A força do hábito

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Entenda a importância de fazer e repetir boas escolhas
Cerca de 40% das nossas ações não são decisões de fato, mas sim hábitos. Créditos da imagem: Fotolia

Aquela era uma sexta-feira especial no internato em que trabalho em Santa Catarina. Os alunos estavam com boa expectativa em relação ao culto e eu orava para que minha igreja fosse abençoada com a mensagem do pregador.

No fim do sermão, foi feito um apelo convidando a ir à frente todos aqueles que gostariam de ser fiéis a Deus. Entre os alunos que se levantaram estava um que nos dava muito trabalho. Ele já havia ido para a comissão de disciplina algumas vezes.

Fiquei muito feliz ao ver aquele garoto chorando, abraçado com os colegas e dizendo que gostaria de mudar de comportamento. A semana seguinte começou e, no meio dela, a triste constatação: aquele aluno infringiu mais uma vez o código de ética do internato e foi convidado a deixar o colégio.

O que aconteceu? Penso que aquele estudante foi sincero ao aceitar o apelo no sermão. O problema foi que faltou a ele a força para confirmar diariamente sua decisão e vencer suas más inclinações. E esse poder não se adquire apenas respondendo positivamente a uma mensagem, mas por meio do que gosto de chamar de hábitos espirituais.

Todo ser humano forma hábitos e são eles que, em grande medida, determinam os rumos da própria existência. William James, psicólogo e filósofo norte­-americano, escreveu em 1892 que “toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não é nada além de uma massa de hábitos”.

Charles Duhigg, autor do best­-seller O Poder do Hábito (2012), citou um artigo publicado em 2006 por um pesquisador da Universidade Duke (EUA). Segundo o autor, 40% das nossas ações não são decisões de fato, mas sim hábitos. A explicação é que o cérebro humano procura sempre economizar energia, e não pensar muito para fazer algo com que já está habituado é um bom caminho para isso.

É nesse ponto que reside a bênção ou a maldição do hábito. Depois de formado, ele domina você. É por isso que precisamos nos disciplinar para formar bons hábitos, especialmente devocionais. Na sequência, sugiro algumas dicas para tornar mais significativo seu momento com Deus.

Horário. A Bíblia apresenta alguns personagens que tinham um momento diário específico para se encontrar com Deus. Jó, por exemplo, procurava o Senhor de madrugada (Jó 1:5). Repetir o horário ajuda seu cérebro a incluir o devocional em sua rotina.

Local. Todas as vezes que você se encontra com alguém especial, o lugar daquele encontro também fica guardado na memória. Quanto à comunhão com Deus, você pode escolher um sofisticado escritório ou a sombra de uma árvore; o importante é com quem você se encontrará. Estabeleça um “santuário” particular.

Plano. Abrir a Bíblia aleatoriamente, pode ajudar numa situação ou outra, mas não contribuirá para formar um hábito saudável. É essencial que hoje você saiba qual será o trecho da Bíblia que estudará amanhã. Esse planejamento, além de orientar seu crescimento espiritual, dirá ao seu cérebro que esse compromisso é importante e criará uma expectativa positiva em relação ao seu encontro com Deus.

Oração. Embora a oração deva ser uma conversa sincera com Deus, para aqueles que se dispersam facilmente estabelecer um roteiro para a oração, por exemplo, com louvor/agradecimento/confissão/súplica, pode ajudá-lo a ter um momento mais significativo com o Pai.

Repetição. Um hábito só se forma depois de repetirmos uma ação muitas vezes, no mínimo por 40 dias. Faça esforço para manter a rotina dos primeiros quatro passos e perceba Deus atuando em sua vida por meio dos hábitos espirituais para você dominar suas más inclinações.

Mais do que estar relacionado ao sucesso profissional, cuidado com a saúde, relacionamentos e uso do tempo, a formação de bons hábitos tem implicações eternas.

É isso que destaca a escritora Ellen White, no livro Atos dos Apóstolos, página 173. Segundo ela, todos “os hábitos e paixões devem ser postos sob a mais estrita disciplina. A razão, iluminada pelos ensinos da Palavra de Deus e guiada por seu Espírito, tem que assumir o controle”.

FELIPPE AMORIM é pastor da Igreja do Instituto Adventista de Ensino de Santa Catarina (Iaesc) e autor de quatro livros, entre eles O Poder dos Hábitos Espirituais

(Texto publicado originalmente na edição de abril de 2016 da Revista Adventista)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.