A maior necessidade da igreja

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Livro apresenta a pessoa e a obra do Espírito Santo de modo profundo e cativante
O livro traz uma abordagem tão ampla quanto minuciosa. É como se oferecesse ao leitor a vista aérea de uma cidade, mas também o levasse a passear por suas ruas e becos

Sábado à tarde, no pátio de uma igreja de São Paulo, eu conversava com um amigo sobre o que cada um mais gostaria de testemunhar entre os eventos futuros. Já faz quase 20 anos, mas aquela conversa me influenciou profundamente. O que ele mais desejava era ver o reavivamento da igreja. Depois de tanto tempo, não me esqueci de seu sonho, que também se tornou o meu.

Ao editar o livro A Revolução do Espírito (CPB, 2016), de alguma forma, essas memórias foram tocadas e me senti desafiado a buscar o Consolador como nunca, junto à igreja. Somente o Espírito Santo pode realizar a mudança tão revolucionária a ponto de nos livrar de nossa miséria espiritual (Ap 3:17). Distante de exaltar qualquer teoria ou estratégia milagrosa, a essência inspiradora do livro está na famosa citação de Ellen White: “Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós é a maior e a mais urgente de todas as nossas necessidades” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 121).

A obra tem 17 capítulos, divididos em quatro seções: promessa, pessoa, prática e poder. O grande mérito de A Revolução do Espírito é a maneira tão ampla quanto minuciosa de o autor abordar o tema. É como se oferecesse ao leitor a vista aérea de uma cidade, mas também o levasse a passear por suas ruas e becos. Interpreta passagens bíblicas, assim como interliga grandes doutrinas à pessoa e obra do Espírito Santo. O conteúdo é o transbordamento de seu conhecimento mais refinado.

Outra bela característica do livro é seu enraizamento na história e na teologia adventista. Ele não propõe um modismo inconsequente nem um revisionismo histórico artificial e muito menos uma guinada para o misticismo. A começar pela frustração de 1844, ele analisa várias oportunidades de reavivamento desperdiçadas pela igreja ao longo de sua história e contextualiza de forma enriquecedora os conselhos de Ellen White dados na época.

Ron E. M. Clouzet, diretor do Instituto de Evangelismo da Divisão Norte-Americana e professor de Teologia da Universidade Andrews (EUA), demonstra que não é preciso “importar” para o adventismo uma experiência com o Espírito. Contudo, o Consolador ainda espera ser conhecido e recebido plenamente em nosso meio. Segundo o autor, uma das dificuldades para a manifestação plena do Espírito na igreja é a confusão entre fé e sentimento. O batismo do Espírito deve ser recebido pela fé, independentemente de uma “experiência real”, em suas palavras. Por sua vez, a espera pelo sobrenatural se apoia numa “interpretação sensorial dos fatos”, que é perigosa e faz parecer que o Céu está em dívida conosco (p. 126). A revolução tende a ser mais discreta do que imaginamos.

O autor também enfatiza a necessidade de quebrantamento. A ação revolucionária do Espírito não pode ocorrer sem confissão, oração persistente e até mesmo “luta” com Deus. Foi o que fizeram adventistas de Murmansk, uma cidade russa da zona polar: encontravam-se às seis da manhã e oravam em meio ao frio cortante, pedindo pelo fogo missionário do Espírito. Resultado? A minguante igreja local cresceu 1.000% e ainda deu vida a outras seis congregações (p. 32, 33).

Histórias impressionantes como a de Murmansk são a marca do livro. O camponês Gao Hung Tse, analfabeto, orou pedindo que Deus o capacitasse, de alguma forma, a pregar o evangelho, até que ouviu uma voz dizer “leia o Salmo 62”. Mike, um consagrado ancião de igreja, visitou todos os dias ao longo de seis semanas um membro dissidente afastado, orando por ele, até que o resgatou. A filha biológica de um casal de missionários suecos descobriu a história da morte precoce de sua mãe, na África. Os raros contatos evangelísticos de sua mãe com um menino da aldeia à qual não podiam ir provocaram tamanha onda de graça que, finalmente, salvou seu ex-marido prestes a morrer ateu.

O estudo bíblico, teológico e histórico do livro, entremeado com histórias tocantes num estilo agradável, convida à leitura e ao exame das Escrituras. Serve tanto para a edificação pessoal quanto para a pesquisa em grupo. As perguntas ao fim de cada capítulo são um bom guia. Sem dúvida, A Revolução do Espírito é uma das melhores referências adventistas sobre a pessoa e a obra do Consolador.

VEJA ALGUNS TRECHOS DA OBRA

“O fruto do Espírito é milagroso: tem nove sabores. Na verdade, é o amor revelado de múltiplas maneiras, assim como um arco-íris que é visto em várias cores graças à luz do sol.”

“Cristo nunca operou milagres como atalho para a fé. Para edificar a fé, Ele dava um estudo bíblico.”

DIOGO CAVALCANTI é jornalista, pastor e editor de livros na Casa Publicadora Brasileira

(Texto publicado originalmente na edição de junho de 2016 da Revista Adventista)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.