Relevante para as novas gerações

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Líderes sul-americanos buscam encontrar formas de engajar a juventude adventista e conter perda de membros

Em sua primeira viagem oficial ao Brasil após ser reeleito pela assembleia da Associação Geral em San Antonio, Texas (EUA), o presidente mundial da Igreja Adventista abriu o segundo dia de programação do Concílio Quinquenal da Divisão Sul-Americana enfatizando aquela que foi uma das marcas de sua primeira gestão: a evangelização das grandes cidades. Para ele, a força missionária da igreja precisa continuar sendo direcionada para esses lugares. “O trabalho nessas metrópoles é desafiador e, muitas vezes, perigoso, mas não devemos temer ou retroceder, pois Deus garante que estará conosco”, reforçou.

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Presidente mundial da igreja proferiu mensagem especial aos cerca de 250 participantes do Concílio Quinquenal da Divisão Sul-Americana. Créditos da imagem: Márcio Tonetti

Por onde tem passado, Wilson também vem reforçando o novo plano estratégico da igreja mundial, que pretende fortalecer a vida espiritual dos membros e melhorar o senso de comunidade e de missão dos 18,5 milhões de adventistas no planeta. Um dos objetivos propostos pelo “Reach the World” (Alcançar o Mundo) é otimizar o envolvimento dos jovens na vida e na missão da igreja. Isso porque, segundo estatísticas mundiais adventistas, nos últimos 50 anos a denominação foi impactada pela expressiva perda de membros, especialmente de jovens.

Ted Wilson defende que a permanência na igreja depende de pelo menos três fatores: um relacionamento forte com Cristo, que pode ser alcançado através do estudo da Bíblia, uma vida intensa de oração e a prática do testemunho pessoal. Ele também acredita que o envolvimento das novas gerações com o serviço ao próximo é uma das formas de evitar a apostasia. Afinal, como ele lembra, o engajamento em causas sociais é uma característica marcante desse público. “Uma das maneiras de manter os jovens conectados com a igreja é envolvê-los em ações que visam a servir ao próximo”, assegurou em entrevista à Agência Sul-Americana de Notícias (ASN) nesta quarta-feira, 4 de novembro.

Aquilo que a igreja mundial vem tentando fazer em nível macro também é uma das ênfases da liderança adventista na América do Sul. O assunto foi um dos principais itens da agenda do Concílio Quinquenal no segundo dia do evento que acontece em Brasília ao longo de toda esta semana.

Ao expor aquela que será uma das quatro ênfases do programa da Divisão Sul-Americana para os próximos cinco anos, o pastor Helder Roger Cavalcanti mostrou que “as novas gerações são a maioria dos que entram na igreja e a maioria dos que saem dela”. Uma pesquisa realizada em 2013 na região Centro-Oeste constatou que se, por um lado, a maior parte dos que entravam na igreja tinham até 12 anos (37%), de outro, a perda mais significativa envolvia o público com idade entre 16 e 19 anos (22,6%).

Estatísticas mais recentes relacionadas ao território sul-americano também apontam que o maior índice de apostasia vem sendo registrado na faixa dos 16 aos 20 anos (20,82%). “A onda que esvaziou igrejas na Europa e nos Estados Unidos está caminhando para a América do Sul. A Igreja Adventista continua atraindo crianças e jovens, mas também está perdendo muitos deles”, afirmou o vice-presidente da DSA.

Ouça a entrevista com Helder Roger Cavalcanti sobre o adventismo e as novas gerações

Diante desse quadro complexo, a igreja está se movendo a fim de reverter o panorama. Como lembrou Helder Roger, ao citar o escritor Barry Gane, “qualquer igreja está a apenas uma geração da extinção” (O caminho de voltap.14). Ciente da necessidade de dar maior atenção às novas gerações, a Divisão Sul-Americana propõe uma série de ações para os próximos anos. A ideia é envolver líderes, pais e as igrejas locais nesse plano estratégico.

O projeto Pegadas, que valoriza o papel das famílias no processo de discipulado, será uma das iniciativas que receberão maior ênfase. A igreja também buscará ampliar a produção de conteúdos e aplicativos digitais, além de literatura voltada para as novas gerações, o que inclui a adaptação de livros de Ellen White para uma linguagem mais acessível a esse público.

Outro projeto sugerido pela liderança sul-americana é o que procura incentivar as crianças e adolescentes a fazerem uma “poupança missionária”, visando a participação em programas como Missão Calebe, Um Ano em Missão e até em missões transculturais por meio do Serviço Voluntário Adventista.

Buscando encontrar caminhos para tornar-se mais relevante para as novas gerações, a Divisão Sul-Americana aproveitou o encontro de líderes para promover uma ação diferenciada. Foram convidados adolescentes e jovens com idades entre 11 e 18 anos para um diálogo franco e aberto. Os mais de 200 administradores pararam para ouvir suas críticas e sugestões.

Créditos da imagem: Márcio Tonetti
Líderes da igreja na América do Sul pararam para ouvir críticas e sugestões de adolescentes e jovens na tentativa de encontrar caminhos para tornar a igreja mais relevante para as novas gerações. Créditos da imagem: Márcio Tonetti

Entre os comentários feitos pelo grupo, se destacaram observações como: “a igreja precisa dar mais espaço para os jovens, pois eles podem fazer coisas maravilhosas”, “necessitamos de professores e pregadores que aprofundem mais os temas da Bíblia”, “a igreja tem que aceitar as novas gerações”, “alguns programas promovidos para os jovens tratam sempre sobre os mesmos temas; há outros assuntos que queremos e precisamos ouvir”, e “queremos uma igreja simples, criativa e alegre”.

