O poeta e o profeta

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Os melhores editores cristãos são guardiões da mensagem profética
Foto: AdobeStock

Fui alfabetizado com os profetas, lendo a Bíblia, que é o principal produto da atividade desses homens de Deus, e logo cedo percebi a grandeza da revelação divina. Por isso, entre outros motivos, tenho um imenso respeito pela mensagem dos profetas. Gostaria que minha vida tivesse sido ainda mais moldada por eles, pois sua mensagem representa direção, sabedoria, correção moral, amplitude intelectual, profundidade espiritual e sucesso pessoal.

Profetas são pessoas comuns e extraordinárias ao mesmo tempo. São figuras que transitam pelo espaço entre o Céu e a Terra, o divino e o humano, o presente e o futuro. O profeta transcende sua geografia e sua particularidade. Ele fala para sua comunidade, seu povo e também para nações estrangeiras. É uma voz do passado para nosso tempo. Seus oráculos são condicionais e incondicionais. Às vezes exagerado, hiperbólico, angustiado, o profeta prediz o caos, mas acima de tudo proclama a esperança.

Anunciador e símbolo do maior de todos os profetas (Cristo), o profeta é a personificação da voz de Deus no meio de uma confusão de vozes competindo por atenção. Ele revela a verdade e não apresenta fake news. Questionador da cultura, crítico da sociedade, defensor dos desvalidos, tem um elevado senso de justiça social. No meio da competição de falsos deuses, ele sempre nos leva de volta ao Deus verdadeiro. Falando para o presente, ilumina o futuro e apregoa o novo. O profeta vê uma dimensão mais profunda da realidade, pois seus olhos detectam o que não podemos ver. Ele vê o mundo da perspectiva de Deus.

A mensagem dos profetas é sempre relevante, mas nem todos tinham o dom literário e poético de um Moisés, Davi ou Isaías. Por isso, alguns contaram com o talento de um redator para codificar seus oráculos. Ademais, os profetas receberam a ajuda dos escribas para preservar sua mensagem. Assim, como “escribas” modernos, os editores adventistas se sentem privilegiados em ajudar a interpretar, transmitir e proteger o legado profético.

Na Igreja Adventista, encontramos uma longa lista de grandes editores, especialmente no início do movimento, que têm procurado valorizar a mensagem profética. Escritores, e às vezes poetas, artistas das palavras que tentam captar o incaptável, definir o indefinível e descrever o indescritível, eles se apropriam também do espírito dos profetas. Procurando unir passado, presente e futuro, falam para todas as gerações. Sabem que, se não anunciarem a verdade de Deus, correm o risco de se tornarem porta-vozes das mentiras do inimigo, como ocorre com tantos influenciadores hoje.

Ao destacar aqui o papel profético em conexão com o trabalho editorial e literário, o objetivo é acrescentar outro ângulo ao merecido tributo oferecido ao querido pastor Rubens Lessa na matéria de capa, o qual ocupou este espaço por muitos anos e descansou no dia 12 de janeiro. Afinal, escritor e poeta, ele se via como um defensor da mensagem profética. Por isso, no seu último editorial da Revista Adventista, em maio de 2014, frisou: “Reafirmo minha crença na Palavra de Deus e no dom profético.” Poeta imbuído com o espírito dos profetas, ele cumpriu a missão de proclamar, com beleza, o “assim diz o Senhor”.

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

(Editorial da edição de fevereiro de 2019)

Última atualização em 22 de fevereiro de 2019 por Márcio Tonetti.