A análise da inclusão de uma nova seção no Manual da Igreja reforça um chamado urgente: formar líderes preparados e membros ativos para a missão adventista no tempo do fim
Wellington Barbosa

Um dos temas em destaque durante estes dias da Assembleia da Associação Geral é a proposta de inclusão, no Manual da Igreja, de uma seção específica sobre a importância de o ministério pastoral concentrar seus esforços na capacitação da liderança local para a missão e o funcionamento da igreja. Essa ênfase reflete uma compreensão cada vez mais clara de que o êxito da missão adventista depende diretamente do preparo intencional e contínuo dos membros para o serviço ativo.
Particularmente, vejo essa mobilização como mais um passo importante no cenário do fim. Desde que tive a oportunidade de compreender melhor os papéis do pastor e do ancionato na Bíblia e nos escritos de Ellen White, tenho observado um interesse e uma necessidade crescente quanto ao assunto. Nesta reflexão, gostaria de compartilhar alguns motivos que me fazem acreditar na importância de uma visão mais clara acerca da atividade ministerial.
Creio no poder do Espírito Santo. A Bíblia aponta para um momento no qual o derramamento do Espírito Santo operará uma grande revolução espiritual, cujo resultado será a salvação de pessoas. Por intermédio do profeta Joel, Deus anunciou: “E acontecerá, depois disso, que derramarei o Meu Espírito sobre toda a humanidade. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão, os seus velhos sonharão, e os seus jovens terão visões. Até sobre os servos e sobre as servas derramarei o Meu Espírito naqueles dias. […] E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o Senhor prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar” (Jl 2:28, 29, 32).
Em Atos 2 encontra-se o cumprimento parcial da profecia, o que chamamos de chuva temporã (cf. Jl 2:23). Agora, aguardamos o derramamento da chuva serôdia, que antecede a colheita final para o reino de Deus. Nesse sentido, a igreja, corpo de Cristo, é organizada pelo Espírito para se mover de maneira organizada e sinérgica em direção ao cumprimento da missão. Essa verdade é demonstrada pela descrição de Paulo em Efésios 4:11 a 13, um texto-chave quando se trata de entender o propósito dos dons e estruturas de liderança da igreja. O apóstolo afirmou: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de pessoa madura, à medida da estatura da plenitude de Cristo.”
Há, nesse texto, um conceito claro que não pode ser ignorado: os dons/estruturas de liderança servem para aperfeiçoar os santos, a fim de que eles desempenhem seu ministério e edifiquem o corpo de Cristo. Em 1 Coríntios 12:7, 11 a 13, a ideia se repete e é intensificada pela descrição da obra do Espírito Santo quanto a esse propósito: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando um fim proveitoso. […] Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas essas coisas, distribuindo-as a cada um, individualmente, conforme Ele quer. Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, constituem um só corpo, assim também é com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.”
Assim, toda iniciativa da igreja que reforce o papel desempenhado pelo ministério na capacitação e no engajamento dos membros para o cumprimento da missão está em conformidade com o desejo divino para Seus discípulos.
Creio no dom de profecia. Em um de seus artigos mais contundentes sobre a necessidade de reavivamento e reforma, publicado em 25 de fevereiro de 1902, Ellen White pontuou que a dependência congregacional em relação ao pastor tratava-se de uma evidência da falta do Espírito Santo na vida da igreja. Ela afirmou: “Os sermões têm tido grande procura em nossas igrejas. Os membros têm confiado em declamações do púlpito em vez de no Espírito Santo. Não solicitados nem utilizados, os dons espirituais a eles concedidos têm se reduzido a fraqueza. Caso pastores saíssem a novos campos, os membros seriam obrigados a assumir responsabilidades, e, pelo uso, suas aptidões aumentariam. […] Deus pede um reavivamento espiritual e uma reforma espiritual. A menos que isso se realize, aqueles que são mornos continuarão a se tornar mais abomináveis ao Senhor, até que Ele Se recuse a reconhecê-los como Seus filhos” (Mensagens Escolhidas [CPB, 2022], v. 1, p. 108).
Observe que há uma relação inversamente proporcional preocupante: quanto mais dependentes os membros forem da presença pastoral, menos ativos se tornam os dons entregues a eles e mais apática se torna uma congregação. A fim de evitar a rejeição divina, é necessário que haja um reavivamento e uma reforma espiritual. Muitos limitam o tema a questões devocionais, dietéticas ou de estilo de vida, mas uma das principais evidências de um povo reavivado e reformado é seu engajamento na missão, conforme os dons por ele recebidos.
Essa dimensão eclesiológica tem sido esquecida por alguns, mas está claramente enunciada no artigo de Ellen White. Por isso, ela declarou: “Precisa haver um reavivamento e uma reforma, sob a ministração do Espírito Santo. Reavivamento e reforma são duas coisas diferentes. Reavivamento significa renovação da vida espiritual, um avivamento das faculdades da mente e do coração, uma ressurreição da morte espiritual. Reforma significa uma reorganização, uma mudança nas ideias e teorias, hábitos e práticas. A reforma não trará o bom fruto da justiça a menos que seja ligada com o reavivamento do Espírito. Reavivamento e reforma devem efetuar a obra que lhes é designada e, ao realizá-la, precisam fundir-se” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 108).
