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Como avaliar o ano que passou e estabelecer metas mais realistas para os próximos 365 dias
Márcio Tonetti
Flávia Lopes de Oliveira Pinheiro, especialista em neuropsicologia pela USP. Foto: William de Moraes

O calendário nos situa no tempo, divide passado e presente, marca o ritmo da vida e delimita não apenas o começo dos meses e anos, mas também de nossos projetos e realizações. Ele igualmente influencia nossa disposição de fazer uma autoavaliação. Restringir esse balanço a um momento no ano não é o ideal, mas certamente podemos aproveitar o início de um novo ciclo para analisar o que foi feito, o que não saiu do papel e o que é necessário para estabelecer metas mais factíveis. É sobre esse assunto nossa entrevista com a psicóloga Flávia Lopes de Oliveira Pinheiro, especialista em neuropsicologia pela Universidade de São Paulo (USP).

Parece ser comum as pessoas passarem por períodos de depressão ou experimentarem crises existenciais entre o fim e o início de cada ano. Por quê?

Idealizamos muito o futuro e nós mesmos. Muitas vezes, essa idealização é sinônimo de frustração. Não que devamos ter pensamentos negativos e deixar de planejar e sonhar. No entanto, temos a tendência de querer controlar os acontecimentos. Ao perceber que as coisas fogem do controle, precisamos ter cuidado para não distorcer as experiências vividas, concentrando-nos exclusivamente no que deu errado.

Como lidar com esse tipo de frustração e renovar o ânimo, em vez de viver preso ao passado?

Primeiramente, não devemos ser perfeccionistas. Aceitar que tentativa e erro fazem parte da aprendizagem nos liberta da exigência de sucesso absoluto e da obrigatoriedade de sentir-se feliz sempre. Igualmente, é fundamental ter consciência de que o passado é um tempo que não volta mais.

De que maneira podemos aliviar a ansiedade diante do desconhecido?

Concentrar-se no presente é o primeiro passo. A ansiedade é uma sensação de aprisionamento ao futuro e de congelamento nas possíveis insatisfações. Por isso, não podemos exagerar nossas expectativas em relação ao futuro, seja positiva ou negativamente.

Nesse período, as pessoas se propõem a realizar mudanças em várias áreas. Por que a maioria desiste logo ou fica apenas no nível das intenções?

Queremos a realização dos nossos desejos de maneira rápida. E, quando a meta exige maior dedicação e determinação, a probabilidade de desistência é maior. O fato é que, ao estabelecer objetivos, geralmente vislumbramos a alegria da conquista, mas nem sempre temos noção do preço a ser pago.

Como estabelecer planos mais realistas?

Planos e metas reais estão intimamente relacionados às pessoas que conhecem melhor sua realidade e a si mesmas.

Alguns têm mais facilidade de gerenciar o tempo do que outros. Essa é uma questão simplesmente de disciplina e organização?

O tempo é nosso bem de maior valor! Para gerenciá-lo, é preciso, sim, disciplina e organização, mas também saber o que é prioritário.

As metas de longo e médio prazo são importantes, mas o que dizer dos alvos e prioridades de cada dia? Pensar neles pode nos ajudar a manter o foco no que é essencial?

A grande pergunta dentro da pergunta é: O que é essencial? Cada um de nós terá uma reposta. Ao nos depararmos com pessoas com pouco tempo de vida, temos um vislumbre do que é realmente essencial. A correria da vida e os sonhos podem nos cegar. Por isso, vale aqui o conselho de Salomão: viver sem Deus é vaidade (Ec 1:2), correr atrás do vento (Ec 2:11). Ele descobriu por experiência própria que o
essencial é viver de acordo com
o temor do Senhor (Ec 12:13).

(Entrevista publica na edição de janeiro de 2018 da Revista Adventista)

Última atualização em 15 de janeiro de 2020 por Márcio Tonetti.