Esperança no deserto

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Em meio ao clima árido do Níger, país de maioria muçulmana, voluntários brasileiros participam de missão que resultou em batismo histórico
Grupo de estudantes do Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), que participa do programa de voluntariado no país africano

Apesar de ser o maior país do oeste da África, o árido Níger é o segundo mais pobre do mundo e o que possui o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Estima-se que dois terços de sua população vivam com menos de 1,25 dólar por dia. Como a maior parte das pessoas está concentrada em áreas rurais e pratica a agricultura de subsistência, são poucos os que conseguem ter acesso ao ensino superior. Isso explica porque o idioma oficial (francês) é falado somente por uma minoria alfabetizada. Mais de 70% dos habitantes são analfabetos ou semianalfabetos.

Nesse país de enormes desafios sociais, o cristianismo também tem dificuldade para espalhar raízes. Inserido na chamada janela 10/40, o Níger é um dos países mais islamizados do continente, já que 98,6% da população são adeptos da religião muçulmana.

Foi para esse lugar desafiador que quatro estudantes do Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), uma assistente social da Argentina e um profissional da construção civil viajaram com o objetivo de participar de uma missão durante um ano. Por meio do trabalho realizado pelos voluntários em parceria com os pastores e membros das igrejas locais, novas congregações já foram plantadas e comunidades têm sido atendidas em várias áreas.

Keilla Piqueira (à dir.), uma das voluntárias brasileiras, em visita a uma escola no interior do país. A coordenadora pedagógica das unidades mantidas pela ADRA no Níger tem auxiliado na capacitação de professores e na formulação do plano de ensino das escolas

Imersão na cultura

O trabalho pastoral se concentra em treinar as igrejas, fazer campanhas evangelísticas, ministrar estudos bíblicos e abrir novos campos de trabalho. Com o apoio dos voluntários, neste ano já foram realizados quatro evangelismos públicos e três feiras de saúde que abriram portas no país. Também está em andamento um projeto de reconstrução de casas destruídas pelas fortes chuvas que afetaram algumas partes do território nigerino no meio do ano.

É necessário muito amor e paciência para alcançar os membros da igreja e, assim, promover atividades conjuntas. “Não podemos esquecer que não estamos no nosso país. Temos que pensar como eles, entendê-los e amá-los. Nesse processo aprendemos muito e crescemos a cada dia”, afirma Poliana Silvestre, assistente administrativa no escritório da sede da igreja, localizado em Niamey. Coisas que, para a realidade brasileira são extremamente simples, como cantar uma música acompanhada de playback, ou oferecer um curso de culinária, são recebidas como grandes novidades no país.

Cenário hostil

Os missionários convivem diariamente com a insegurança de um país em que as instituições nacionais são guardadas por soldados fortemente armados. É comum ver tanques de guerra e metralhadoras nas ruas. A ameaça iminente de grupos terroristas pode ser sentida no interior do país, onde há rumores de ataques e sequestros. Há dois anos, 45 igrejas foram queimadas em todo o país (relembre clicando aqui).

Esse cenário torna desafiador o trabalho de evangelização. É preciso discrição ao ministrar estudos bíblicos. Neste ano, houve casos de pessoas que tentaram impedir programas evangelísticos e feiras de saúde, usando até mesmo a força! Mas essas dificuldades não têm desanimado os missionários. “Aceitamos o desafio com a certeza de que Deus está conosco a cada passo que damos”, afirma Felipe Rodrigues, pastor que atua como voluntário em uma das igrejas da capital, Niamey.

Batismo histórico

O mês de julho entrou para a história da Igreja Adventista no Níger. Mais de 100 pessoas foram batizadas como resultado do trabalho realizado por líderes locais e missionários estrangeiros com o apoio do Ide Go (Instituto de Disseminação do Evangelho).

As águas lamacentas de um pequeno riacho serviram de cenário para uma dessas cerimônias históricas na pequena cidade de Makalondi, onde 57 pessoas foram batizadas. Para chegar ao local, os fiéis tiveram que atravessar um grande rio. Kondjoi Kombari estava no grupo dos que desceram às águas. Para ele, o batismo representou uma nova fase em sua vida. “Não há palavras para descrever esse momento. A partir de agora, quero estreitar meu relacionamento com Jesus e permanecer firme até Sua volta”, expressou.

Grupo de 57 pessoas batizadas no mês de julho em Makalondi, que fica a aproximadamente 100 quilômetros da capital, Niamey

VEJA IMAGENS DOS BATISMOS

Adel Agbodza trabalha como obreiro bíblico na cidade e se prepara para cursar Teologia no Unasp. Seu apoio durante as campanhas evangelísticas foi de grande importância para reforçar os estudos bíblicos e orientar os membros nas crenças fundamentais da Igreja Adventista. “A população da cidade foi bem receptiva à mensagem do evangelho, o que nos ajudou. No dia do batismo, a alegria e a emoção foram muito grandes. Agradeço a Deus por nos utilizar na sua obra”, afirma. Outras quatro cerimônias foram realizadas no país, totalizando 113 novos conversos.

Igreja Adventista Central de Niamey reúne 70 membros

Apesar dos inúmeros desafios, a igreja tem crescido. Até 2015 havia somente uma congregação adventista em um país de 19 milhões de habitantes. Atualmente existem 12 igrejas e grupos e quase 200 membros. Para o pastor Davi Tavares, presidente da sede administrativa da igreja no Níger, o sucesso do trabalho se deve a um conjunto de fatores. “A mudança na estratégia de evangelização, o engajamento de obreiros mais qualificados, a ajuda dos voluntários e o suporte financeiro de amigos no Brasil fizeram toda a diferença. Unido ao poder do Espírito Santo, isso possibilitou que testemunhássemos grandes milagres”, ressalta.

É grande a necessidade de missionários no país africano. A população carece da graça, amor e paz que só Jesus pode dar. Os membros precisam de força, motivação, ajuda financeira e de pessoas que os façam acreditar que Deus pode fazer brotar esperança no coração desse povo sofrido.

WILLIAN SILVESTRE é estudante de Teologia e Jornalismo no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), e missionário no Níger

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.