Mudanças no Manual da Igreja

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Saiba quais modificações serão votadas durante a Assembleia da Associação Geral, em Saint Louis

Marcos Blanco

Foto: Divulgação CPB

Um dos itens da agenda da Assembleia da Associação Geral que mais desperta interesse – e que mais provoca debates acalorados – são as mudanças sugeridas ao Manual da Igreja. Por que isso é tão importante?

O Manual da Igreja é um documento que organiza e regula a vida e o funcionamento da igreja local. Ele define a estrutura, a autoridade, os papéis ministeriais, as regras de membresia, a disciplina eclesiástica, as eleições, os cultos, as crenças fundamentais e aspectos da vida cristã, como o casamento e o dízimo. A edição atual em português (2023) possui 240 páginas.

História

Embora os pioneiros adventistas se opusessem a estruturas organizacionais por temor de se assemelharem à Babilônia, em 1863 adotaram uma constituição, e já em 1882 reconheceu-se a necessidade de oferecer orientações aos oficiais da igreja. Em 1883, foram publicados artigos na Review and Herald sob o título “Church Manual”, embora fossem apenas compilações de instruções. Líderes como J. N. Loughborough e H. M. J. Richards produziram obras influentes sobre organização eclesiástica entre 1906 e 1914.

Em 1931, a Comissão da Associação Geral autorizou a redação de um manual formal, e, em 1932, foi publicada a primeira edição, destacando a necessidade de uniformidade global e de apoio para ministros e líderes. Desde 1946, o Manual adquiriu autoridade oficial ao ser aprovado pela Assembleia da Associação Geral. Nesse mesmo ano, foi permitido que as Divisões preparassem suplementos contextualizados.

A edição de 1951 implementou mudanças significativas na forma e no conteúdo, acrescentando um suplemento norte-americano. Em 2000, foi introduzida uma nova estrutura, com conteúdo principal e notas explicativas, a fim de adaptar melhor sua aplicação em nível global.

O Manual da Igreja tem como base a Bíblia, o Espírito de Profecia e os regulamentos eclesiásticos. Ellen White afirmou que a organização precisava de ordem, regras e sujeição mútua, reafirmando a autoridade das decisões tomadas na Associação Geral.

O Manual tem sido fundamental para preservar a unidade doutrinária, as práticas denominacionais e a coerência organizacional em nível mundial. Mudanças importantes têm sido aprovadas nas assembleias da Associação Geral, mantendo sua relevância diante dos desafios do crescimento da igreja. Seu objetivo essencial é ajudar a denominação a cumprir sua missão em harmonia com o corpo espiritual de Cristo, conforme descrito em Efésios 4 e Mateus 28.

Mudanças para promover a missão

Durante a Assembleia da Associação Geral, serão debatidas uma série de mudanças propostas ao Manual da Igreja. Essas modificações refletem um esforço intencional de adaptar as estruturas e os processos da igreja aos desafios contemporâneos, sem perder de vista sua identidade teológica nem seu compromisso com a missão global de proclamar as três mensagens angélicas.

Entre as propostas mais relevantes, destaca-se o reconhecimento mais claro do papel dos membros leigos no cumprimento da missão, ressaltando que o avanço da mensagem não é tarefa exclusiva dos ministros, mas de toda a igreja como um corpo unido.

Além disso, propõe-se incluir de forma mais explícita a menção e a promoção dos pequenos grupos como uma estratégia fundamental para o crescimento espiritual, a formação de comunidade e a expansão do evangelho em contextos locais. Esses grupos são vistos como uma ferramenta eficaz para o fortalecimento da vida devocional, do companheirismo e do serviço missionário, especialmente em ambientes urbanos e secularizados.

Mudanças para agilizar o funcionamento e proteger a igreja local

No que diz respeito à organização interna, as mudanças propostas também buscam oferecer maior clareza e proteção às igrejas locais. Entre as principais emendas que serão analisadas durante o congresso estão: o processo de eleição dos líderes locais, uma revisão redentiva da membresia da igreja, a correta compreensão da devolução dos dízimos e ofertas como um verdadeiro ato de adoração – acompanhada de uma mordomia integral em todas as áreas da vida –, além do fortalecimento da transparência e da prestação de contas na igreja local quanto ao uso dos recursos.

A importância de contar com um manual

A importância de ter um Manual da Igreja reside em diversos aspectos fundamentais para sua identidade, unidade e missão. A seguir, destacam-se alguns dos pontos mais relevantes:

1. Unidade mundial na fé e na prática. O Manual da Igreja assegura que todas as igrejas locais, independentemente de sua localização geográfica ou cultural, funcionem com uma mesma base doutrinária, organizacional e disciplinar. Isso permite que a Igreja Adventista opere como uma comunidade verdadeiramente global, mantendo a coerência em suas crenças, procedimentos e padrões de vida cristã.

2. Guia baseado em princípios bíblicos. O Manual tem como fundamento a Bíblia e o Espírito de Profecia, servindo como uma explicação prática dos princípios bíblicos aplicados à vida organizacional da igreja. É uma ferramenta que auxilia na implementação dos princípios do ordenamento bíblico: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1Co 14:40) no contexto da administração e do governo eclesiástico.

3. Proteção para a igreja local. Estabelece procedimentos claros para a eleição de líderes, a recepção e disciplina de membros, e a resolução de conflitos, o que protege a igreja de decisões arbitrárias ou desordenadas. Além disso, ao definir responsabilidades e processos, previne o abuso de poder e promove a prestação de contas em todos os níveis da organização.

4. Suporte para a missão. Ao definir claramente o propósito da igreja, sua estrutura ministerial e o papel de cada departamento e líder, o Manual atua como uma ferramenta que facilita o cumprimento da missão evangelizadora. Proporciona estabilidade organizacional para que a energia e os recursos sejam direcionados ao alcance do mundo com a mensagem do evangelho eterno.

5. Preservação da identidade adventista. O Manual da Igreja também protege a identidade teológica e prática da denominação. Ao incluir as crenças fundamentais, as normas de vida cristã e as ordenanças, previne que as igrejas locais se desviem do modelo doutrinário e eclesiológico estabelecido, mantendo a fidelidade aos princípios históricos do adventismo.

6. Instrumento de capacitação e orientação. Serve como recurso para formar novos líderes, pastores e membros, proporcionando orientação clara sobre como deve funcionar uma igreja adventista. Em contextos em que há pouco acesso à educação teológica formal, o Manual torna-se um guia prático indispensável.

Assim, o Manual da Igreja não é simplesmente um livro de normas; é uma expressão organizada de como a Igreja Adventista busca refletir os princípios do Reino de Deus em sua vida institucional e comunitária, bem como no cumprimento de sua missão. Por isso, sua constante revisão e aplicação são essenciais para uma igreja viva, fiel e relevante.

MARCOS BLANCO, pastor e doutor em Teologia, é o gerente de Redação da Asociación Casa Editora Sudamericana (Aces)

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Última atualização em 8 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.