Unasp pode se tornar um celeiro de missionários

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Congresso de teologia desafiou estudantes a trabalhar em missões no exterior

Durante três dias, 350 alunos do curso de Teologia do Unasp acompanharam as palestras, painéis e debates em grupo. Foto: Jhady Felipe
Durante três dias, 350 alunos do curso de Teologia do Unasp acompanharam as palestras, painéis e debates em grupo. Foto: Jhady Felipe
Com uma tradição centenária na formação de pastores distritais, a Faculdade Adventista de Teologia do Unasp agora pode se tornar uma base de envio de missionários transculturais. Essa expectativa foi fomentada pelo último congresso de teologia realizado no campus de Engenheiro Coelho, nos dias 20 a 22 de março. O evento reuniu 350 participantes, entre estudantes, professores, pastores e líderes da denominação em nível sul-americano e mundial.

A realização desse encontro confirma o despertamento da Igreja Adventista no Brasil para sua contribuição no campo mundial. Vale lembrar que no fim de fevereiro a sede sul-americana adventista enviou 25 famílias missionárias para o Oriente e, em setembro, o Unasp, campus Engenheiro Coelho, deve reunir, no congresso I Will Go, 1.200 universitários que desejam servir além-mar.

Enxergando que o Brasil pode se unir à Coreia do Sul, Filipinas e Nigéria como um celeiro de missionários, líderes e missiólogos foram ao Unasp com o objetivo de inspirar os alunos e dialogar com os professores sobre futuras parcerias. Gente do nível do Dr. Jon Dybdahl, um dos maiores missiólogos da denominação, e Gary Krause, diretor do departamento de Missão Global da sede mundial da igreja.

Programação

O evento contou com palestras, debates em grupo, lançamento de livro, apresentação de pesquisas da pós-graduação em Missiologia do Unasp, testemunhos em vídeo de missionários brasileiros e recrutamento de voluntários para o campo mundial. Os congressistas conheceram as três principais modalidades de envio de missionários praticadas pela Igreja Adventista: funcionários remunerados da denominação, estudantes missionários e voluntários de autossustento. Essa última categoria é mantida especialmente por ministérios de apoio, como o Adventist Frontier Missions, que foi representado no evento por Conrad Vine e John Baxter. Segundo o site da AFM (afmonline.org), o ministério atua em 19 países com 96 missionários.

Durante os dois primeiros dias, Dybdahl apresentou aulas sobre teologia da missão, porém, ele reservou para a manhã de domingo uma mensagem motivacional para os congressistas. Referindo-se ao texto de Mateus 24:14, ele disse que os cristãos precisam acreditar que o fim da história de pecado virá com a pregação do evangelho a toda criatura.

Missionário na Tailândia por seis anos e um dos maiores missiólogos adventistas, Jon Dybdahl foi um dos palestrantes do congresso. Foto: Jhady Felipe
Jon Dybdhal: “Deus faz o impossível para cumprir a missão e usa a todos, inclusive você. Faça parte do movimento que vai trazer o fim”. Foto: Jhady Felipe
Ele reconheceu os desafios dessa tarefa, mas desafiou os alunos a confiar em Deus e aproveitar as oportunidades. Para Dybdahl, que foi missionário por seis anos entre os budistas da Tailândia, as peculiaridades adventistas, como o cuidado com a saúde, são uma vantagem no contato com adeptos das religiões mundiais. “Deus faz o impossível para cumprir a missão e usa a todos, inclusive você. Faça parte do movimento que vai trazer o fim”, concluiu o professor aposentado.

Despertamento

“Por muitos anos, a igreja mundial olhou para o Brasil como um campo missionário. Mas nos anos mais recentes isso tem mudado. A igreja no Brasil tem contribuído com ofertas para o exterior, mas também pode enviar missionários. Deus tem abençoado o Brasil com o crescimento do número de membros, igrejas plantadas, uma TV e editora fortes. Por esse país estar sendo abençoado por Deus, ele precisa abençoar o mundo”, avaliou Gary Krause, líder mundial que encontrou um espaço em sua agenda para estar dois dias com os estudantes.

