Diretor de “O Silêncio de Lara” fala sobre a estreia do filme e conta que já trabalha em um novo projeto

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Produção realizada pela Igreja Adventista em parceria com o Centro Europeu busca ajudar as vítimas de abuso sexual a externalizar seu sofrimento, denunciar o agressor e buscar apoio. Nesta segunda-feira, 18 de maio, o calendário brasileiro lembra o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração de Crianças e Adolescentes
Por Jéssica Guidolin
Foto: Camila Triacca

Lançado no dia 14 de maio, em Curitiba (PR), o filme O Silêncio de Lara promete ajudar as vítimas de abuso sexual a externalizar seu sofrimento, denunciar o agressor e buscar apoio. O média-metragem conta o drama de uma adolescente de 14 anos que é molestada desde a infância e resolve acabar com o segredo que a angustiava.

A sessão de estreia, no Colégio Adventista do Portão, foi prestigiada por 800 pessoas, além dos atores e da equipe que trabalhou na produção. O filme, rodado em abril de 2014, após quatro meses de preparação, é uma parceria de alunos do curso de cinema do Centro Europeu de Curitiba com a Igreja Adventista, denominação que organiza a campanha anual de combate à violência doméstica Quebrando o Silêncio.

Nesta entrevista, o roteirista e diretor do filme, Rodolfo Barros, conta como foi a produção do média-metragem e qual é a expectativa dele sobre a contribuição do trabalho.

Por que você escolheu discutir o tema do abuso?

Tive algumas motivações. Primeiro porque nós vemos o crescimento alarmante da pedofilia no Brasil. Em segundo lugar, eu queria fazer um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que não ficasse apenas guardado na faculdade, sem utilidade, mas que servisse para a sociedade. Somado a isso, a Igreja Adventista não tinha material cinematográfico para a campanha e eu conheço algumas pessoas que sofreram abuso e cujas histórias poderiam servir de pesquisa para a criação da personagem Lara.

Desde o começo, sua intenção então foi colaborar com a igreja?

Sim, desde o início. Assim que escolhi o tema, procurei a líder da campanha para o sul do Paraná para mostrar a ideia, e ela topou na hora. Fiz tudo o que exigia um TCC, mas fui além porque visualizei uma finalidade maior para o projeto.

Como foi o processo de produção?

Fazer um filme não é simples como muita gente imagina: escrever um roteiro, pegar uma câmera e alguns atores, filmar e editar. Tem todo um processo detalhado. Primeiro é feita uma pesquisa. Por dois meses eu pesquisei sobre pedofilia. L sobre o assunto, conversei com vítimas e psicólogos. Na elaboração do roteiro contei com a ajuda de um psicólogo para modelar as questões de comportamento, fala e detalhes dos personagens.

Depois do roteiro pronto, veio a fase de pré-produção, que envolve escolha de atores e de local de gravação. A preparação foi longa, mas muito bem programada para que as gravações fossem feitas em apenas cinco dias, tendo em vista que tínhamos poucos recursos.

Quais foram seus cuidados ao tratar de um assunto tão delicado?

O tema já é forte por si mesmo, não precisava torná-lo mais pesado; por isso, procurei trabalhar o tema com suavidade e de forma poética. O filme é dramático, mas não tem aquela carga pesada de elementos chocantes. Busquei o equilíbrio de cenas e diálogos. Todo esse cuidado levou em conta que o filme foi feito pensando nas vítimas de violência, para que elas se projetassem na história e fossem estimuladas a externalizar a dor. Imagino que aqueles que não passaram por isso também vão entender com o filme o que significa o abuso para as vítimas.

Como foi o trabalho com os atores e a equipe dos bastidores?

Nenhum dos atores é adventista e o primeiro contato que eles tiveram com a igreja foi por meio desse projeto. Todos ficaram empolgados com a proposta de ajudar quem sofre; por isso, todos trabalharam voluntariamente. Eles sabiam que estavam ali com um propósito de ensinar, conscientizar, com espírito de colaboração. Isso foi muito bom. Com a equipe dos bastidores, o trabalho foi muito harmônico. Em nenhum momento houve discussões, o que é comum no set, ou perda do foco.

Qual é sua expectativa para o filme?

É de que o filme encoraje crianças e adolescentes a externalizar seus problemas de alguma maneira, seja falando para um amigo, para um parente ou até mesmo denunciando pelo disque 100 ou procurando os órgãos do governo. Espero também que pessoas comuns, que não têm proximidade com esse drama, a partir do filme estejam alertas para ajudar alguém. Muitos não querem se intrometer na vida alheia e acabam não falando, mas nesse caso é nossa obrigação moral ajudar a vítima.

O que mudou no Rudy depois desse projeto?

Eu sempre tive um propósito de vida: ver as pessoas bem. Quando vejo alguém em dificuldade, procuro ajudar de alguma forma. E quando eu ouvi as histórias de pessoas que sofreram abuso sexual, parece que esse desejo de ajudar se intensificou em mim. Eu chorei com elas, como se sentisse a mesma dor, e passei a olhar a questão de outra maneira, entendendo que as vítimas nunca são vilãs nesta história. Acho que estou mais sensível para a questão.

Você já tem um projeto novo em mente?

Eu tenho um novo projeto sobre outro drama social. A ideia é mostrar como o Clube de Desbravadores, agremiação da Igreja Adventista, pode ajudar a tirar crianças e adolescentes das drogas e da marginalidade.

Como o filme pode ser adquirido?

Esse filme é para ser usado não apenas no Paraná, mas em todo o Brasil. Igrejas, ONGs e interessados podem comprá-lo por apenas 3,50 reais pelo site www.ntstore.com.br ou por meio do telefone (41) 3094-9430.

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ASSISTA AO TRAILER DO FILME O SILÊNCIO DE LARA

Última atualização em 15 de abril de 2019 por Márcio Tonetti.