A perigosa relação entre a Igreja e o Estado
Clifford Goldstein

Um empresário bem-sucedido, por quem eu nutria grande respeito, havia acabado de ingressar na política com o objetivo de levar princípios cristãos à esfera pública.
“Esteja atento, irmão. Você será pressionado a fazer concessão dos seus princípios”, adverti.
Para mim, essa era uma conclusão óbvia. Entre 1984 e 1999, estive envolvido com a causa da liberdade religiosa, tendo atuado, inclusive, como editor da revista Liberty (Liberdade) por sete anos. Nessa época, a chamada Direita Religiosa nos Estados Unidos havia atingido seu auge. Milhões de cristãos, inspirados pelo legado do ex-presidente Ronald Reagan, entendiam que era necessário restaurar os valores divinos na nação.
Contudo, essa iniciativa abriu portas para concessões. Por mais bem-intencionados que fossem, esses cristãos acabaram agindo, muitas vezes, de forma semelhante àquilo que criticavam em seus adversários – tudo em nome de “Jesus”. Embora não tenham alcançado êxito pleno, lançaram as bases do que hoje vemos se concretizando nos Estados Unidos.
O que presenciamos atualmente, com o nacionalismo cristão, é a Direita Religiosa em dose amplificada. A sociedade norte-americana deteriorou-se em diversas áreas, e não é de admirar que milhões de cristãos acreditem que algo precisa ser feito. E que caminho pareceria mais eficaz do que assumir o controle do sistema político?
No entanto, isso nunca funcionou. Falando sobre os primórdios do cristianismo, Ellen White escreveu que, quando a igreja “perdeu o Espírito e o poder de Deus”, recorreu ao braço do Estado para impor seus ensinos, dando origem ao papado – a besta de Apocalipse 13 e 14 (O Grande Conflito [CPB, 2021], p. 372). Nos últimos dias, uma igreja espiritualmente impotente e corrompida utilizará o poder do Estado para impor suas doutrinas, assim como fez a primeira besta. Se isso não é nacionalismo cristão, o que seria?
Naturalmente, de tempos em tempos, surgem artigos no meio adventista alegando que nossa escatologia falhou, que Ellen White escreveu apenas para o seu tempo, que precisamos repensar o cenário dos eventos finais ou que Roma mudou. Essas alegações revelam um profundo desconhecimento da base bíblica de nossa mensagem profética.
Por outro lado, muitos adventistas, preocupados com o declínio moral de seu país, precisam tomar cuidado para não serem levados pela mentalidade que impulsiona o nacionalismo cristão. Por mais legítimas que sejam essas preocupações, somos adventistas do sétimo dia, proclamadores das três mensagens angélicas. No cerne dessa mensagem, está o papel dos Estados Unidos na imposição da marca da besta, não apenas dentro de seu território, mas também em escala global: “dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta” (Ap 13:14). E, embora não saibamos exatamente quando isso ocorrerá, quem, senão os nacionalistas cristãos, parece estar preparando o terreno?
E convenhamos: quando um dos lados da guerra cultural americana possui 35 milhões de armas, enquanto o outro debate qual banheiro usar, não é preciso ser profeta para prever quem provavelmente sairá vitorioso.
Após um ou dois anos, perguntei ao amigo que ingressara na política se havia sido pressionado a fazer concessões dos valores cristãos que pretendia levar ao espaço público. Sua resposta foi imediata: “Desde o primeiro dia”.
CLIFFORD GOLDSTEIN é editor da Lição da Escola Sabatina dos Adultos e autor de diversos livros
(Artigo publicado na edição de julho/2025 da Revista Adventista/Adventist World)
Última atualização em 29 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.