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“Não vamos parar mais”, disse o pastor Almir Marroni em referência ao envio de missionários sul-americanos para o exterior. Foto: Jhady Felipe
Almir Marroni, um dos vice-presidentes da Igreja Adventista para a América do Sul, lembrou que, desde 2007, os adventistas têm sido mobilizados a participar de projetos de grande porte, em que todos podem se envolver. Na visão dele, essa movimentação tem reavivado o espírito missionário dos membros e criado um ambiente favorável para as missões transculturais. “Não vamos parar mais”, garantiu o pastor Marroni, ao falar sobre o envio de 25 famílias missionárias em fevereiro.

Outro líder sul-americano que falou no encontro foi o pastor Herbert Boger, coordenador do projeto Missionários para o Mundo. Ele descreveu como foi o processo de seleção dos missionários que estão no Oriente. “Ter morado no exterior, domínio do inglês e não ter filhos pequenos foram alguns requisitos”, informou Boger. Ele destacou também o desprendimento do grupo e a consciência desses voluntários sobre os riscos que correm ao trabalhar em países com alta intolerância religiosa.

Existem vagas

Ao se deparar com as inúmeras necessidades do campo mundial, especialmente dos países em que a presença cristã e adventista é inexpressiva, dezenas de estudantes manifestaram interesse de trabalhar no exterior. Alguns deles se manifestaram publicamente, como o aluno de Teologia, Gustavo Henrique Silveira. Ele disse que desde a adolescência deseja servir no Oriente Médio. Hoje casado e pai de um garoto de dez anos, vê que o sonho parece mais distante de ser realizado. Porém, Gustavo foi orientado pelos palestrantes a estudar inglês, orar e se preparar com a família para alguma missão transcultural.

Lucas Azevedo: estudante de Teologia que em 2009 serviu como professor de inglês na China. Formado em Relações Internacionais, ele representa um novo perfil de aluno que parece se adequar ao campo mundial. Foto: Jhady Felipe
Lucas Azevedo: estudante de Teologia que em 2009 serviu como professor de inglês na China. Formado em Relações Internacionais, ele representa um novo perfil de aluno que parece se adequar ao campo mundial. Foto: Jhady Felipe
Outros alunos foram mais discretos, mas reconheceram o profundo impacto do evento na confirmação da própria vocação. É o caso de Lucas Azevedo, filho de pastor e estudante do terceiro ano do seminário. Formado em Relações Internacionais, em 2009, ele teve uma experiência como professor de inglês na China. “Lá eu tive contato com pessoas que nunca haviam ouvido falar o nome Jesus, o que é impensável para nós no contexto brasileiro”, relata. Lucas não se sabe se voltará para o campo missionário, mas tem se colocado à disposição de Deus. “Esse evento foi um divisor de águas. Saio daqui com uma noção muito mais ampla do que significa missão”, compartilhou.

Irismar Gonçalves, presidente do diretório acadêmico da faculdade e um dos organizadores do evento, acredita que Deus conduziu o evento, tornando uma programação incialmente interna em algo que pode ter implicações mais abrangentes. Ele enxerga duas razões para o grande interesse dos alunos pela temática: um despertamento da igreja e a falta de vagas de trabalho no território nacional. Com a abertura de novos seminários adventistas no Brasil, os cursos têm formado mais pastores do que a denominação pode contratar. Nesse contexto, o campo missionário parece ser uma opção interessante para direcionar essa mão de obra excedente.

Parcerias

“A impressão que temos é que o mundo adventista está olhando para nós brasileiros e clamando por nossa participação”, avaliou o professor Adolfo Suárez, recentemente nomeado secretário acadêmico da Faculdade Adventista de Teologia. “Nós temos que repensar nosso papel no preparo de um perfil de estudante que daqui poucos anos pode estar servindo no campo missionário”, completou Adolfo, natural da Bolívia, mas que vive no Brasil há algumas décadas.

Adolfo disse que a realização do congresso foi uma boa oportunidade para que, a partir do evento, a coordenação do curso pense em mudanças. Segundo ele, isso pode incluir ajustes na grade curricular e no programa de estágios, a visita de missiólogos para ministrar classes intensivas, a facilitação de intercâmbio e a autorização para que alunos de teologia façam um segundo curso paralelamente ao seminário. Essa dupla formação seria uma vantagem para o ingresso em países que não permitem a entrada de ministros ou missionários. Com essas adaptações, Adolfo acredita que o Unasp poderá formar estudantes que darão uma contribuição internacional em larga escala, como de fato já tem ocorrido pontualmente.

WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.