Como a Assembleia da Associação Geral reforça o senso de pertencimento à igreja mundial
Marcelo Coronel

O senso de pertencimento tem impacto profundo na vida espiritual. Ele é, inclusive, determinante no discipulado cristão.[1] Esse sentimento se reflete tanto na comunhão com Deus quanto na conexão com a igreja.
Certa vez, um jovem me disse, emocionado: “Pastor, voltei para a igreja porque me ajudaram a me sentir parte dela! Os jovens me procuraram, me incentivaram, me acolheram e me mostraram, com amor, que fazer parte é importante. Voltei renovado!”, afirmou, sorrindo.
As palavras daquele jovem carregavam um profundo significado espiritual. Sem dúvida, recuperar o senso de “pertencimento” fez toda a diferença em seu reavivamento espiritual.
Parte de uma igreja mundial
Cada assembleia mundial da igreja é uma excelente oportunidade para refletir sobre o princípio bíblico de “fazer parte”. Trata-se do aspecto constitutivo de pertencimento ou membresia, característico do povo de Deus – pertencimento à família de Deus.
Sentir-se e ser parte da igreja é um princípio evidente ao longo da história. Desde a Criação até a libertação no Êxodo, vemos que o povo de Deus era formado por famílias ou tribos, que, por sua vez, eram compostas por membros que se relacionavam num contexto de interdependência, cuidado mútuo e aliança com Deus – uma aliança baseada em Seu amor, justiça e misericórdia, que lhes conferia identidade e senso de missão.
Esses princípios bíblicos estão expressos em nossas crenças fundamentais. Lembremos nossa Crença Fundamental nº 14, intitulada “A Unidade no Corpo de Cristo”: “A igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação, tribo, língua e povo. Em Cristo somos uma nova criação. Distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu em comunhão com Ele e uns com os outros. Devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição. Mediante a revelação de Jesus Cristo nas Escrituras, partilhamos a mesma fé e esperança, e estendemos um só testemunho a todos. Essa unidade encontra sua fonte na unidade do Deus triúno, que nos adotou como seus filhos (Sl 133:1; Mt 28:19, 20; Jo 17:20-23; At 17:26, 27; Rm 12:4, 5; 1Co 12:12-14; 2Co 5:16, 17; Gl 3:27-29; Ef 2:13-16; 4:3-6, 11-16; Cl 3:10-15).”[2]
Como adventistas, cremos que a igreja é um corpo constituinte formado por muitos membros (1Cr 17:22; Rm 12:4, 5; 1Co 12:12, 18, 20, 27; Ef 2:19; 3:6; 4:25; 5:30). À medida que o corpo organizado da igreja crescia, tornava-se evidente o princípio bíblico da representatividade, no qual cada entidade constituinte escolhia seus delegados representantes (Êx 18:21-27; Nm 1:16-18; 31:54; Dt 1:13-15; Js 21:1; At 15:3, 4).[3] Esses princípios bíblicos de corpo constituinte, membresia e representatividade precisam ser valorizados no contexto da Assembleia da Associação Geral.
Nessas reuniões plenárias da igreja, evidencia-se a importância de “fazer parte”. Essa experiência também se manifesta na vida da igreja como um todo – desde a igreja local até a igreja mundial. Somos parte de uma igreja organizada globalmente, com uma missão igualmente global.
O senso de pertencimento se reflete em cada reunião da sua igreja local, nas quais são tomadas decisões, como nomeações, aprovação de planos, concessão de cartas de transferência ou recepção de novos membros. Um grupo de crentes é organizado como uma congregação local, seja como um grupo organizado em sua fase inicial, seja como uma igreja organizada em sua fase mais amadurecida.
Um conjunto de igrejas forma uma Associação ou Missão. Várias Associações e Missões constituem uma União. E o conjunto de Uniões compõe a Associação Geral. As Divisões atuam com autoridade delegada da Associação Geral em seus respectivos territórios.
Em cada parte do corpo organizado de Cristo, destaca-se o conceito de “fazer parte”. Em uma Assembleia da Associação Geral, temos a representação plenária das partes que compõem todo o corpo da igreja em nível mundial. Por isso, essas reuniões são de vital importância para nós, adventistas do sétimo dia. Cremos que, depois de Deus, a Assembleia da Associação Geral representa a mais alta autoridade eclesiástica (ver Regulamentos Eclesiástico-Administrativos 2025, seção B 05 20, inciso 3, p. 91). A cada reunião mundial, são tomadas decisões fundamentais para o avanço da igreja no cumprimento de sua missão global. Também se revisam aspectos constitucionais e o funcionamento da organização, buscando aperfeiçoar, otimizar e ampliar o cumprimento pleno de sua missão mundial.
Parte do cumprimento da missão global
Fazer parte também implica assumir responsabilidades. Ser parte do corpo de Cristo significa aceitar nossa responsabilidade missionária de cuidado e de amor mútuo no contexto do discipulado e de uma missão global. Nesse ponto, encontramos uma convergência entre identidade e propósito. “Fazer parte” reflete nossa identidade. “Fazer parte” nos apresenta um propósito transcendente e missionário. Nossa influência pessoal, fidelidade, sustento e compromisso com a missão se unem no sentido de “fazer parte”. Jesus nos inclui: “Vão e façam discípulos” (Mt 28:19), Ele afirmou. Quando Cristo nos torna parte, Ele nos aproxima de Si, de Sua igreja e de Sua missão mundial. Comunhão, identidade e missão; pertencimento e “fazer parte” – todos unidos e entrelaçados em Cristo. É isso o que Deus espera de nós hoje: fazer parte.
Fortalecer nosso senso de pertencimento
Nesta Assembleia da Associação Geral, vemos a importância de “fazer parte”. Em um mundo marcado pela fragmentação, pelo confronto, pelo isolamento e pela divisão, contemplar uma igreja mundial – tão diversa e variada, mas unida na fidelidade à Palavra de Deus, em uma fé, uma esperança e uma missão – é um verdadeiro milagre do Espírito Santo.
Temos a oportunidade de renovar nosso senso de pertencimento e de incentivar outros a também renovarem seu compromisso com Cristo, Sua igreja e Sua missão.
Jesus ama os Seus e em breve virá buscá-los: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13:1); “nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade” (Ef 1:5); “o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: ‘O Senhor conhece os que lhe pertencem’” (2Tm 2:19); “E nós somos testemunhas destes fatos – nós e o Espírito Santo, que Deus deu aos que lhe obedecem” (At 5:32).
Oremos por nossa igreja. Oremos por este evento mundial. Hoje, mais do que nunca, precisamos nos encorajar a “fazer parte” e a viver plenamente nossa comunhão, identidade e missão – porque “somos do Senhor” (Rm 14:8).
MARCELO D. CORONEL é presidente da Missão Bonaerense do Norte, na Argentina
1 Nota-se um senso de pertencimento transcendente na vida cristã e no discipulado. Ver: Marcelo D. Coronel, “Discipulado y eclesiología: Hacia una aproximación eclesiológica lucana”, Memrah, v. 2, 2020, p. 89 a 106.
2 Secretaria da Divisão Sul-Americana da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Regulamentos Eclesiástico-Administrativos 2025, p. 31.
3 O princípio da representatividade também parece ter conotações cósmicas no contexto do grande conflito (ver Jó 1 e 2; 1Co 15:47).
Última atualização em 3 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.