Como a Igreja Adventista está estruturada para cumprir sua missão mundial

O Novo Testamento emprega diversas metáforas para descrever a natureza da igreja, seus relacionamentos internos e seu propósito na missão divina. Ao escrever aos efésios, o apóstolo Paulo resumiu o plano de Deus para a igreja: “Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida dos principados e das potestades nas regiões celestiais” (Ef 3:10).
Entretanto, o Novo Testamento oferece informações limitadas a respeito da igreja como uma organização global, bem como sobre sua estrutura e seus procedimentos. É possível encontrar orientações quanto à estrutura e ao funcionamento de uma congregação local, além de referências à rede de relacionamentos entre as igrejas. Ainda assim, há poucas informações sobre um sistema organizacional de alcance mundial. Este artigo descreve a estrutura da Igreja Adventista do Sétimo Dia e as relações operacionais entre as mais de 100 mil congregações espalhadas pelo mundo.
Pequenos começos
A Igreja Adventista teve um crescimento modesto no século 19. Inicialmente, alguns de seus pioneiros rejeitavam a ideia de uma estrutura organizacional formal, concentrando sua energia e ênfase na pregação do iminente retorno de Cristo. No entanto, à medida que a igreja crescia, surgiram desafios que exigiram a adoção de uma estrutura formal, a escolha de líderes, a aquisição de propriedades e a definição da distribuição de autoridade.
Cerca de 165 anos após os primeiros passos rumo à organização formal, a Igreja Adventista cresceu significativamente, estando presente em 212 países e contando com aproximadamente 23 milhões de membros em todo o mundo (link.cpb.com.br/7f0e5c).
A organização, governança e operação de uma denominação cristã são descritas pelo termo “governo da igreja”. Três modelos comuns, episcopal, presbiteriano e congregacional, servem de base para diversas estruturas eclesiásticas. O modelo adventista, porém, não se ajusta a esses padrões. Embora nenhum termo padrão tenha sido adotado formalmente, a Igreja Adventista é descrita como tendo funções interdependentes. O que isso significa?
Nomenclatura eclesiástica
A igreja local é a unidade básica da estrutura formal da Igreja Adventista. Trata-se de um grupo de membros adventistas que recebeu, de um nível superior de supervisão da estrutura, o reconhecimento como parte oficial da organização adventista.
Uma Associação ou Missão serve como órgão de supervisão e coordenação para um grupo de igrejas locais dentro de uma área geográfica definida. O status de Associação é o mais alto nível de autodeterminação para uma entidade eclesiástica. A condição de Associação confere à organização o direito de eleger sua própria liderança. Esse status também implica que a unidade é uma contribuidora líquida para recursos financeiros fora de seu território. O status de Missão denota uma organização com um grau mais limitado de autodeterminação.
A entidade supervisora e coordenadora de diversas Associações dentro de uma área geográfica definida é chamada de União-Associação ou União-Missão, conforme seu grau de autodeterminação. Ela também recebeu de um órgão de supervisão a condição oficial como parte da estrutura denominacional. Em certas áreas que possuem menos necessidade de estruturas de supervisão locais e de Uniões, essa unidade organizacional pode ser identificada como uma “união de igrejas”.
A Igreja Adventista hoje está presente em 212 países e conta com aproximadamente 23 milhões de membros
A Associação Geral representa a maior unidade da estrutura da Igreja Adventista, exercendo funções gerais de supervisão e coordenação para as Uniões. Ela é composta por todas as Uniões do mundo, além de quaisquer outras entidades que tenham sido diretamente vinculadas à sede mundial por razões geopolíticas.
A Associação Geral estabeleceu as Divisões como escritórios administrativos regionais que atuam em seu nome e em conjunto com ela em áreas geográficas específicas do mundo.
Uma representação visual da organização da Igreja Adventista revela quatro camadas de estrutura, com cada camada sucessiva abrangendo as unidades dentro de seu território.
Além disso, a estrutura da Igreja Adventista abrange entidades de propósito especial, como escolas, faculdades, universidades, indústrias alimentícias, hospitais, clínicas, centros de mídia, editoras, agências de desenvolvimento e assistência, organizações de gerenciamento de risco, corporações para propriedade de imóveis, gerenciamento de fundos de aposentadoria e outras necessidades específicas. Para fins legais, essas organizações são separadas da Igreja Adventista, mas existem para promover a missão denominacional.
