Como as diferentes fases da vida moldam relacionamentos
Pablo Canalis
Cláudia tinha uma vida social muito ativa. Aonde quer que fosse, fazia amigos. Em um acampamento, conheceu Marcelo. Após trocarem algumas mensagens e identificarem afinidades, decidiram investir no relacionamento. Embora fosse a distância, conseguiam se ver com frequência, pois as cidades em que moravam estavam a apenas 100 km de distância uma da outra. Com o tempo, Marcelo conseguiu se mudar para a cidade de Cláudia e, depois de um ano e meio de relacionamento, decidiram se casar.
A vida social de Marcelo não era tão ativa quanto a de Cláudia, mas ambos notaram que quando começaram a namorar, as saídas, os grupos e as atividades começaram a mudar. Eles se sentiam muito mais confortáveis com amigos que estavam na mesma fase do relacionamento. Quando estavam namorando, tinham a tendência de se aproximar de casais de namorados. Contudo, depois de casados, as amizades migraram para casais recém-casados ou sem filhos. Isso durou até que Cláudia ficou grávida. Agora, o mundo parecia se resumir a carrinhos de bebê, roupinhas, filas prioritárias e disputas pela vaga de gestante no estacionamento do supermercado.
Então, nasceu Ana Júlia. Rapidamente, perceberam algo curioso: compartilhar experiências com casais de amigos sem filhos já não parecia a mesma coisa. Novamente, as amizades migraram para casais que estavam passando pela mesma fase que eles. As conversas giravam em torno de fraldas, chupetas, roupinhas baratas, ofertas de mercado, leite em pó, mamadeiras e, claro, o sono: o bem mais almejado!
Um dia, Cláudia ficou chateada porque tentou conversar com uma amiga que ainda estava solteira. Trocaram ideias por alguns dias, mas, depois, a amiga começou a demorar para responder às mensagens, o que causou um distanciamento evidente. Quando Cláudia tocou no assunto, a amiga, de maneira objetiva, falou que achava enfadonho dialogar sobre bebês, fraldas e dor ao amamentar.
De fato, as diferentes fases da vida demandam mudanças nas amizades. No entanto, isso tem seu valor e protege o casal de muitos conflitos. Imagine uma mulher que não aceita a possibilidade de mudar de vida e assumir as responsabilidades de esposa ou mãe. O que aconteceria se o homem continuasse se comportando como um adolescente, sem entender a fase em que está vivendo, como profissional, esposo e pai?
Cuidar para que as amizades sejam coerentes e adequadas ao momento é fundamental para manter um bom convívio, inclusive no núcleo familiar. As influências externas podem destruir um casal, por isso é necessário estar atento. Lembre-se de que amizades que possuem princípios sólidos nos fortalecem!
PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade
(Texto publicado originalmente na seção “Em família” da Revista Adventista de maio/2025)
Última atualização em 9 de junho de 2025 por Márcio Tonetti.