“Eu fiquei impressionado com a visão que vocês têm. Vocês enxergam muito mais longe do que muitos de nós imaginamos e têm a fórmula para algumas soluções que precisamos”, afirmou o pastor Erton Köhler, presidente da organização adventista na América do Sul.

Após o bate-papo, um importante voto tomado pelos líderes sul-americanos evidenciou a disposição da igreja de adequar-se aos novos tempos. Na ocasião, foi aprovado o documento que sugere a renovação da liturgia dos cultos. A recomendação é que a programação das igrejas seja mais sucinta e atrativa para as novas gerações. Afinal, como lembrou o pastor Köhler, “se nós não fizermos um programa mais compacto para essas mentes inquietas, essa liturgia não os alcançará. Precisamos cuidar dos jovens enquanto ainda temos eles conosco”. [Márcio Tonetti, equipe RA]

Para saber +

Leia na íntegra o voto tomado pela Divisão Sul-Americana sobre a proposta litúrgica 

RENOVANDO A LITURGIA DO CULTO DE ADORAÇÃO

Considerando as duas formas sugestivas de liturgia expressas pelo Manual da Igreja (MI, Ed. 2010, Notas p. 181, 182), que ao mesmo tempo diz: “Não existe uma forma ou ordem estabelecida para o culto público. Em geral, uma ordem mais curta para o culto é mais adequada” (MI, Ed. 2010, p. 124);

Considerando a necessidade no território da Divisão Sul-Americana (DSA) de desenvolver um culto de adoração mais dinâmico e que se comunique de maneira eficiente com a geração atual; considerando que o propósito do culto deve equilibrar e integrar harmoniosamente a adoração a Deus, a edificação da igreja e a evangelização; considerando a influência da tecnologia, o ritmo da vida atual, que gera mentes inquietas, e a necessidade de um culto de adoração mais direto e inspirador; considerando a quantidade de telespectadores e ouvintes da Novo Tempo que têm vindo para as nossas igrejas e que necessitam de uma programação mais direta e bem preparada; propõem-se as seguintes instruções práticas e uma liturgia sugestiva para ser utilizada nas igrejas e grupos no território da Divisão Sul-Americana:

  1. Investir mais tempo por parte dos pastores e Associações/Missões em capacitações sobre culto e liturgia, buscando maior qualidade na adoração.
  2. Envolver as diferentes gerações da igreja, evitando que o culto de adoração esteja voltado a apenas um grupo específico.
  3. Determinar a ordem apropriada de como serão a Escola Sabatina e o Culto de Adoração, e definir qual dos dois acontecerá primeiro na manhã de sábado. Onde o Culto Divino antecede a Escola Sabatina, os dízimos e as ofertas podem ser recolhidos depois da pregação.
  4. Estabelecer uma continuidade entre Escola Sabatina e Culto Divino, integrando ambos como uma só unidade de adoração com um hino de louvor como transição.
  5. Utilizar, na medida do possível, o mesmo espaço físico da plataforma para realizar o Culto de Adoração e a Escola Sabatina, entendendo que ambos envolvem adoração a Deus e respeito por Sua presença.
  6. Organizar os cultos com antecedência, evitando improvisação e imprevistos que diminuam sua solenidade e forte influência espiritual.
  7. Envolver a maior quantidade possível de participantes de todas as idades.
  8. Realizar um programa atraente e eficaz para os amigos que visitem a igreja.
  9. Utilizar os recursos audiovisuais com criatividade e sem exageros.
  10. Preparar um calendário anual de pregações que envolva o máximo possível das 28 Crenças Fundamentais da IASD.
  11. Incentivar que o louvor congregacional se desenvolva sempre em harmonia com a pregação, com o uso de instrumentos próprios para a adoração e não ocupando tempo demasiado que venha a comprometer a pregação da Palavra. (clique aqui e veja “Filosofia Adventista do Sétimo Dia com Relação à Música” DSA 144-03, “Orientações com relação à música para a Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul” DSA 116-05).
  12. Motivar os pregadores a não perder a oportunidade de encerrar a pregação com apelos que motivem os ouvintes a tomar decisões práticas.
  13. Estabelecer uma liturgia completa que tenha aproximadamente uma hora e quinze minutos de duração, dividindo o tempo equilibradamente entre as partes do culto e dedicando pelo menos 30 minutos à pregação.
  14. Manter a equipe do Ministério da Recepção atuante durante toda a programação do culto, dando uma atenção especial aos amigos que chegam à igreja.
  15. Utilizar uma liturgia mais breve, que mantenha as partes fundamentais da adoração dentro do culto, de acordo com a seguinte sugestão: (a) chamado à adoração (leitura bíblica e oração); (b) momento do louvor; (c) oração intercessora; (d) adoração infantil; (e) dízimos e ofertas (testemunhos do “Provai e Vede”); (f) mensagem musical; (g) pregação bíblica; (h) hino final; e (i) bênção.
  16. Orientações adicionais podem ser sugeridas pela União de acordo a seu próprio contexto.

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.