A revolução da tecnologia

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Novos meios de comunicação reconfiguram as oportunidades do cristianismo

ircuit boardHoje, com um clique temos acesso a um novo mundo de ideias, imagens, cores e sons. A cultura digital aproximou as pessoas e reduziu o planeta, afetando os hábitos cotidianos e religiosos de bilhões. A religião on-line impactou a própria religião off-line, pois toda tecnologia nasce num contexto cultural e depois muda a cultura. Sem dúvida, vivemos em novos tempos. Será que, graças à tecnologia, estamos presenciando uma mudança de paradigma na história do cristianismo?

Para a autora Phyllis Tickle, a cada período de aproximadamente 500 anos, o cristianismo passa por uma profunda mudança e um grande processo de crescimento, atingindo novas dimensões geográficas e demográficas. Um período de turbulência é seguido por uma fase de acomodação, que leva à codificação da fé e novamente à agitação. O momento atual seria uma transição nesse ciclo.

Concordemos ou não com a teoria dela, não há dúvida de que o mundo passa por uma gigantesca transformação. Entretanto, para um adventista, talvez mais interessante do que essa categorização seja dizer que vivemos numa segunda plenitude do tempo. Cristo veio na primeira plenitude (Gl 4:4), quando “o grande relógio do tempo”, conforme diz Ellen White (O Desejado de Todas as Nações, p. 32), assinalou a hora marcada pelos desígnios do Altíssimo. A chegada de Jesus ocorreu num momento em que o mundo passava por uma globalização, num impressionante paralelo com a globalização atual. E sua segunda vinda ocorrerá em um tempo com as mesmas características, somente com mais sofisticação e intensidade.

Nas duas plenitudes, os recursos de comunicação desempenham um papel fundamental, e a grande notícia a ser transmitida é o evangelho, que deve transcender qualquer empolgação com aparelhos e ferramentas. A tecnologia só ganha um significado final quando é utilizada para uma causa maior do que seu propósito inicial. O meio não é a mensagem. Se não houver um conteúdo superior, potencializado pelo poder do Espírito Santo, tudo não passa de maquinaria morta. No 1º século, o grande fato foi a salvação realizada por Cristo, no século 16 foi a justificação pela fé e no fim dos tempos será a volta de Jesus.

As novas tecnologias são meios para esse fim. Aqui entra a rede mundial de computadores, que, para o avanço da religião, tem sido tão revolucionária quanto a invenção da imprensa. Que a internet é uma bênção em potencial para a causa do cristianismo não resta dúvida. “As invenções da mente humana parecem proceder da humanidade, mas Deus está atrás de tudo isso. Ele fez com que fossem inventados os rápidos meios de comunicação para o grande dia de sua preparação”, comentou Ellen White (Fundamentos da Educação Cristã, p. 409). E o maior impacto ainda está por ocorrer, pois a pregação do evangelho tem muitas reverberações.

No entanto, a internet pode ser também uma maldição. Além de oferecer conteúdo nocivo e misturar o santo com o profano, ela pode roubar o tempo e inflar o ego do navegador. Muitos cristãos hoje anunciam a si mesmos, em lugar do Cristo crucificado. Isso sem falar nos que vivem na ilusão digital. Para eles, o real é o que é midiatizado, e o virtual parece mais tangível do que o material.

Outro fenômeno causado pela nova realidade é uma mistura de religiões, um sincretismo light, mas não menos perigoso. Fluida, quase volátil, a internet ajudou a destruir as fronteiras religiosas. Atualmente, as pessoas fazem uma colagem de retalhos de fé, criando um mosaico espiritual customizado. Se ela multiplicou os púlpitos, também ofereceu microfones para falsos profetas, num cumprimento em grande escala da profecia de Jesus.

A palavra religião vem do termo latino religare. A internet tem a mesma proposta. Porém, enquanto a primeira tem a ambição de conectar as pessoas com o divino, a segunda fica no nível humano. Quando esperamos da internet algo que ela não pode oferecer, fazemos dela uma falsa substituta para a religião. A rede possibilita contatos e proporciona sentimentos, mas eles não chegam ao transcendente. Você toca a tela, mas não consegue tocar o sagrado.

Foi para despertar uma reflexão sobre os perigos e as possibilidades dessa tecnologia tão poderosa, com suas inúmeras tentações e janelas, que pautamos a matéria de capa da edição de setembro. Esperamos que você aprecie a abordagem e use as novas ferramentas para transcender seus limites e conectar o mundo a Deus. [Créditos da imagem: Fotolia]

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.