É importante salientar que o componente espiritual (reavivamento) é acompanhado de uma “uma reorganização, uma mudança nas ideias e teorias, hábitos e práticas”. De fato, ao longo do tempo, a visão a respeito da estrutura ministerial adventista mudou muito, quando comparada ao período de maior vigor missionário da denominação. No início do século 20, quando a igreja experimentou um crescimento significativo, Arthur Daniells, presidente da sede mundial dos adventistas, atribuiu esse resultado ao fato de que a igreja não mantinha “ministros fixos como pastores em igrejas em qualquer extensão. Em algumas igrejas muito grandes, temos elegido pastores; mas, como regra, temos nos mantido prontos para o trabalho no campo, trabalho evangelístico, e nossos irmãos e irmãs têm se mantido prontos para conduzir os cultos e os trabalhos sem um pastor fixo. Eu espero que isso nunca deixe de ser a ordem nessa denominação, pois quando pararmos nosso movimento de avanço, e começarmos a nos fixar nas igrejas, pensando e orando por eles e fazendo o trabalho que deveria ser feito por eles, então nossas igrejas começarão a enfraquecer, perder seu espírito e sua vida, tornando-se paralisadas e fossilizadas” (Arthur Daniells citado em Russell Burrill, Recovering an Adventist Approach to the Life and Mission of the Local Church [Hart Research Center, 1998], p. 41).
À luz da escatologia adventista, parece fazer sentido esperar que a igreja do tempo do fim repita esse comportamento e amplie sua esfera de ação, na medida que avance em novos territórios e alcance novos discípulos para Cristo.
Creio na necessidade dos pastores. A sobrecarga de atividades tem sido uma dura realidade para um grupo significativo de ministros. A falta de uma visão mais clara acerca dos papéis de pastores e anciãos na liderança eclesiástica faz com que haja sobreposição de atribuições, falta de cadência de trabalho/responsabilidade, desmotivação e favorecimento de doenças emocionais.
De acordo com a pesquisa State of Pastors 2024, conduzida pelo Instituto Barna, há uma profunda crise emocional e vocacional entre líderes cristãos: 75% dos pastores relatam exaustão emocional recorrente, enquanto cerca de 65% se sentem sozinhos com frequência. Um terço está em risco de burnout e 33% consideraram abandonar o ministério recentemente. Quase metade já enfrentou depressão, 20% lidaram com algum tipo de dependência, e 18% dos pastores seniores protestantes admitiram ter pensado em autoagressão ou suicídio. Além disso, 60% tiveram sérias dúvidas sobre sua vocação e 25% chegaram a questionar sua fé. Esses números expõem um cenário complexo que demanda respostas nas áreas de saúde mental, suporte relacional e fortalecimento do chamado pastoral.
Nesse sentido, a interdependência e sinergia entre pastores e anciãos apresentadas nos escritos de Ellen White parecem servir como parte importante de um poderoso antídoto para essa condição. Enquanto pastores ficam responsáveis pela expansão de igrejas, capacitação de líderes (especialmente anciãos), planejamento e supervisão distrital, o ancionato se concentra nas necessidades congregacionais, pastoreando, nutrindo, planejando e capacitando localmente.
Creio na necessidade dos anciãos. Há quase 10 anos tenho participado de concílios pastorais e de ancionato em diferentes lugares da América do Sul e observado uma tendência preocupante. Em uma quantidade representativa de igrejas, a maioria dos membros não está engajada na missão, e o ancionato se sente sobrecarregado por “arrastar” boa parte das atividades locais. Considerando que se trata de uma liderança voluntária, não é estranho que oficiais mais antigos estejam declinando da indicação para desempenhar a função e os mais novos estejam fugindo dessa responsabilidade.
Além disso, há um conflito geracional em andamento nas organizações, incluindo a igreja. Pela primeira vez na história, quatro gerações lideram juntas: baby boomers, X, millenials e Z. Como resultado, alguns impactos passam a ser sentidos, como choque de valores, diferença de estilos de liderança e desafios comunicacionais e de engajamento. De maneira geral, líderes mais experientes costumam ser leais a uma organização. Por sua vez, líderes mais jovens são leais a uma causa. Portanto, a menos que ajudemos os líderes jovens a abraçar o adventismo como uma causa pela qual valha a pena viver, testemunharemos o êxodo daqueles que já são o “presente” da igreja.
Assim, um pastorado distrital e um ancionato local que tenham compromisso bíblico-denominacional, significado, relevância e vigor serão essenciais para revitalizar a igreja, fortalecer a missão e garantir uma liderança intergeracional mais integrada e efetiva. Essa combinação pode não apenas aliviar a sobrecarga atual, mas também inspirar as novas gerações a se comprometerem com a missão adventista, de tal maneira que vejamos em nossa geração o cumprimento da “bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tt 2:13).
Maranata!
WELLINGTON BARBOSA é doutor em Ministério, gerente editorial da Casa Publicadora Brasileira e autor do livro As Duas Faces do Ministério
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Última atualização em 9 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.