios que devem nortear a interpretação das Escrituras. Nesta entrevista, o teólogo Alberto R. Timm, diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica, aborda um dos temas discutidos no 15º Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano, realizado recentemente na Faculdade Adventista da Amazônia (Faama): os fundamentos da hermenêutica adventista, a relação dos pioneiros com as Escrituras e os desafios interpretativos que hoje ameaçam a igreja.

Qual é a importância da hermenêutica e quais princípios devem nortear a interpretação da Bíblia?

A história do cristianismo é, como disse o teólogo Gerhard Ebeling, “a história da interpretação das Escrituras Sagradas”, com novas interpretações especulativas da Bíblia se acumulando ao longo dos séculos. Uma interpretação honesta das Escrituras deve permitir que elas interpretem a si mesmas. Para isso, são fundamentais os princípios da Sola Scriptura (a exclusividade das Escrituras) e da Tota Scriptura (a totalidade das Escrituras). Nesse processo, os escritores bíblicos posteriores nos ajudam a interpretar corretamente os escritos anteriores, como ocorre no caso do Novo Testamento em relação ao Antigo Testamento.

Como os pioneiros do adventismo se relacionavam com as Escrituras?

Os pioneiros consideravam a Bíblia a infalível Palavra de Deus e seu único credo. Para eles, o relato de Gênesis 1 a 11 e os demais milagres registrados na Bíblia eram eventos históricos confiáveis. Levavam a sério os princípios mencionados e adotavam o método histori-cista de interpretação profética, enxergando o cumprimento das profecias bíblicas ao longo da história humana. Além disso, criam que, como parte do movimento adventista, estavam cumprindo as profecias sobre a restauração final da verdade em preparação para a Segunda Vinda de Cristo (Dn 8:9-14; Ap 12:17; 14:6-12).

Quais foram as principais fases que marcaram a história da interpretação bíblico-adventista?

Em minha reflexão sobre a história da interpretação bíblico-adventista, identifiquei quatro períodos distintos: (1) definições hermenêuticas (1844-1863), (2) consolidação hermenêutica (1863-1915), (3) aprimoramentos hermenêuticos (1915-1970) e (4) desafios e refinamentos hermenêuticos. Cada fase apresentou desafios, mas também deixou um legado significativo para a interpretação bíblica.

Quais desafios a igreja enfrenta hoje em relação à interpretação da Bíblia?

Atualmente, diversas releituras críticas (socioculturais, psicológicas, ideológicas, entre outras) minam a autoridade normativa da Bíblia e seu poder trans-formador. Dessa forma, as Escrituras acabam sendo adaptadas subjetivamen- te aos interesses do leitor, deixando de servir como norma de conduta.

De que forma nossa literatura tem contribuído para o aprofundamento teológico da igreja e a preservação da identidade adventista?

Temos duas categorias básicas de recursos que nos auxiliam na correta interpretação do texto bíblico. A  primeira inclui livros que apresentam princípios e métodos adequados de interpretação, como Hermenêutica Bíblica, recentemente publicado pela CPB. A segunda abrange comentários bíblicos que aplicam esses princípios na prática da interpretação, como os nove volumes da Série Logos e os quatro volumes do Comentário Bíblico Andrews. Esses são recursos de grande valor! 

(Entrevista publicada na Revista Adventista de abril/2025)

Última atualização em 9 de abril de 2025 por Márcio Tonetti.