Tempo de erguer a cruz

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Há 45 anos, adventistas aproveitam a tradição da Semana Santa para apresentar Cristo ao mundo
Flash mob realizado em Porto Alegre, na Páscoa de 2014.
Flash mob realizado em Porto Alegre, na Páscoa de 2014.

“Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12:32). A cada Páscoa, os adventistas têm a oportunidade de olhar novamente para a cruz e de apresentar o Cristo crucificado e ressurreto para o mundo. Ellen White chegou a afirmar que é a centralidade da cruz que torna poderosa a mensagem cristã: “Na cruz do Calvário, Jesus levanta-se como a revelação de um amor sem igual. Apresentem-no assim às multidões famintas, e a luz de seu amor ganhará os homens das trevas à luz, da transgressão à obediência e verdadeira santidade” (Review and Herald, 22/11/1898).

Desde 1970, isso tem sido feito na América do Sul por meio de séries especiais de pregação. Inicialmente, somente nas igrejas; hoje, em 56 mil pequenos grupos e 25 mil congregações. Essa tradição adventista nasceu com o pastor Daniel Belvedere, que atuava como evangelista em Buenos Aires, na Argentina. A ideia do ministro era aproveitar o sentimento despertado pela data e unir os ministérios da igreja num projeto comum. Naquele ano foram organizados 147 pontos de pregação, com 262 oradores e 600 voluntários. Os resultados apareceram logo: 4.300 pessoas acompanharam a programação, e o número de batismos dobrou. Em 2014, a iniciativa resultou no batismo de 36 mil pessoas.

O modelo começou a ser rapidamente replicado em outros lugares. Já na edição de agosto de 1971 da Revista Adventista havia relatos do sucesso do evangelismo de Semana Santa: primeiramente na Região Norte, depois no Nordeste e, por fim, no restante do país. Hoje, em algumas cidades, como Curitiba (PR), o programa é antecipado em uma semana para contar com a adesão dos membros que viajam no feriado.

Em 2015, segundo o pastor Everon Donato, que coordena o evangelismo de Semana Santa para todo o subcontinente, “o tema vai mostrar o quanto somos importantes para Jesus, a ponto de ele nascer, viver, chorar, se entregar, sofrer, morrer, ressuscitar e voltar para nos salvar”. Para mobilizar os membros, um treinamento via web foi realizado no dia 21 de fevereiro (disponível em videos.adventistas.org), e os materiais promocionais podem ser baixados em downloads.adventistas.org.

CULTURA LATINA

No livro Terra de Esperança, o historiador Floyd Greenleaf interpreta esse período do adventismo como uma fase de adaptação dos métodos norte-
americanos para a realidade sul-americana. Foi um processo de contextualização, iniciado pelo pastor Walter Schubert, visando a entender o coração latino. “Por causa da forte influência católica em toda a América do Sul, atribuímos grande importância à celebração da Semana Santa”, explicou em 1985 o pastor João Wolff, então presidente da igreja em nível sul-americano.

Logo os líderes perceberam que, além de engajar a igreja no evangelismo, o programa também beneficiava os membros desanimados. Em alguns períodos, a Semana Santa e o plantio de igrejas caminharam juntos. O Projeto Pioneiro, na década de 1980, por exemplo, propunha que 15 a 20 adventistas ou uma classe da Escola Sabatina abrissem novos pontos de pregação.

Até hoje, a data é utilizada com sucesso para se compartilhar esperança. O que facilita a estratégia é a sensibilidade a uma cultura de matriz católica. Sensibilidade que, aguçada pelo Espírito de Deus, pode continuar a nos mostrar quais abordagens são mais adequadas para cada tempo e lugar.

WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.