Qual é a garantia de que a missão de pregar o evangelho em todo o mundo será concluída?
Silvano Barbosa

Eu estava em Singapura, dentro de uma mesquita, conversando com um muçulmano devoto. Perguntei a ele: “Qual é a coisa mais importante que eu devo saber sobre o islamismo?” Ele respondeu: “Deus é um”. E acrescentou: “Nós não atribuímos o status de Deus a nenhum profeta!”
Continuei conversando com ele e, depois de algum tempo, perguntei: “Posso fazer uma foto para registrar nosso encontro?” Ele se recusou, explicando: “Uma foto é uma imagem, e uma imagem pode se tornar objeto de adoração – e somente Allah pode ser adorado.”
Mais adiante, ele me perguntou: “De onde você vem?” Respondi que era brasileiro. Ele concluiu: “Então você é católico!”
Expliquei que também era um believer (um crente), como ele se considerava, e que fazia parte de um grupo de pessoas que aguarda o retorno de Isa Al-Masih – que é Jesus. Ele me olhou e disse: “Então você é um adventista do sétimo dia?”
Fiquei impressionado ao perceber que, lá em Singapura – um país com uma pequena porcentagem de cristãos –, dentro de uma mesquita, um muçulmano devoto sabia que, no Brasil e em outras partes do mundo, existe um povo chamado adventista do sétimo dia que aguarda a volta de Jesus.
A Igreja Adventista existe para aguardar e apressar a volta de Jesus (2Pe 3:12). Os adventistas veem a si mesmos como um movimento profético de restauração da verdade, cuja origem foi prevista na profecia (Ap 10:11), cuja identidade é confirmada pela profecia (Ap 12:17) e cuja mensagem é extraída da profecia (Ap 14:6-12). Todo esse conjunto de verdades proféticas converge para um único ponto: a volta de Jesus (Ap 14:14-20).
Apocalipse 14:6-12 apresenta a mensagem que deve ser proclamada no tempo do fim. Nessa passagem, o remanescente é simbolizado por três anjos que anunciam, com intrepidez, a mensagem divina de amor, graça, restauração e esperança – uma mensagem que prepara as pessoas para o retorno de Cristo. Essa mensagem deve ser proclamada a toda a humanidade.
Transmitir a mensagem divina de forma que as pessoas compreendam e tenham a chance de responder ao evangelho pode parecer uma tarefa extremamente intimidadora – mesmo em uma pequena cidade do interior. Mas quando se percebe que o remanescente foi comissionado a cruzar barreiras geográficas, linguísticas, políticas e religiosas para proclamar o evangelho eterno a toda nação, tribo, língua e povo, fica evidente que a missão é de proporções inimagináveis. Atualmente, embora a Igreja Adventista do Sétimo Dia seja a denominação protestante com a mais ampla presença global –operando institucionalmente em quase todos os países do mundo –, esse desafio continua tão urgente quanto no princípio.
TAREFA SOBRE-HUMANA
Em 2025, mais de 56% da população mundial vive em áreas urbanas, e há 577 cidades com mais de um milhão de habitantes (saiba mais aqui). Cada vez mais pessoas que vivem nesses grandes centros urbanos adotam uma forma de pensar pós-moderna, segundo a qual não existe certo ou errado – apenas opções. Para muitos, não há uma única fonte de autoridade, pois todas as vozes devem ser consideradas.
Especialmente a partir da segunda metade do século 20, a verdade deixou de ser encontrada prioritariamente na ciência, na Bíblia ou na igreja. Para os pós-modernos, a verdade é descoberta nos relacionamentos. Em vez de uma verdade absoluta, preferem falar em “muitas verdades” – ou naquilo que é “verdade para mim.” Cada pessoa possui uma peça do quebra-cabeça, mas essas peças representam fragmentos de conhecimento dentro de uma vasta realidade ainda desconhecida. Por isso, acreditam que construir comunidades e ouvir as histórias compartilhadas dentro delas é essencial na busca pela verdade (John Paulien, “The Post-Modern Acts of God”, Adventist Society for Religious Study, 18 de novembro de 2002, p. 3).
Além disso, o censo de 2022 apontou que 9,3% da população brasileira se declarava “sem religião.” É importante notar que muitos entre os que abandonam a igreja ou não se identificam com uma membresia formal ainda acreditam estar profundamente alinhados com o divino. Eles adotaram uma espiritualidade individualizada, restrita à esfera privada da vida. Para essas pessoas, escolher apenas o que é conveniente dentro de uma ampla variedade de filosofias religiosas alternativas tornou-se uma prerrogativa básica. A fé genuína é compreendida como uma jornada espiritual exploratória, sustentada pela experimentação – uma espiritualidade que se alimenta de crenças facilmente “degustadas” em um menu diversificado de práticas religiosas não tradicionais (Silvano Barbosa, “Digital Technology and the mission of the Church”, em Technology, Etics and the Future [Biblical Research Institute, 2025], p. 375).
