Como preparar crianças para a perda de entes queridos e ajudá-las a enfrentar a dor da saudade
O que você faria se sua filhinha, ainda de pijama porque acabou de acordar, lhe contasse que Lilinho, o peixe de estimação que ela tanto ama, estava “dormindo” de cabeça para baixo no aquário? Em um interessante vídeo publicitário, os pais da menina resolvem substituir, sem que a garotinha visse, o peixe morto por outro semelhante. A justificativa? Receio de que essa fatalidade prejudicasse o desenvolvimento da criança. Seria essa a melhor decisão?
Em geral, os pais querem proteger os filhos o máximo possível em todos os aspectos da vida. Porém, em relação à morte de entes queridos e o luto decorrente disso, especialistas em comportamento humano orientam que, independentemente da idade ou da situação, não se deve mentir, esconder ou agir como se nada tivesse acontecido. Na verdade, o ideal é que as crianças saibam desde cedo a verdade sobre o que é a morte (Romanos 6:23) e o que acontece quando uma pessoa morre (Eclesiastes 9:5; 12:7). Tudo isso deve ser explicado numa linguagem acessível e adequada à idade da criança.
Nesse sentido, aproveitar as situações do dia a dia, como a morte de uma planta ou de um animal de estimação, pode ser uma oportunidade para trabalhar o tema e preparar o coração dos pequenos para perdas maiores que possam vir pela frente.
Em contrapartida, filmes, games e desenhos animados, em geral, apresentam uma ideia completamente fantasiosa, distorcida e antibíblica a respeito da morte. Esses ensinos equivocados podem confundir e prejudicar crianças que estão enfrentando uma situação real de perda de ente querido.
O luto mal administrado pode até adoecer a criança. Por isso, algumas providências devem ser tomadas para que a recuperação emocional aconteça depois do falecimento de uma pessoa querida:
- Ajude a criança a expressar seus sentimentos. Nunca reprima o choro. Afinal, as emoções fazem parte da vida. É importante que ela saiba que pode contar com a ajuda de um adulto para ouvi-la, abraçá-la e acolhê-la sempre.
- Use uma linguagem apropriada à idade da criança e responda o que ela perguntar com honestidade. As crianças interpretam literalmente o que falamos; por isso, evite usar eufemismos, como dizer que a pessoa “foi viajar” ou “virou estrelinha”. Isso pode trazer mais dúvida e mais medo.
- Explique o que aconteceu logo que possível. Atrasar a notícia não ameniza a dor. Não esconda as razões da morte (doença, acidente, envelhecimento, etc.). A transparência contribui para minimizar efeitos de culpa, que, muitas vezes, as crianças sentem após a morte de algum parente.
- Expresse sua dor e o próprio luto diante dos filhos. Se a criança desejar, leve-a para participar do velório e enterro do ente querido. Porém, é bom explicar antecipadamente o que acontece nessas cerimônias.
- Na medida do possível, mantenha os hábitos e rotinas da criança como eram antes da perda. Isso contribui para que ela tenha mais segurança e calma.
- Não esconda fotografias ou objetos da pessoa falecida. Isso é uma maneira equivocada de lidar com o luto infantil, pois faz a pessoa querida “desaparecer” sem deixar rastro ou explicação, o que torna a dor da criança ainda maior. É preciso preservar na memória infantil os momentos felizes vividos com a pessoa falecida.
- Em casos mais difíceis, recorra à orientação de um profissional de saúde para que o processo de restauração emocional da criança seja melhor administrado.
A morte é uma intrusa em nosso planeta. Apesar de ser uma realidade da vida, não fomos criados para lidar com ela. Deus pode dar conforto (Isaías 63:13) e auxiliar no processo de recuperação do luto. A esperança da ressureição com a vinda de Jesus (1Coríntios 15:52) é um consolo para o coração de todo o cristão, inclusive para as crianças. Afinal, para o cristão, a morte não é um fim. Essa é a nossa esperança!
ARIANE M. OLIVEIRA, editora de livros infantojuvenis da CPB, é autora de As Grandes Aventuras da Bíblia e do recém-lançado Guerra no Céu
Leia para o seu filho:
Livro da série Sentimentos ensina crianças a lidar com o luto
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.