Princípios operacionais

Dentro da estrutura da Igreja Adventista, existem vários conceitos operacionais e de governança que definem funções e relacionamentos básicos. Os princípios descritos abaixo ilustram e expandem o modelo interdependente de organização mencionado anteriormente.
1. Uma base de membros para a organização. Cada unidade da estrutura da Igreja Adventista tem uma membresia definida (geralmente chamada de “eleitora”). A filiação à igreja local é composta por membros formalmente aceitos. A filiação não é necessária para participar de cultos e programas locais. Contudo, a filiação mantida em apenas uma igreja local é necessária para participar de decisões oficiais e/ou ocupar cargos de liderança eleita em uma congregação.
A composição de membros de unidades organizacionais maiores consiste em entidades em vez de indivíduos. Igrejas locais, em vez de indivíduos, formam a membresia da Associação. Similarmente, os membros de uma União são as Associações/Missões que a compõem. A membresia da Associação Geral consiste em Uniões ao redor do mundo, além de quaisquer Associações ou Missões/Campos diretamente ligados à Associação Geral.
2. Status conferido em vez de autodeterminado. A filiação à igreja local ou a qualquer outra entidade organizacional nunca é autodeterminada. A aprovação formal pelos membros atuais desse corpo é necessária para conceder status de filiação a outros.
A filiação não é automaticamente perpétua. As obrigações de filiação, se negligenciadas ou contrariadas, podem levar ao término do vínculo. Essa decisão pode ser tomada apenas pelo mesmo nível de organização que aprovou inicialmente a filiação.
3. Forma representativa de governança. A Igreja Adventista define sua governança interna como representativa em sua forma. A representação ocorre por meio das unidades de membros, que elegem delegados com direito a voto para participarem das sessões das assembleias da respectiva organização. A governança entre as sessões das assembleias é confiada à comissão diretiva da entidade.
4. A autoridade máxima reside em um grupo, não em um indivíduo. Os diferentes níveis de autoridade são amplamente distribuídos. Independentemente do papel de liderança que uma pessoa exerça, a autoridade de um indivíduo está, em última instância, subordinada a um grupo. Uma comissão diretiva pode delegar autoridade a um indivíduo, mas este sempre prestará contas a um grupo.
A interdependência do funcionamento da Igreja Adventista se destaca ainda mais pela distribuição de autoridade em toda a organização. Cada unidade organizacional depende da autoridade funcional exercida por outras organizações. A tabela de distribuição de autoridade ilustra exemplos de autoridade específica distribuída na estrutura adventista.
5. Administração compartilhada em vez de presidencial. A responsabilidade executiva na estrutura eclesiástica adventista é compartilhada entre uma equipe de oficiais, geralmente composta por três pessoas: presidente, secretário e tesoureiro, sendo o presidente considerado o primeiro entre iguais.
6. Unidade de entidades com base na missão. Todas as entidades da Igreja Adventista se veem como parte de uma organização maior, engajada na missão divina. Essa mentalidade promove a cooperação entre os diversos ramos da organização.
7. Compartilhamento de recursos. A Igreja Adventista adotou um sistema de compartilhamento de recursos (humanos e financeiros) que permite que membros individuais, bem como unidades organizacionais, contribuam para o apoio à atividade missionária da igreja muito além de seus contextos locais.
8. Identidades separadas, mas não independentes. A estrutura da igreja reconhece uma ampla variedade de entidades com identidades separadas para fins legais e administrativos. No entanto, essas identidades distintas não implicam isolamento ou independência. Pertencer à estrutura da Igreja Adventista desperta a consciência de ser, ao mesmo tempo, local e global.
Documentos normativos
A natureza representativa da governança eclesiástica e a distribuição de autoridade por toda a estrutura denominacional se baseiam em documentos regulamentares fundamentais. De importância primária é o compromisso da igreja com a Bíblia como fonte normativa de fé e prática na vida pessoal e comunitária. Não há autoridade humana que substitua as Escrituras.
A unidade é um valor fundamental para os adventistas
A Igreja Adventista resumiu sua compreensão da Bíblia em 28 crenças fundamentais, que podem ser encontradas no livro Nisto Cremos (CPB, 2018). Essas declarações definem a doutrina, os ensinamentos e o estilo de vida adventistas, ao mesmo tempo em que incentivam mais estudos bíblicos e novas abordagens sobre como a Bíblia é relevante para todos os tempos e lugares.