Ajudar milhões de pessoas que vivem em contextos urbanos a entender que todas as nossas crenças e práticas devem ser fundamentadas no critério absoluto da Palavra de Deus é uma tarefa maior do que podemos calcular.
Atualmente, há cerca de 1,8 bilhão de muçulmanos no mundo – pessoas que, desde a infância, foram ensinadas de forma firme que acreditar na divindade de Jesus constitui shirk, o pecado imperdoável, segundo a teologia islâmica.
O próprio Maomé, fundador do islamismo, relatou que, em certa ocasião, teria sido levado pelo anjo Gabriel para conhecer os sete céus. Em cada um deles, foi recebido por um profeta, em uma ordem crescente de importância – do primeiro céu, o mais baixo, ao sétimo, o mais elevado. Segundo esse relato, no primeiro céu ele foi recebido por Adão; no segundo, por João Batista; no terceiro, por Jesus; no quarto, por Idris (identificado por alguns como Sete ou Enoque); no quinto, por José; no sexto, por Arão; e no sétimo, por Moisés. Após isso, Maomé foi recebido por Abraão e, finalmente, conduzido a um encontro privado com Alá (Sura 17 Al-Isra do Alcorão; o relato mais detalhado é encontrado em coleções posteriores dos ensinamentos, feitos e ditos de Maomé). Entre os oito profetas mencionados nessa narrativa, Jesus ocupa o terceiro céu, sendo considerado, dentro dessa hierarquia simbólica, um dos menos importantes.
Oferecer a um único muçulmano conhecimento bíblico suficiente para que tenha uma chance justa de responder ao evangelho – e fazer de Jesus o primeiro, o último e o melhor em sua vida – exige anos de treinamento, compromisso e renúncia. Além disso, é necessário considerar, com seriedade, a possibilidade de exercer o dom do martírio. Mas o missionário precisa refletir com cuidado. Afinal, o dom do martírio só pode ser usado uma vez.
Mais de um bilhão de hindus oscilam em sua devoção entre os mais de 300 milhões de deuses disponíveis em seu sistema religioso. Para eles, Jesus é visto apenas como mais um avatar – uma manifestação do deus Brahma – que pode assumir a forma de pessoas, como Buda ou Krishna, ou até de animais, como um peixe ou uma tartaruga. O presidente da Associação de Rajasthan da Igreja Adventista do Sétimo Dia, no Norte da Índia, relata que, em seu território, há mais de 200 milhões de habitantes, dezenas de dialetos e 94 mil vilarejos. A missão confiada ao remanescente, portanto, certamente inclui proclamar a mensagem de Deus para o tempo do fim em cada uma dessas localidades e etnias.
Para mais de 700 milhões de budistas, o problema central da humanidade não é o pecado, mas a ilusão da existência individual. Em outras palavras, nada é real: tudo o que você vê, toca e sente é apenas uma projeção da mente. A solução, segundo essa visão, é extinguir todos os desejos, até que se perceba a não existência do eu. Quando missionários falam com budistas sobre salvação, a promessa da vida eterna costuma ser interpretada como a continuação do eu, o que é rejeitado, já que representa a persistência da identidade individual. Deus, apresentado como um ser pessoal que expressa emoções como amor e ira, também é visto com desconfiança, pois a personalidade, nesse contexto, é considerada uma afirmação indesejável do ego. Alcançar um budista para Cristo requer paciência, sensibilidade de múltiplas tentativas.
Essa breve descrição está longe de esgotar o tema. Ainda há os confucionistas, os adeptos do espiritualismo, os judeus e muitos outros grupos com crenças distintas.
Vamos admitir: o desafio de alcançar os mais de 8 bilhões de habitantes do planeta Terra com a mensagem divina para o tempo do fim (Ap 14:6-12) parece estar além das nossas capacidades humanas. “A tarefa é esmagadora. De uma perspectiva humana, o rápido comprimento da Grande comissão de Cristo em algum tempo próximo parece improvável. Nossos melhores esforços, planos, estratégias e recursos são incapazes de concluir a missão de Deus” (“An Urgent Appeal For Revival, Reformation, Discipleship, And Evangelism”, Annual Council Action, votado em 10/11/2010).
RESPOSTA AO CHAMADO
Se o desafio está além das nossas possibilidades, por que deveríamos continuar escrevendo artigos sobre a pregação do evangelho a todo o mundo? Se já é difícil alcançar os que estão do outro lado da rua, por que deveríamos pensar em evangelizar os que estão do outro lado do mundo? Porque o que determina o envolvimento humano na missão não é a possibilidade de concluí-la, mas a obediência à ordem do Mestre. O remanescente não participa da missão porque analisou bem, fez todos os cálculos, concluiu que era viável e então decidiu encarar. O remanescente simplesmente obedece à instrução Daquele que ordenou: “É necessário que você ainda profetize a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10:11).
