Risco virtual

2 minutos de leitura

O impacto alarmante da conexão excessiva

Zeno L. Charles-Marcel e Peter N. Landless

Crédito: Adobe Stock

O uso excessivo de tecnologias digitais tem se tornado uma preocupação crescente. Nesse contexto, surgem expressões como “demência digital”, termo cunhado pelo neurocientista alemão Manfred Spitzer para se referir ao comprometimento cognitivo decorrente da dependência das telas. Esse problema tem afetado principalmente os jovens, cujo cérebro ainda está em desenvolvimento. No entanto, também pode afetar adultos e idosos, especialmente aqueles que adotam um estilo de vida sedentário e substituem atividades cognitivas tradicionais, como a leitura e a interação social, pelo uso de smartphones, tablets e computadores.

Entre os sintomas mais comuns da demência digital estão o esquecimento, a dificuldade de concentração e a instabilidade emocional. Com o tempo, a redução dos estímulos ao córtex pré­-frontal – região do cérebro responsável por processos como tomada de decisão, planejamento, organização, resolução de problemas e regulação emocional – pode acarretar prejuízos significativos.

Outro problema emergente é o isolamento digital, um estado de solidão ou desconexão social resultante de determinados hábitos digitais. Essa condição é paradoxal: embora os dispositivos digitais conectem as pessoas virtualmente, muitas vezes provocam a diminuição das interações presenciais e dos relacionamentos significativos. O problema afeta um amplo espectro demográfico: de crianças imersas em jogos eletrônicos e adolescentes engajados nas redes sociais até idosos que, embora utilizem ferramentas digitais de comunicação, sentem falta da companhia física.

Devemos praticar a higiene digital, estabelecendo horários de desconexão, utilizando aplicativos de gerenciamento de tempo e priorizando a comunicação presencial

Entre os sintomas do isolamento digital estão o retraimento emocional, a depressão, a ansiedade e a sensação de afastamento da família ou da comunidade. Para os idosos, especialmente aqueles que não estão familiarizados com as novas tecnologias, o isolamento pode ser ainda mais severo, frequentemente resultando em carência de apoio social e aumento do risco de transtornos mentais.

A prevenção e o tratamento desses problemas exigem mudanças comportamentais e apoio social. Campanhas de alfabetização digital e conscientização são essenciais para alertar sobre os riscos da conexão ininterrupta. Para crianças e adolescentes, é fundamental estabelecer limites para o tempo de contato com as telas, promover atividades ao ar livre e incentivar brincadeiras criativas e interações presenciais. Por isso, muitas escolas estão restringindo o uso de celulares e adotando períodos “livres de tecnologia” para estimular o desenvolvimento cognitivo e social.

Devemos praticar a higiene digital, estabelecendo horários de desconexão, utilizando aplicativos de gerenciamento de tempo e priorizando a comunicação presencial. A meditação na Palavra de Deus, juntamente com exercícios de estimulação cerebral, como jogos de memória, leitura e o aprendizado de novas habilidades, contribuem para reverter os efeitos do contato excessivo com as telas. Para os idosos, o apoio comunitário, a capacitação digital e as oportunidades de socialização são fundamentais para evitar o isolamento.

Portanto, considerando que o uso desequilibrado de dispositivos digitais pode acarretar sérias consequências cognitivas, emocionais e sociais, a adoção de medidas proativas em todas as faixas etárias é essencial para promover hábitos mais saudáveis e preservar o bem­-estar na era digital. 

ZENO L. CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor do Ministério de Saúde na Associação Geral; PETER N. LANDLESS é cardiologista e diretor emérito do mesmo departamento

(Artigo publicado na Revista Adventista de julho/2025)

Última atualização em 29 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.