Novo de novo

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Ao ver a vida pela perspectiva de Deus, distinguimos potencial e propósito nas coisas mais improváveis.
Foto: Lightsotck
Foto: Lightsotck

Se você gosta de carros (e mesmo que não goste tanto), imagine que tenha um Fusca ano 1959, o primeiro fabricado no Brasil. Em condições normais, após várias décadas de uso, como você imagina que esse carro estaria hoje? Isso mesmo: “detonado”, caindo aos pedaços! Porém, suponhamos que, cansado do velho fusquinha, você resolva vendê-lo para um colecionador de carros antigos. Então, o novo proprietário decide dar um trato em seu novo brinquedo. Manda um especialista fazer o motor, troca os bancos, o painel, o volante, os demais acessórios, e, por fim, resolve restaurar a lataria com um tom perolado. E agora, como está o “possante”? “Novinho em folha”, você diz. Mas pense: o carro não é velho, com mais de meio século de fabricação? Como pode, então, ser chamado de “novo”?

Esse dilema só ocorre pela limitação da nossa língua, que, muitas vezes, utiliza o mesmo termo para definir conceitos com nuances diferentes. No grego, a língua em que foi escrito o Novo Testamento, há duas palavras que expressam a ideia de novidade: os e kainós. A primeira refere-se ao novo em termos de idade, de tempo, e caracteriza aquilo que foi recém-criado. Já kainós define o novo em termos de estado, qualidade, e descreve aquilo que foi renovado, restaurado ou melhorado. No caso do Fusca da história, podemos dizer que, embora não seja néos, ele é kainós, após a restauração.

Na Bíblia, encontramos numerosas vezes esses adjetivos gregos. Quando Jesus declarou ter trazido um novo (kainós) mandamento com base no amor (João 13:34), deu a ideia de um mandamento que já existia (Levítico 19:18), mas que foi ampliado por ele. A “nova criatura” que nos tornamos ao receber a Cristo e a “nova Terra”, mencionadas por Paulo e João (2 Coríntios 5:17; Apocalipse 21:1), também recebem o qualificativo kainós. Assim como Deus não precisou destruir sua lei para renová-la, nem destruirá nosso planeta para recriá-lo, ele é capaz também de nos dar uma nova vida, embora continuemos neste velho corpo (2 Coríntios 4:16).

Começamos mais um ano. Ao ver “2015” na tela do celular, temos a ilusão de que tudo mudou, mas basta olhar para as pessoas e as coisas ao nosso redor para perceber que não é bem assim. Nem tudo é tão novo como parece. Continuamos com os problemas, doenças e desafios de sempre. Então, o que há de novo no ano novo? Bem, isso depende de você.

Às vezes, gastamos tempo demais preocupados em mudar de casa, de carro, de emprego ou em renovar o guarda-roupa, enquanto a verdadeira mudança está em renovar nossa mente (Romanos 12:2). Quando permitimos que o Espírito Santo nos mude, por meio da comunhão e da Palavra de Deus, passamos a enxergar o nosso cotidiano com outro olhar. Paisagens monótonas se tornam vivas e sonhos enferrujados ganham novo brilho. O casamento desgastado volta a ter as cores do amor e a rotina entediante passa a ter sentido. Tudo se torna kainós! Pela fé, podemos ver em cada obstáculo uma oportunidade.

Neste ano, o Senhor nos convida a fazer um acordo: entregar a ele nossa mente contaminada pelo egoísmo, pelo orgulho e pelo pecado, e nosso olhar viciado pelas coisas deste mundo, e receber em troca a habilidade de ver a vida com os olhos de Deus.

Eduardo Rueda é editor associado na Casa Publicadora Brasileira

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Taffarel Toso.