Humanamente é impossível. Mas a missão não é um empreendimento humano. Deus tem o controle da missão em suas mãos. Foi Ele mesmo quem iniciou Sua obra de restauração da raça humana ainda no Éden (Gn 3:15) e conduziu cada etapa desse processo até o momento atual. Ele mesmo é a garantia de que esse processo será concluído. É exatamente por isso que o Senhor Jesus afirmou: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim” (Mt 24:14). Não há margem para dúvidas nessas palavras: Deus vai concluir aquilo que começou.
Em Mateus 24:14, a expressão “será pregado” apresenta aquilo que os estudiosos do texto bíblico chamam de passivo divino. Na Bíblia, quando um verbo está na voz passiva e não é indicado quem realiza a ação, entende-se que o próprio Deus é o agente por trás dela. Por exemplo, em Gênesis 2:1 lemos: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e tudo o que neles há”. O texto não menciona quem concluiu a criação, mas é evidente que foi o próprio Deus. Da mesma forma, quando Jesus declarou: “Está consumado” (Jo 19:30) ou disse: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5:4), não se identifica explicitamente o agente da ação – mas o contexto e a teologia bíblica indicam que a linguagem passiva sugere novamente que o próprio Deus completou ou completará essas ações.
Assim, ao afirmar: “E este evangelho do reino será pregado”, Jesus não menciona quem o fará. Isso indica que, primária e, em última instância, a pregação do evangelho será realizada pelo próprio Deus (Em Missão: Fundamentos, História e Oportunidades [Unaspress, 2023], p. 249).
COOPERAÇÃO
Quando o remanescente aceita o desafio de levar ao mundo a mensagem divina para o tempo do fim, está apenas se unindo a Deus naquilo que Ele já está realizando. A promessa de que esse trabalho será concluído é a garantia de que o ser humano não está lutando por uma causa perdida. Essa é a certeza de que, apesar de todas as impossibilidades, o evangelho será pregado, a missão será cumprida, e então virá o fim.
Como Deus fará isso? Talvez o mais importante não seja descobrir o que será feito, mas lembrar que o desafio de levar o evangelho a todo o mundo não é novo. Desde o início, Deus tem um plano – e esse plano sempre foi desenvolvido em parceria com Seus cooperadores humanos. Embora não saibamos todos os detalhes sobre como o Senhor agirá no tempo do fim, foi-nos revelado que:
1. Deus atuará de maneira surpreendente. “Permita-me dizer-lhes que o Senhor agirá nesta última obra de um modo fora do usual e contrário a qualquer planejamento humano. […] Deus usará maneiras e meios pelos quais se verá que Ele está tomando o controle em Suas mãos (Ellen G. White, Eventos Finais [CPB, 2021], p. 125).
2. Deus atuará de maneira simples. “Os obreiros se surpreenderão com os meios simples que Ele usará para efetuar e aperfeiçoar Sua obra de justiça” (Eventos Finais, p. 125).”
3. Deus usará pessoas comuns. “Os que não percebem a necessidade do que deve ser feito serão passados por alto, e os mensageiros celestiais trabalharão com os que são chamados de pessoas comuns, habilitando-os a levar a verdade para muitos lugares. […] Uma mente comum, acostumada a obedecer ao ‘assim diz o Senhor’, está mais bem habilitada para a obra de Deus do que aquelas que têm capacidades, mas não as empregam corretamente” (Eventos Finais, p. 126).
4. Deus enviará o Espírito Santo. “Os obreiros serão antes qualificados pela unção de Seu Espírito do que pelo preparo das instituições de ensino. Homens e mulheres de fé e oração serão compelidos a sair com zelo santo, declarando as palavras que Deus lhes dá” (Eventos Finais, p. 126, 127).
O desafio que ainda resta é, em si mesmo, um convite ao povo de Deus no tempo do fim. O escopo da missão abrange todo o mundo habitado – toda a Terra. Alguns estão sendo impelidos a ir para o outro lado do mundo e precisam encontrar caminhos acessíveis para receber treinamento, suporte e oportunidades missionárias. Outros foram chamados para servir a Deus do outro lado da rua. Ambos são indispensáveis.
Então, se você está disponível e deseja participar da pregação do evangelho eterno a toda nação, tribo, língua e povo, este é o momento de se ajoelhar na presença de Deus e dizer:
“Senhor Jesus, tenha misericórdia de mim, porque sou pecador. Perdoe os meus pecados. Lave-me no sangue do Cordeiro. Encha-me com o Espírito Santo e use-me para a glória do Teu nome, a edificação da Tua igreja, a mobilização de pessoas para a missão e a salvação de muitos para o reino dos céus.”
SILVANO BARBOSA é doutor em Missiologia e professor da Faculdade de Teologia do Unasp
Última atualização em 4 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.