A Palavra revelada de Deus

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Entenda como a Bíblia foi escrita e o que significa dizer que ela é um livro inspirado
Celebrado no segundo domingo de dezembro, o Dia da Bíblia foi criado em 1549, na Grã-Bretanha. No Brasil a data começou a ser celebrada em 1850, quando chegaram da Europa e EUA os primeiros missionários cristãos evangélicos. Foto: Daniel de Oliveira
Foto: Daniel de Oliveira

Alberto, um jovem cristão, estava se preparando para uma viagem de férias. O amigo, Gustavo, veio buscá-lo e lhe perguntou:

– Já arrumou suas coisas? Está tudo pronto?

– Quase – respondeu Alberto. – Só falta pôr mais umas coisinhas na mala: – completou, enumerando uma lista – um mapa, uma lâmpada, uma bússola, um espelho, uma cesta de comida, alguns livros de poesia, algumas biografias, uma coletânea de cartas antigas, um livro de cânticos, um livro de histórias, um metro, um prumo, um martelo, uma espada, um capacete…

A essa altura, o amigo já estava apavorado:

– Mas, meu amigo, o carro já está cheio, não vai dar para você levar tudo isso!

– Acalme-se. Está tudo aqui! – disse mostrando a Bíblia.

De fato, a Bíblia é a concentração de diversos elementos necessários à vida: esperança, guia, verdade, luz, reflexão, etc. E por isso é um livro tão extraordinário, que dificilmente conseguimos imaginar a história da humanidade sem esse tesouro imensurável. Mas, por que a Bíblia se tornou imprescindível para nós? O que a torna tão especial?

Diferentemente de qualquer outro livro na história da humanidade, a Bíblia passou por um impressionante processo de elaboração. Para começar, como o livro Nisto Cremos afirma, “a singularidade das Escrituras baseia-se em sua origem e fonte”. De fato, os autores bíblicos mencionam com frequência que eles próprios não são os originadores das mensagens que falam ou escrevem. “Eles as recebiam das fontes divinas. Através da revelação divina, eles haviam sido habilitados a ‘ver’ estas verdades” (p. 18). Isso pode ser comprovado em textos bíblicos como estes:

  • “Mas se não quiseres sair, esta é a palavra que me revelou o Senhor” (Jr 38:21, ARA).
  • “Palavra do Senhor que em visão veio a Miqueias…” (Mq 1:1, ARA).
  • “Sim, fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas que nos precederam…” (Ne 7:12, ARA).

Um dos textos mais esclarecedores a respeito da origem da Bíblia foi escrito pelo apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus…”. A palavra “inspirada” foi traduzida do grego theopneustos, e significa literalmente “proveniente do fôlego de Deus” (Nisto Cremos, p. 19), como se Deus tivesse “soprado” as ideias que formaram a Palavra. Assim, “Deus ‘inspirou a verdade nas mentes dos homens, os quais expressaram estas mesmas verdades em suas próprias palavras, que foram consolidadas nas Escrituras. Portanto, inspiração é o processo através do qual Deus comunica Sua verdade eterna” (ibid.).

Três componentes da inspiração das Escrituras

O apóstolo Pedro também afirma algo fundamental a respeito da inspiração das Escrituras: “Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos [movidos] pelo Espírito Santo” (2Pe 1:20-21, NVI).

