Império do mal e do bem

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Relacionamento das grandes potências mundiais com o povo de Deus é mais complexo do que parece
Os impérios nem sempre têm um programa para perseguir os dissidentes, e podem até mesmo ser instrumentos no plano divino. Créditos: Fotolia
Os impérios nem sempre têm um programa para perseguir os dissidentes, e podem até mesmo ser instrumentos no plano divino. Créditos: Fotolia

De todas as eleições norte-americanas recentes, talvez nenhuma tenha mexido tanto com os instintos proféticos dos evangélicos quanto a de 2016. Para muitos, a inesperada vitória de Donald Trump conferiu um tom apocalíptico e sombrio ao futuro da superpotência da profecia. Mas isso não significa que, de uma hora para outra, os Estados Unidos vão mudar totalmente sua política. Se a igreja de Roma pensa em séculos, a imagem desse poder milenar também muda em longo prazo, a não ser em momentos cruciais.

Muitos parecem temer o que o império lhes possa fazer. Porém, não há motivo para pânico. Vou mencionar três razões para isso:

1. Ninguém sabe exatamente quando surgirão os problemas. A interpretação adventista é sólida, mas a Bíblia e os escritos de Ellen White não apresentam detalhes. É preciso ter cuidado com as interpretações. A história sempre tem surpresas. Guilherme Miller tinha certeza matemática de seus cálculos, mas errou no evento. As explicações de Uriah Smith sobre o papel da Turquia nos eventos finais não se confirmaram. Em 1856, R. F. Cottrell, escrevendo na Review and Herald, argumentou que não faria diferença votar contra a escravidão porque os decretos da imagem da besta seriam “contra o livre e o escravo”, o que significaria que essa injustiça social duraria até o fim dos tempos. Felizmente, Ellen White não pensava assim e falou contra esse abominável mal.

2. Os impérios não são sempre hostis ao povo de Deus. Os estudos bíblicos sobre o relacionamento entre império e os súditos de Deus surgiram no século 19. Porém, nos últimos 25 anos, esse subcampo da exegese tem sido bastante explorado e melhor compreendido. No livro Between Babel and Beast (Cascade, 2012), Peter Leithart defende que o “império” não é inerentemente mau. Ele critica o americanismo, com sua idolatria do estado, mas vê virtudes no país. O importante para o cristão não é tentar desmantelar o império, mas corrigir seu rumo. Para o teólogo, a Bíblia apresenta três tipos de impérios: (1) ciriano, como o de Ciro e de Nabucodonosor (em seus melhores momentos), que oferece liberdade e permite livre adoração; (2) babélico, que exige homogeneidade cultural e política e se preocupa mais com sua expansão e engrandecimento; (3) bestial, em que os fiéis são abertamente perseguidos, como na Roma de Nero. Os Estados Unidos seriam do tipo babélico. Mas nem sempre os impérios têm um programa para perseguir os dissidentes. Tampouco Deus odeia os impérios, pois amou o mundo. Por isso, antes de criticar unilateralmente uma superpotência, é preciso ver o que ela tem de bom e de ruim. Os impérios podem ser instrumentos de Deus. Babilônia (Jr 25:11) e Roma (Mt 24:15-20), por exemplo, cumpriram papéis proféticos contra Israel. Jesus poderia ter falado da destruição de Roma, mas falou da destruição de Jerusalém por Roma. Primeiro, o povo de Deus sofre, depois Deus castiga os poderes perseguidores.

3. A ênfase bíblica é na segurança, e não na ansiedade. Em geral, as pessoas que se preocupam com perseguição vivem aterrorizadas. Fazem exatamente o que Jesus disse que não fizessem (Lc 21:28). Nosso foco principal deve ser o próprio Cristo, que oferece esperança, e não os poderes perseguidores, que causam desespero. O aspecto mais nobre da escatologia é a segurança, não a desconfiança. Somos mensageiros da graça e da salvação, não da ameaça e do terror.

Ao ler a matéria de capa deste mês, você descobrirá algumas coisas sobre Trump e o que ele pretende fazer à frente do governo norte-americano. Porém, saiba que o mais importante é Jesus. Se a “besta” está contra você, o Cordeiro está a seu favor. Não importa o que o país do novo presidente possa fazer, você está seguro nas mãos de Deus, pois pertence ao reino eterno de Cristo.

Com esse espírito de confiança, nossa equipe lhe deseja um ano-novo de paz, alegria e realizações para a glória de Deus.

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.