A atualidade do Apocalipse

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O último livro da Bíblia é o presente certo para o momento certo

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Todos os dias, os acontecimentos indicam que o mundo caminha para o fim. E, nesse contexto, um dos livros bíblicos mais relevantes é o que encerra o cânon: o Apocalipse. Foi num cenário semelhante ao das descrições bíblicas dos eventos finais que Jesus apareceu a João em Patmos, dando-lhe a mais completa profecia bíblica, a chave para entender todas as promessas ainda não cumpridas do Antigo Testamento, todas as enigmáticas palavras de Cristo e todas as explanações escatológicas dos apóstolos.

O Apocalipse é o livro da revelação. Seu título vem do grego apokalypsis, derivado do verbo apokalypto, palavra formada por apo (“de”) e kalypto (“esconder”, “ocultar”). A ideia é a de desvendar algo anteriormente oculto. O Apocalipse poderia ser chamado de O Evangelho de Jesus Cristo no Céu, pois há nele a apresentação do ministério de Cristo após sua ascensão e até sua prometida volta.

O termo apokalypsis e a forma verbal apokalypto são frequentes no Novo Testamento grego em relação ao retorno de Cristo e aos acontecimentos simultâneos, como a glorificação dos salvos e o castigo dos ímpios.

REVELAÇÃO ANTECIPADA

Um fato curioso a respeito do Apocalipse é que, bem antes de Deus revelar as visões escritas nesse livro, ele deu profecias antecipando que haveria de enviar as profecias do Apocalipse. Em Amós 3:7, o verbo usado para “revelar” na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento usada pela igreja primitiva, é apocalypto. Ou seja, Deus já havia dito ao profeta Amós que, no futuro, haveria uma revelação ou um “apocalipse”.

Mais clara que a profecia de Amós é a que Paulo registrou em Romanos 16:25: “conforme a revelação ­[apocalypsis] do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos”. O livro do Apocalipse refere-se a si mesmo como a revelação do mistério de Deus (Ap 1:20; 10:7). Assim, tanto o apóstolo Paulo quanto o profeta Amós tiveram conhecimento de que uma revelação especial do mistério de Deus viria a ser dada à igreja por meio de profecia.

Para o apóstolo Paulo, a revelação (ou apocalipse) de Jesus Cristo era a maneira pela qual ele pôde receber e aprender o evangelho: “o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação [apokalypsis] de Jesus Cristo”, pois “aprouve [a Deus] revelar [apokalypsai, aoristo do indicativo ativo do verbo apokalypto] seu Filho em mim” (Gl 1:11, 12, 15, 16).

Parece que Paulo recebeu diretamente de Cristo revelações que mais tarde foram repetidas e ampliadas no Apocalipse de João. Em 2 Coríntios 12:1-6, ele descreve “revelações” (apokalypseis, plural de apokalypsis) do Senhor. Ele recebeu seu “apocalipse” 14 anos antes de escrever essa carta. Sendo que 2 Coríntios data do verão de 57, essas visões e revelações do Céu devem ter ocorrido em 43.

As descrições nas suas cartas de detalhes inéditos dos eventos relacionados à vinda de Cristo evidenciam que ele tinha um conhecimento prévio de revelações que o restante da igreja só teria com a publicação do Apocalipse de João. Ele chegou a afirmar que tomou conhecimento dos detalhes da ressurreição dos justos descritos em 1 Tessalonicenses 4:15-18 “por palavra do Senhor”. Duas vezes Paulo associou a ressurreição dos salvos e a vinda do Senhor com o “ressoar da última trombeta” (1Co 15:52; 1Ts 4:16). O detalhe de ser a última trombeta só faria sentido se ele soubesse que haveria outras trombetas proféticas anteriores, e só o Apocalipse dá essa informação.

Usando a mesma expressão com que João introduziria seu livro, o apóstolo Paulo exortou a igreja a aguardar a revelação (apocalipse) de Jesus Cristo, o dom do testemunho de Jesus (Espírito de Profecia) que faltava para que a igreja estivesse enriquecida (1Co 1:4-9). O Apocalipse deveria ser aguardado pelos crentes porque essa revelação iria prepará-los para a volta de Jesus.

DÁDIVA DE ESPERANÇA

Jesus não revelou toda a sua mensagem, mas deixou que o Espírito da verdade revelasse as coisas que haveriam de vir (Jo 16:12, 13). No Apocalipse, o Espírito é diversas vezes mencionado como o autor da mensagem do livro, o testemunho de Jesus (Ap 1:1, 9; 12:17; 19:10; 20:4). O mais interessante é que o Apocalipse é o livro que anuncia as coisas que haveriam de vir (Ap 1:1, 19).

Um dos mais importantes papéis do Espírito Santo seria revelar o que hoje está escrito no Apocalipse. Mas isso não exclui a possibilidade de outros apóstolos que morreram antes da composição do livro terem recebido de Cristo suas próprias revelações das coisas vindouras. Se Paulo recebeu essas revelações, Pedro e Judas também registram em suas cartas revelações escatológicas semelhantes ao conteúdo do Apocalipse.

“Cada promessa do Apocalipse é destinada ao vencedor, aquele que perseverar até o fim e conservar pura sua fé”

Em sua primeira epístola, o apóstolo Pedro usou duas vezes a expressão grega apokalypsis Iesou Christou (revelação de Jesus Cristo [1Pe 1:7, 13]), a mesma frase inicial do Apocalipse de João, e uma vez a expressão en te apokalypsei tes doxes autou (na revelação de sua [de Cristo] glória [4:13]). Ele também falou da plenitude da salvação “preparada para revelar-se [apokalyphthenai, infinitivo aoristo passivo do verbo apokalypto] no último tempo” (1:5). Também se referiu à glória da qual os presbíteros fiéis participarão: “há de ser revelada [apokalyptesthai, presente do indicativo médio do verbo apokalypto]”.

Entretanto, foi em sua segunda epístola que Pedro expôs mais à vontade seu conhecimento dos temas apocalípticos. Aliás, o próprio objetivo que o apóstolo mencionou para escrever sua segunda carta foi a necessidade de deixar para a igreja uma compreensão correta da vinda do Senhor Jesus Cristo (2Pe 1:12-16).

Apesar de não usar o termo grego apokalypsis nem o verbo apokalypto, 2 Pedro, assim como a carta de Judas, traz grande número de semelhanças com o texto de Apocalipse. Nas epístolas de Pedro e Judas são antecipados muitos temas do Apocalipse, inclusive usando as mesmas imagens.

A igreja primitiva viveu uma ardente expectativa do segundo advento de Cristo para seus dias. Seria muito desmotivador para a florescente comunidade cristã tomar conhecimento de que um longo período de apostasia precederia a vinda de Cristo (2Ts 2:1-3; Ap 11:2, 3; 12:14). Parece que Deus, em sua sabedoria, anunciou a vinda de uma revelação maior sobre o segundo advento que seria outorgada ao apóstolo João (Jo 21:22). Essa revelação, o livro do Apocalipse, veio em um momento de perseguição da igreja, quando haviam se esgotado todas as expectativas a respeito dos sinais da segunda vinda de Jesus, do ponto de vista dos cristãos do 1º século.

O Apocalipse foi uma dádiva de esperança para uma igreja que atravessaria séculos de perseguição e de apostasia e ainda teria que ter fôlego para cumprir a missão de pregar a salvação em Cristo a todo o mundo.

FERNANDO DIAS DE SOUZA é pastor em Nova Serrana (MG)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.