Ministérios segundo os dons

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Igreja na América do Sul lança plano de ação que busca ajudar os membros a identificar e desenvolver seus dons espirituais
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Uma das quatro ênfases da igreja na América do Sul nos próximos cinco anos será a questão dos dons espirituais. Foto: Márcio Tonetti

Um programa visionário pretende mexer com os membros da Igreja Adventista ao redor do mundo nos próximos anos. Denominado “Envolvimento Total do Membro”, o projeto irá incentivar cada adventista a ter participação ativa na pregação do evangelho. Alinhada com esse objetivo, a igreja na América do Sul também quer mobilizar seus mais de 2,2 milhões de adventistas.

O pastor Edward Heidinger, que coordenou estudos sobre esse assunto no contexto sul-americano, entende que tirar os membros da inércia é um dos maiores desafios que a igreja enfrenta na atualidade, uma vez que “aproximadamente 80% deles não estão totalmente envolvidos com seus dons espirituais de forma real”.

Mas o que pode ser feito para que um número mais significativo de fiéis se engaje de maneira prática na missão? Para Heidinger, é fundamental que haja uma ênfase especial no trabalho voltado para o desenvolvimento dos talentos de cada indivíduo. Conforme lembra o secretário executivo da Divisão Sul-Americana, há muitas razões pelas quais a igreja deve potencializar o uso dos dons. “Porém, na perspectiva adventista, o principal motivo do uso massivo dos talentos é a razão escatológica”, observa Heidinger ao comentar que a participação ativa da maioria dos membros na missão antecederá o derramamento do Espírito Santo sobre a igreja para que a missão seja concluída.

Pastor Edward Heidinger apresenta plano da igreja na América do Sul para fortalecer o engajamento missionário dos fiéis. Foto: Márcio Tonetti
Pastor Edward Heidinger apresenta plano da igreja na América do Sul para fortalecer o engajamento missionário dos fiéis. Foto: Márcio Tonetti

Como parte do plano de ação que visa a tornar “cada adventista, um evangelista”, um primeiro passo será usar a estrutura da Escola Sabatina e dos Pequenos Grupos para descobrir e desenvolver os dons espirituais. “Essas duas estruturas facilitam e viabilizam esse processo. Através das classes da Escola Sabatina e dos Pequenos Grupos esperamos ajudar os membros a entenderem qual a ferramenta que o Céu disponibilizou para eles”, afirma o pastor Everon Donato, líder do Ministério Pessoal e da Ação Solidária Adventista (ASA).

De acordo com ele, isso será feito mediante os líderes dos Pequenos Grupos e dos professores da Escola Sabatina. “Esses líderes assumirão, assim, uma visão pastoral e, ao fazerem isso, ajudarão os membros do seu pequeno rebanho a entenderem qual o papel deles no corpo de Cristo”, esclarece Donato.

“Além de reforçar que cada um desenvolva o seu ministério individual, vamos fortalecer as estruturas que reúnem pessoas e as tornam mais dispostas a desenvolverem competências necessárias para cumprir a missão”, acrescenta o pastor Edison Choque, coordenador da área de Escola Sabatina e Missão Global da Divisão Sul-Americana.

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Contudo, o rumo que a organização na América do Sul pretende seguir, a fim de buscar a participação da maioria dos membros no evangelismo, vai requerer uma mudança de mentalidade. Everon Donato explica que será necessário que a igreja passe a ter um olhar mais voltado para fora. “Os dons precisam ser identificados para edificar o corpo de Cristo e cumprir a missão onde a igreja está plantada. Ou seja, a igreja necessita estabelecer o seu foco na comunidade”, enfatiza.

Isso muda a forma como lidamos com os dons espirituais. Desse ponto de vista, se a igreja não tiver o foco na comunidade, os dons não cumprirão seu objetivo. “A igreja precisa saber quais são as necessidades que a cercam, descobrir os dons existentes na igreja, e usar esses dons para atender as necessidades da comunidade na qual está inserida”, reforça Everon Donato. Como um meio de fortalecer nos líderes da igreja essa visão, os participantes do Concílio Quinquenal receberam exemplares do livro Igreja em missão, de Jair Miranda, que mostra como a igreja pode se tornar relevante na comunidade.

Simplificando o método

A nova ênfase nos dons espirituais vem acompanhada de uma recomendação para que as igrejas simplifiquem a forma como buscam envolver as pessoas. “Queremos sair do complexo para o simples. O complexo é encher a igreja de programas; o simples tem que ver com focar na pessoa e potencializar os dons que Deus deu a ela para ministrar no reino de Deus. Isso nada mais é do que trabalhar o ‘sacerdócio de todos os crentes’, pois, se o crente é um sacerdote, ele precisa usar seus dons na edificação do corpo de Cristo”, elucida Everon Donato.

Na prática, isso significa que, em vez  de oferecer aos membros “pacotes” fechados para que eles atuem dentro das opções ofertadas, a igreja vai procurar mostrar que cada um pode transformar suas habilidades em diferentes ministérios em favor da salvação de alguém. Assim, eles poderão fazer mais e melhor.

Quanto a esse ponto, Donato acredita que os departamentos da igreja podem ampliar seu foco. “Além de ter bons projetos, os departamentos precisam potencializar aqueles dons que estão relacionados com sua área de atuação”, argumenta o líder do Ministério Pessoal da Divisão Sul-Americana.

O poder do testemunho

Para Everon Donato, há várias maneiras de incentivar os membros da igreja a descobrirem e desenvolverem seus talentos. Ele acredita, por exemplo, que os tradicionais testes têm o seu lugar, mas que não são os únicos meios. Sermões e estudos em grupo também podem ajudar a conscientizar os fiéis de seu papel na missão. Além disso, ele acredita que uma das formas mais poderosas de se alcançar esse objetivo é por meio do testemunho pessoal.

Foi por isso que, na última quinta-feira, 5 de novembro, o Concílio Quinquenal, realizado em Brasília (DF) entre os dias 3 e 7, apresentou vários exemplos de gente que está evangelizando a partir daquilo que sabe ou gosta de fazer. Além do caso de um médico e de um empresário que estão testemunhando em seus locais de trabalho, também foi apresentada a história de Josean Costa Silva, agente de sistema da companhia de água e abastecimento de Goiás que decidiu aproveitar o tempo e a oportunidade para compartilhar sua fé com os colegas de trabalho. Ele criou um grupo que já chegou a ser frequentado por até 20 pessoas e está voltado para a oração intercessora e o estudo da Bíblia. A influência desse trabalho levou Célio e Denise Macedo a conhecerem a Igreja Adventista e a tomarem a decisão pelo batismo. A cerimônia batismal foi um dos momentos marcantes do terceiro dia do evento que acontece na sede adventista para a América do Sul.

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No canto esquerdo, Josean, o funcionário que levou colegas de trabalho ao batismo. Foto: Márcio Tonetti

“Esse é um exemplo prático do que pode acontecer quando alguém leva a sério a expressão ‘meu talento, meu ministério’, que nós queremos que seja uma realidade nos próximos cinco anos”, ressaltou o evangelista Luís Gonçalves, ao realizar o batismo do casal. [Márcio Tonetti, equipe RA/Com informações de Felipe Lemos]

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.