Um terceiro documento normativo é o livro de Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Associação Geral. A comissão diretiva da Associação Geral recebeu autoridade para adotar ou alterar as rotinas. Esses regulamentos servem, então, como “a voz autoritativa da igreja em todos os assuntos pertinentes à missão e à administração da obra da denominação Adventista do Sétimo Dia em todas as partes do mundo. […] Os Regulamentos EclesiásticoAdministrativos da Associação Geral devem ser rigorosamente respeitados por todas as organizações em todas as partes do campo mundial” (Working Policy 2024/2025, B 15 05 e B 15 10). Anualmente, uma edição atualizada desse livro é publicada.
O Manual da Igreja serve como documento de governança primário para as congregações locais. Ele trata da estrutura e das operações da igreja local e sua relação com a Associação da qual é membro. Os Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Associação Geral se referem à estrutura, às operações e aos relacionamentos de todas as demais entidades.
Adições ou emendas ao Manual da Igreja podem ser aprovadas somente por uma Assembleia da Associação Geral. Após cada Assembleia regular, é publicada uma edição atualizada desse manual.
Constituições e estatutos representam o quarto documento de governança para entidades denominacionais. Os Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Associação Geral contêm modelos de regulamentos e estatutos para entidades eclesiásticas (Associações e Uniões) e modelos de políticas operacionais para Missões/Campos.

O que une a igreja?
Com uma infraestrutura global altamente desenvolvida, atuando em diversos ambientes culturais, linguísticos e políticos, surge a questão do que mantém a igreja unida. Embora as definições precisas variem, a unidade é um valor fundamental para os adventistas. O planejamento da infraestrutura e as políticas operacionais contribuem de forma significativa para a promoção dessa unidade. No entanto, o elemento que realmente mantém a Igreja Adventista mundial unida provém principalmente de outras dimensões.
O compromisso coletivo com a missão mundial ajuda cada pessoa e entidade a reconhecer que não podem cumprir a Grande Comissão sozinhas
A primeira delas é o compromisso com a Bíblia e com a liderança, bênção e orientação do Espírito Santo. Isso permite que as entidades denominacionais caminhem juntas em direção ao crescimento, à reforma e à renovação no entendimento, nas estruturas e no desempenho.
Em segundo lugar, o compromisso coletivo com a missão mundial ajuda cada pessoa e entidade a reconhecer que não podem cumprir a Grande Comissão sozinhas. O lema “juntos podemos fazer mais” tem sido, há muito tempo, um convite motivador para pensar e agir além das fronteiras locais.
Uma terceira característica que contribui para a união da Igreja Adventista é a prática de compartilhar recursos, tanto humanos quanto financeiros. A abnegação é uma característica central na vida e no ministério de Jesus. O princípio dos fortes apoiando os fracos tem sido uma grande bênção para as regiões do mundo com pouco acesso aos recursos necessários para a vida e missão da igreja.
Finalmente, embora o ideal de unidade possa ser difícil de alcançar, os seguidores de Cristo são chamados à harmonia. Essa é, idealmente, uma das maneiras mais significativas pelas quais o evangelho é retratado com poder para um mundo fragmentado. “Porque todos vocês são um em Cristo Jesus” (Gl 3:28).
Condição paradoxal
A Igreja Adventista é ao mesmo tempo forte e frágil. Sua força, enquanto denominação com base na fé, provém de sua dependência dos recursos divinos para transformar pessoas e comunidades em demonstrações práticas da autoridade de Cristo. Sua força organizacional advém da vontade coletiva de buscar continuamente as melhores práticas para alcançar efetividade na missão, ao mesmo tempo em que reconhece a interdependência de todas as entidades. Sua fragilidade, por outro lado, decorre da capacidade de qualquer líder, membro ou organização de enfraquecer suas mensagens, valores e código de conduta. Uma mentalidade coletiva e uma intenção colaborativa são essenciais em cada membro e líder para o sucesso de uma organização voltada para uma missão.
LOWELL C. COOPER foi vice-presidente da sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia
(Artigo publicado na Revista Adventista de junho/2025)
Última atualização em 30 de junho de 2025 por Márcio Tonetti.