De acordo com Geisler e Nix, na obra Introdução Bíblica – Como a Bíblia chegou até nós, a partir das palavras de Pedro podemos falar dos três fatores ou componentes da inspiração das Escrituras (p. 12, 13):

  1. Deus é a Causa. O próprio Deus é a Fonte Primordial da inspiração da Bíblia. Foi Ele quem escolheu e estimulou os escritores. Primeiro, falou aos profetas e, a seguir, falou aos seres humanos através desses profetas escolhidos. As verdades reveladas por Deus foram registradas pelos profetas escritores. De modo que o primeiro e mais importante fator fundamental da doutrina da inspiração bíblica é que Deus é a fonte principal e a causa primeira da verdade bíblica.
  1. Os profetas são mediadores. Os profetas que escreveram a Bíblia não eram meros robôs ou autômatos. Eram mais do que apenas secretários que anotaram o que Deus lhes ditava. Eles escreveram de acordo com a consciência que os movia para essa tarefa, mas o fizeram com seus estilos literários e seus vocabulários individuais. A personalidade dos escritores bíblicos não foi violentada por uma intrusão divina. É verdade que a Escritura que eles produziram é a Palavra de Deus, mas também é verdade que nela vemos o ser humano. Afinal, Deus usou a personalidade de cada um dos escritores para comunicar verdades e conceitos divinos.
  1. A Escritura é autoridade. Somos informados que a Escritura é “útil para o ensino, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3:16, 17). Isso sigifica que a Bíblia é a última palavra no que diz respeito a assuntos doutrinários e éticos. Essa autoridade é decorrente da autoridade do próprio Deus, que se expressa na Bíblia através dos escritos proféticos.

Em síntese, a inspiração bíblica consta de três fatores essenciais: (1) Deus, como a Causa, (2) os homens de Deus, como mediadores, e (3)  as Sagradas Escrituras, como o produto final da revelação, a autoridade de Deus registrada pelos homens.

A mensagem da Bíblia

A Bíblia é o livro mais conhecido do mundo. Está nas casas mais simples e nos mais belos palácios; nas pequenas igrejas e nos mais suntuosos templos; nas bibliotecas de cidades do interior e nas mais famosas universidades. Está à disposição de qualquer pessoa. É possível comprá-la por poucos reais, ou pagar uma fortuna por exemplares antigos e raros. Numa boa livraria, você consegue desde as Bíblias mais sofisticadas até as de linguagem mais simples. Se preferir, pode até comprar uma em forma de aplicativo para smartphone, ou mesmo lê-la online.

Entretanto, mais do que sua versatilidade, o que realmente impressiona nela é sua mensagem, a qual, como diz Philip Comfort em sua obra A Origem da Bíblia, lhe confere uma “missão civilizadora”. E qual é a mensagem da Bíblia? Como explica o autor, esse livro revela a história da salvação. “Ao longo de ambos os Testamentos, podem ser distinguidos três elementos comuns nessa história reveladora: Aquele que traz a salvação, o meio de salvação e os herdeiros da salvação” (p. 23). De acordo com a mensagem bíblica, quem traz a salvação é Deus Pai; o meio da salvação é Deus Filho – Jesus Cristo; e os herdeiros da salvação são os seres humanos, impressionados por Deus Espírito Santo.

Poder transformador

É sua mensagem central que atribui poder à Bíblia. Por causa disso, diferentemente de qualquer outra literatura, suas palavras são entesouradas nos corações de multidões. De fato, Philip Comfort tem razão ao afirmar que todos aqueles que recebem seus dons de sabedoria e promessas de nova vida e poder eram, em princípio, estranhos à sua mensagem de redenção, sendo que muitos eram hostis aos seus ensinamentos e exigências espirituais. Em todas as gerações, evidencia-se seu poder de desafiar as pessoas de todas as raças e nações. Aqueles que apreciam a Bíblia – porque sustenta a esperança futura, dá sentido e poder para o presente e correlaciona um passado mal vivido com a graça perdoadora de Deus – não estariam experimentando tais recompensas interiores se as Escrituras não fossem aceitas por eles como a verdade autoritária e divinamente revelada.

Para o crente, a Escritura é a Palavra de Deus dada na forma objetiva das verdades proposicionais por meio de profetas e apóstolos divinamente inspirados, e o Espírito Santo é o doador da fé mediante essa Palavra.

ADOLFO SUÁREZ, pós-doutor em Teologia, é reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.