Pastor ucraniano usa a criatividade para manter o foco na missão
Ruben Dargã Holdorf
Os ruídos de aeronaves e o som de explosões despertaram todos no Instituto Ucraniano de Humanidades (UGI), em Butcha, às 5h20 do dia 24 de fevereiro de 2022. Diante da situação, a administração do campus reuniu alunos e funcionários para organizar a evacuação. Na época, Oleksandr Daryenko era estudante do último ano de Teologia e Jornalismo. Segundo ele, apesar do medo, não havia pânico entre as pessoas. Meses depois, Daryenko voltou ao UGI para concluir suas graduações. Atualmente, serve como pastor na região montanhosa dos Cárpatos, na fronteira com a Romênia, onde emprega a criatividade para motivar os membros ao serviço e testemunho da fé.
Como era a igreja antes da guerra e como ela reagiu ao conflito?
Quase todas as congregações da Ucrânia perderam entre 20% e 50% de seus membros. É importante observar que, após a pandemia de Covid-19, a atividade da igreja já havia diminuído, pois muitas pessoas se adaptaram rapidamente ao conceito de cultos on-line, o que resultou na redução da frequência presencial. Quando a possibilidade de um conflito em larga escala ainda era apenas especulação e rumores – embora nem todos acreditassem que pudesse se concretizar –, muitas pessoas deixaram suas casas e se mudaram para o exterior por diferentes razões. Elas permanecem fora do país até hoje, pois o pior cenário se tornou realidade. Apesar das dificuldades, as congregações continuam ativas. Em regiões onde a ameaça à vida é maior – especialmente nas áreas mais próximas à Rússia –, a frequência às congregações até aumentou. Deus pode usar até mesmo as circunstâncias mais adversas como instrumentos de bênção.
Relate-nos uma experiência impactante vivenciada durante a guerra e que mostra a mão protetora do Senhor sobre Seu povo.
Uma das experiências mais marcantes que vivi aconteceu no primeiro dia da invasão em larga escala. Naquela época, eu estava concluindo meus estudos no Instituto Ucraniano de Humanidades. Fui despertado por batidas na porta – era meu vizinho, informando que a guerra havia começado. Minha esposa, Alina, e eu, sem compreender completamente a gravidade da situação, custamos a acreditar. No entanto, quando um míssil atingiu Hostomel, a apenas dez quilômetros de distância, nossas janelas tremeram e sentimos o choque através do chão. Achávamos que Butcha não seria ocupada, mas a administração do instituto adventista decidiu evacuar. Como não havia veículos suficientes para todos, meus amigos e eu planejamos esperar pela segunda onda de evacuação no dia seguinte. No entanto, a vontade de Deus foi diferente. De forma inesperada, mais carros ficaram disponíveis, um ônibus quebrado voltou a funcionar de repente e, no fim, havia espaço suficiente para todos.
O que aconteceu ao campus após essa primeira retirada?
Em 27 de fevereiro de 2022, as forças russas ocuparam a cidade de Butcha, deixando muitas pessoas presas por mais de 30 dias, sem acesso a itens básicos. Nos primeiros dias de conflito, o UGI serviu de refúgio para aqueles que fugiam da guerra. No entanto, durante a ocupação, até mesmo os refugiados precisaram deixar o local, e o campus foi tomado pelas tropas russas. Os dormitórios foram saqueados, mas, apesar de tudo, Deus protegeu a vida daqueles que passaram por ali.
Como você tem utilizado as mídias sociais para pastorear seus membros e evangelizar?
Administro canais no YouTube, Telegram e TikTok para estudar a Bíblia e incentivar outros a fazer o mesmo, pois acredito que a Palavra de Deus é fascinante para todos que se dispõem a conhecê-la. Embora meu público não seja grande, vejo cada seguidor como uma pessoa real. Mesmo quando uma transmissão ao vivo tem poucas visualizações, considero que cada espectador merece atenção e oração.
(Entrevista publicada originalmente na Revista Adventista de junho/2025)
Última atualização em 26 de junho de 2025 por Márcio Tonetti.