Um alerta para os pais cristãos
Pablo Canalis

Os meninos acordaram tarde naquele domingo, e a mãe já estava começando a preparar o almoço. Logo depois de se trocarem e deixarem o quarto bagunçado, foram para a sala assistir à televisão. O pai havia saído para fazer compras, e a mãe desejava um pouco de paz para terminar a refeição.
Havia três semanas que um novo desenho animado estava em exibição, e a mãe havia assistido com eles ao primeiro episódio. Não encontrou nada de preocupante: eram crianças que trabalhavam juntas para resolver problemas. Ela achou o conteúdo inofensivo e autorizou os filhos a assistirem aos demais episódios da primeira temporada.
Enquanto eles se acomodavam no sofá, o pai retornou do mercado com o porta-malas cheio de produtos. A regra na casa era clara: quando alguém voltasse das compras, todos deveriam ajudar a levar as sacolas e organizar os itens. Os garotos resmungaram, mas obedeceram ao pai e o auxiliaram. Ele perguntou à esposa se ela precisava de algo, e como já estava tudo encaminhado, decidiu sentar-se com os filhos para ver o que estavam assistindo.
Normalmente, o pai não prestava muita atenção aos desenhos, mas uma imagem chamou sua atenção, e ele começou a analisar o conteúdo com mais cuidado. Esperou até o episódio terminar e, então, pediu aos filhos que mudassem de canal. O mais novo resmungou, questionando: “Por que, pai? A mãe assistiu ao desenho com a gente e deixou! Por que agora não pode? Isso é injusto!”
O pai permaneceu em silêncio por alguns segundos, respirou fundo, desligou a TV e iniciou uma conversa com os dois: “Por que vocês gostam desse desenho?” A resposta deles foi rápida: “Porque é legal, pai! As crianças fazem coisas incríveis. Ajudam as pessoas. Não é um desenho ruim!”
Com paciência, o pai respondeu: “É verdade, percebi que elas resolvem muitos problemas. Mas também notei que, nesse desenho, os adultos são retratados como incapazes de resolver qualquer coisa, como se as crianças fossem mais inteligentes. Vocês acham que uma criança é mais sábia que um adulto?”
O mais velho entendeu a linha de raciocínio do pai e ficou em silêncio; mas o mais novo respondeu prontamente: “Acho que sim! A vovó sempre me pede ajuda com o celular dela, e eu sei fazer. E tenho só oito anos!”
Então, o pai olhou para os dois com carinho e disse: “Sim, em algumas coisas, como tecnologia, vocês podem até saber mais que os mais velhos. Mas nas dificuldades da vida, nas experiências que realmente ensinam, os adultos têm muito mais a compartilhar. Por isso não quero que vocês assistam a esse desenho. Não quero que comecem a se achar melhores que os outros, ou que pensem que não precisam aprender com humildade o que os adultos têm a ensinar.”
Estamos vivendo um momento em que os jovens parecem não mais precisar dos mais velhos, como se soubessem de tudo. Mas o que acontece quando alguém acredita que sabe ou pode mais do que os outros? O resultado é egocentrismo, isolamento, individualismo, expectativas irreais, muitas frustrações e pouca resiliência. Isso adoece mentalmente nossa juventude. E, quando os adultos deixam de ser referência, esse distanciamento pode se estender até Deus. Afinal, se “a gente sabe o que é melhor”, por que precisaríamos Dele?
Portanto, gostaria de concluir essa reflexão com duas perguntas importantes: Quais ideias têm alimentado nossa mente? E a mente dos nossos filhos?
PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção “Em Família” da Revista Adventista de julho/2025)
Última atualização em 7 de agosto de 2025 por Márcio Tonetti.